Saiba por que ele já é, com 16 anos, o melhor atleta nacional no ranking mundial amador
Daniel da Costa Rodrigues é um caso muito sério do golfe amador português. Um pouco à semelhança do que foi Pedro Figueiredo e do que ainda é Pedro Lencart. “Dani” tem a particularidade de ser um jogador terrível. Quando sente que se lhe cravou um espinho no organismo, quando se lhe depara uma contrariedade, reage de forma demolidora para com esse corpo estranho. É um pouco como se fosse o Hulk, o super-herói. Neste caso, o Hulk do golfe português. Cada vez mais investido de super-poderes.
Com apenas 16 anos é já o “maior” atleta nacional no ranking mundial amador: graças à vitória de sábado no 89.º Campeonato Internacional Amador de Portugal – Homens, subiu 150 lugares, de 267.º para 117.º. Ultrapassou assim Pedro Lencart, (142.º) como o melhor português na tabela. O que têm estes dois atletas em comum? São ambos produtos do Club de Golf de Miramar, mais concretamente do treinador Nelson Ribeiro, um profissional de muita ciência que mostra assim também ele toda a sua capacidade para lapidar diamantes – e mais vão aparecer.
Não ganhar não é com Dani – e por isso talvez a melhor coisa que lhe aconteceu, antes do triunfo no Montado, tenha sido a forma como Pedro Silva, seu companheiro de Miramar, lhe roubou a vitória no 1.º Torneio do Circuito Cashback World no domingo de 10 de Fevereiro, no Onyria Palmares Beach & Golf Resort. Num dos mais espectaculares duelos da história do golfe amador nacional, Pedro Silva, também de Miramar, fez um eagle 3 no 36.º e último buraco regulamentar para ganhar pela margem mínima. Hulk, perdão, Dani tinha partido para a segunda e última volta a liderar com duas pancadas de vantagem sobre o seu rival, finalizou com 68 (-4) e mesmo assim não foi suficiente.
“O Dani merecia um pouco mais, o último buraco foi desesperante para ele”, comentou Pedro Silva, que partira para o último buraco com a desvantagem mínima para o seu fellow competitor e operou a reviravolta com 3 no 18, finalizando com 65.
A resposta de Dani começou a ser dada três dias depois, na jornada inaugural do Internacional de Portugal: uma volta imaculada com 3 birdies e 15 pares, 69 pancadas, 3 a colocá-lo . Quando mais jogadores, entre os 120 em prova, tiveram uma volta sem qualquer bogey? Só mais um – o norueguês Bard Skogen, que viria a terminar a prova em 4.º.
Veja-se o que aconteceu depois no segundo dia. Com 67, num dia em que o vento soprou com intensidade, fez a melhor volta a par de outros dois jogadores e subiu para a co-liderança com Charles Thornton. Mas isto não foi feito de uma forma qualquer, foi à Hulk. O combustível foi buscá-lo ao bogey e duplo bogey sucessivos no seu quarto e quinto buracos de jogo (tinha começado do 10). Cresceu exponencialmente, a roupa soltou-se-lhe do corpo e… fez oito buracos nos 10 buracos seguintes, incluindo cinco consecutivos (18-1-2-3-4). Provavelmente, nunca se viu nada assim no Internacional de Portugal.
Agora estava na frente, e o seu discurso assentava já no objectivo-vitória, jamais duvidando da força que tem por dentro. Então, no terceiro dia foi assim: primeiros 11 buracos tranquilos, com 8 pares e 3 birdies. Como é que respondeu ao primeiro bogey, no 12? Com birdie no 13. E como é que respondeu ao segundo bogey, no 14? Com eagle 3 no 15 e birdie no 16. Não brinquem com ele…
Chegados a este ponto, quase que seríamos levados a crer que a série de bogey-bogey a fechar a terceira volta, em ambos os casos com greens a três putts, foi propositada, para ir mais forte para o último dia. O importante é que, com uma terceira volta de 69 (só três jogadores fizeram melhor), se mantinha na liderança, mas já isolado, com duas de vantagem sobre o inglês Laurie Owen.
Vamos para a última volta, no passado sábado. Quatro birdies nos primeiros sete buracos! Estamos conversados? Só um momento crítico para o português, quando fez bogeys nos buracos 15 e 16 contra os birdies de Laurie Owen, que assim lhe conquistou quatro pancadas em dois buracos. Mas Dani faria birdie no 17 (Par 5), após um fabuloso terceiro shot do bunker que deixou a bola dada. E no 18, naquele belo Par 3 do Montado com um green em ilha, fez um Up&Down do bunker para fechar com Par. Com volta final de 69, para um total de -13, ganhou por três de vantagem sobre Laurie Owen e o francês Lucas Abrial.
O Hulk deixar-se ultrapassar quando está na frente da corrida? Isso só acontece na ficção da banda desenhada.