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Hugo Pinto: “O golfe vai afirmar-se como desporto de futuro”
Hugo Pinto na segunda-feira depois da entrevista dada ao GolfTattoo © GOLFTATTOO

Director do Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor fala sobre o regresso da modalidade

Findo o Estado de Emergência, os campos de golfe começam a reabrir. O do Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor (CNFGJ) fê-lo logo na segunda-feira, assinalando o momento, de forma simbólica, com uma primeira partida “de luxo” que integrou o presidente da Federação Portuguesa de Golfe, Miguel Franco de Sousa, e os jogadores profissionais Susana Mendes Ribeiro, Pedro Figueiredo e Tomás Silva. O GolfTattoo marcou presença no local e constatou que as saudades por parte dos praticantes eram muitas – o campo está com uma taxa de ocupação de mais de 90 por cento e as reservas não param de chegar.

Sem qualquer marcação prévia, contámos com a disponibilidade do director do CNFGJ, Hugo Pinto (também treinador nacional adjunto), para uma conversa informal sobre o reatar da actividade. Elogiando o excelente trabalho de comunicação da FPG durante este dois meses de paragem, assume sem receio o estar na linha da frente na abertura de instalações desportivas, com muita responsabilidade e consciência, dada a incerteza do futuro e do desenvolvimento da pandemia do coronavírus. Mas considera que o golfe vai capitalizar e agarrar esta oportunidade para ser uma modalidade responsável e de futuro.

GOLFTATTOO – Os primeiros dias pós-Estado de Emergência, com a consequente retoma da prática do golfe desde segunda-feira 4 de Maio, vão ser de casa cheia no CNFGJ?

HUGO PINTO – Sim, dentro das medidas e restrições que temos. Estamos a organizar tee times com quatro jogadores. Aumentámos o espaço entre formações para 15 minutos. Reduzimos também o horário de abertura, para fazermos um bom controlo à entrada do centro. Em vez de abrirmos às 7h30, como era habitual, optámos por abrir às 10h, com fecho às 19h. Temos reservas até domingo com uma taxa de ocupação elevadíssima. As reservas que apareçam de domingo para a frente são condicionadas à disponibilidade e a uma eventual reorganização da nossa operação, se entretanto saírem outras medidas de controlo.

Reparei que há controlo à entrada do Centro…

Só entra quem vem para jogar ou quem vem para treinar. Nós sabemos que o golfe é uma modalidade que convida à socialização, mas estes tempos não são compatíveis com isso. Estamos abertos na perspectiva de oferecer/proporcionar um campo de treino em excelentes condições, com segurança, e um campo de jogo que não passou por nenhuma paragem na sua manutenção. Não podemos dar abertura e sugerir momentos de grande socialização. Assumimos, como rosto de uma estratégia bem fundamentada da Federação Portuguesa de Golfe, o cumprimento por todas as medidas já apresentadas, sem receio de actuar com excesso de zelo.

É por isso que temos de ter um controlo à entrada, para não deixar que as pessoas fiquem a conviver umas com as outras, por muito que isso custe, e custa. Custa-nos a nós também – somos nós que estamos a aplicar as regras que foram discutidas e aprovadas pela FPG. Custa-nos muito não haver esse lado social do golfe, mas durante alguns tempos vamos ter de agir com rigor e responsabilidade.

Devo também sublinhar que todos os praticantes que entram no Centro para jogar no campo têm de ter reserva prévia e confirmada. Temos também o staff a controlar a taxa de ocupação do driving range, de forma a que não haja formação de grupos de espera, potenciais focos de risco. O driving range está a funcionar com metade do número de baias, havendo alternância entre baia activa e baia fechada.

Que outras mudanças é que houve?

Nós temos bandeiras [que são facultativas] e temos uns discos nos copos, que fazem com que a bola não entre totalmente no buraco. Assim é mais fácil recuperar a bola sem tocar bandeira e ou no copo. Fizemos também outras alterações: tirámos todas as estacas das áreas de penalidade e marcámo-las com spray. Todas as áreas de penalidade estão bem marcadas aqui no Jamor, não deixou de ser um campo de formação, um campo preparado para a aprendizagem. Contámos com o apoio do Departamento Técnico na preparação e marcação do campo, resultado de um trabalho entre departamentos notável.

Temos também marcas nos tee’s a sugerir a distância de segurança entre jogadores à espera da sua vez para a pancada de saída. Estas referências criadas no campo têm um objectivo formativo, reforçando todas as indicações dadas pelo staff.

A remoção das estacas não será um preciosismo?

Pretendemos com estas alterações diminuir o foco de transmissão, anulando a quantidade de superfícies de contacto no campo. Os lava-bolas foram também removidos do campo. No driving range selámos todos os bancos e removemos o mobiliário de apoio ao Jamor Toptracer. A incerteza do futuro e do desenvolvimento desta pandemia leva-nos a agir com muita responsabilidade e consciência. A solução pode estar nos pormenores, e não abdicamos dessa oportunidade.

E na recepção da clubhouse como se desenrolam as operações?

A recepção está limitada a três utentes, devidamente separados pela distância de segurança e com uso obrigatório de máscara. Preparámos um conjunto de sinais informativos para que o cumprimento da sequência de atendimento e a protecção de todos sejam mais fáceis. Estamos a sugerir que os utentes utilizem MB Way ou cartão com contacto, e estamos a trabalhar exclusivamente com os cartões recarregáveis para as bolas. Montámos um circuito de entrada e saída por portas diferentes, impossibilitando o cruzamento de utentes.

O horário das 10h às 19h é para manter até quando?

Não temos nenhuma data definida à partida. Estamos a viver tempos difíceis com um elevado grau de imprevisibilidade. O nosso trabalho é responder com soluções eficazes.

A nossa equipa está preparada para trabalhar com estes condicionalismos, porém sabemos que serão tarefas e procedimentos mais fatigantes, com maior desgaste, e por isso a diminuição do número total de horas em funcionamento, garantia de um atendimento e de um acompanhamento com competência.

Estimamos não haver nenhuma alteração antes do primeiro momento de avaliação da DGS. 

Devemos acompanhar o cronograma das autoridades de saúde e confiar nesse processo de avaliação permanente da situação. Abrimos hoje e estamos ainda a observar e monitorizar parâmetros de operação que possam num futuro próximo sustentar alguma alteração.

Para verem como as coisas evoluem…

Sim. Este primeiro dia deu-nos um feedback muito positivo, quer pelas medidas implementadas, quer pelo nível de compreensão dos utentes que frequentaram o CNFG. Os utentes têm manifestado um sentido de responsabilidade notável. Temos recebido com muito agrado elogios às medidas tomadas e à acção da Federação Portuguesa de Golfe durante este longo período de confinamento. Se o tempo já andava acelerado, com esta realidade ainda acelerou mais. Temos de estar preparados para a mudança imediata, temos de ter ferramentas adequadas à resposta eficaz. Isso consegue-se com compromisso e trabalho, não estar à espera dos outros para decidir. Assumimos sem receio estar na linha da frente na abertura de instalações desportivas e agarrar esta oportunidade para afirmar o Golfe com uma modalidade desportiva responsável e de futuro.

Não foi necessário chamar a atenção de ninguém neste primeiro dia?

Não. Estamos num centro de formação, e a palavra formação lança-nos para a educação como mote. Todos os procedimentos e todas as práticas definidas são testadas, são treinadas. Tivemos alguns momentos de treino do nosso staff, alguns momentos de formação, pelo que estamos preparados, quer do ponto de vista da acção, quer do ponto de vista do discurso.

Temos de registar o comportamento exemplar dos nossos utentes na compreensão das restrições impostas e nas decisões tomadas para a sua própria protecção.

Numa perspectiva de intervenção holística, não nos satisfaz apenas ensinar e acompanhar treinos de Golfe, temos também a responsabilidade de passar mensagens e valores de comportamento social, de responsabilidade colectiva. O Golfe é um veículo excelente para essa função.

Nas formações há algum apelo para que as pessoas no campo não estejam muito juntas?

Sim, temos dois momentos de apelo e sensibilização para o cumprimento da distância de segurança, na entrada e na recepção, no ato de check-in.

Estão também afixados em vários locas os cartazes elaborados pela FPG, com o Comportamento Adequado do Praticante no Contexto Covid-19.

Como é que vai ser em termos de aulas?

Vamos a voltar às sessões de treino com acompanhamento técnico no dia 6 de maio. Não vai haver alteração no nosso funcionamento, porque curiosamente já tínhamos intervalos de 15 minutos entre sessões. Vamos aplicar as normas de distanciamento, o uso obrigatório de máscara e não utilizaremos materiais didáticos de apoio ao ensino.

No que respeita ao projecto de formação da Escola Nacional de Golfe, trabalharemos em grupos mais reduzidos, até 5 atletas.

Vamos reduzir a frequência dos treinos com acompanhamento técnico e estaremos mais próximos no controlo e na avaliação do trabalho em autonomia.

Uma vez que temos o driving range com metade do número de baias para treino livre, utilizaremos o lado oposto para as sessões de treino. Dispomos de uma boa solução com um green, dois bunkers, área para aproximações e um tee com 8 tapetes.

Estamos a trabalhar no planeamento técnico de forma a manter o volume de treino, as acções de controlo e avaliação e o acompanhamento individual dos processos.

Fizemos uma mudança considerável na periodização da época, ainda com algumas incógnitas pela ausência de quadros competitivos.

Continuamos muito motivados em desenvolver programas mensais de treino para adultos, respeitando todos os níveis de prática e motivações, actividades para grupos até cinco praticantes, e actividades de promoção e entrada na modalidade.

Já há muitas reservas?

Há reservas para o treino acompanhado e curiosamente alguma procura por quem nunca jogou Golfe. Teremos um importante papel neste momento na angariação de novos praticantes.

O mediatismo da modalidade hoje em Portugal e no mundo tem de ser capitalizado. A FPG tem feito um trabalho excecional de promoção da modalidade, demonstrando as suas vantagens, os seus pontos fortes e o seu potencial nos meios de comunicação. Nunca se falou tanto em Golfe e pelos melhores motivos.

Dentro do mal que tudo isto representa, o golfe poderá sair beneficiado desta situação?

O golfe para já sai beneficiado pela imagem que conseguiu dar de trabalho, competência e profissionalismo – e isso é fruto sobretudo da política de intervenção durante esta pandemia por parte da FPG, sobretudo do seu presidente, Miguel Franco de Sousa.

Todas as estratégias que foram definidas desde que começámos a ter este problema foram estratégias muito bem pensadas, muito bem elaboradas, muito bem fundamentadas, que só poderiam dar um bom resultado.

A par destas estratégias, foi feito um trabalho de comunicação brilhante. O gabinete de marketing e comunicação da FPG tem sido extraordinário.

É nossa obrigação fazer um exercício de reforço e elogio quando há boas práticas e trabalho. Nunca se sai bem de uma crise se não canalizarmos a nossa atenção para o que de bom foi feito.

As comunicações saíram em tempo certo, em tempo útil e nos meios adequados – e esse é um trabalho que está agora a dar frutos. Este período foi aproveitado para transformar a imagem do golfe, que deixou de ser visto como no passado, um parente afastado do Desporto.

Para além disso as pessoas despertaram para uma actividade ao ar livre, para uma actividade onde há espaço e sensação de liberdade.

As oportunidades podem surgir naturalmente (às vezes pelos piores motivos) ou podem ser criadas.

A nossa missão é juntar estas duas formas e dar corpo ao futuro da modalidade, num mundo muito diferente ao que conhecíamos há dois meses atrás.

O Golfe tem tudo a ganhar, o Golfe vai ganhar.