“A nossa sustentabilidade não estará em causa”, assegura o dirigente do mais antigo clube de golfe português
Se os desejos do Presidente da República e do Governo se concretizarem, estamos na última semana com o país em estado de emergência e tem-se falado cada vez mais da possibilidade de o golfe ser uma das modalidades a iniciar mais cedo parte da sua atividade normal, embora sujeito às necessárias contingências decorrentes das normas da Direção Geral de Saúde para o combate à COVID-19.
Durante um mês e meio de estado de emergência o golfe deparou-se com uma profunda crise, cujas consequências estão ainda a ser agora elencadas pelas diversas instituições que gerem ou representam a modalidade, sobretudo os campos e clubes, que viram as suas receitas caírem a 100% no mês de abril.
A Federação Portuguesa de Golfe (FPG) tem estado particularmente ativa com comunicados regulares, que inicialmente visaram cancelar todas as competições, depois algum alívio às tesourarias dos clubes, seguindo-se contactos com as mais diversas instituições da administração central, no sentido de comprovar que o golfe tem condições de iniciar parte da sua atividade mal seja possível. A FPG foi mesmo uma das quatro únicas federações desportivas nacionais a apresentar, no final da semana passada, um plano de retoma de atividade à secretaria de Estado do Desporto e Juventude e ao Instituto Português do Desporto e Juventude.
Através do seu departamento de comunicação, a FPG tem mantido um contacto próximo com o meio do golfe nacional, através de notícias, vídeos e demais informações em várias redes sociais. O seu presidente, Miguel Franco de Sousa, tem-se desdobrado em entrevistas e até mesmo num artigo de opinião em diversos media tradicionais (televisão, jornais impressos e jornais online).
Mais recentemente, ontem, segunda-feira, a FPG enviou aos seus membros, designadamente aos clubes, um documento intitulado “Plano de Reabertura de Instalações de Golfe”. Está datado de 24 de abril, foi enviado ao Governo na sexta-feira passada e é o resultado de um trabalho conjunto com o Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG), a Associação de Gestores de Golf de Portugal (AGGP) e a Associação Portuguesa de Greenkeepers (APG).
Outras instituições têm estado igualmente com grande dinamismo e há vários debates e webinars que têm sido levados a cabo durante estas semanas, abordando um espectro de temas bastante alargado.
O Golftattoo, sempre com o apoio do Público Online, não poderia alhear-se a este fluxo de informação que visa trazer ao espaço público a real dimensão do problema com que se deparam os campos e os clubes, naquela que poderá vir a ser conhecida como a maior crise mundial desde a grande depressão de 1929 ou desde a segunda guerra mundial que terminou em 1945.
Nesse sentido, o Golftattoo elaborou um questionário que enviou a alguns clubes e/ou campos. Procurámos exemplos dos chamados clubes com campo, clubes sem campo, campos comerciais que têm clubes associados, campos com hotel, campos sem hotel, enfim, sem uma pretensão científica, esperamos ter atingido uma amostra significativa.
O primeiro clube a responder ao nosso repto foi o mais antigo de todos, o Oporto Golf Club, através do seu presidente, Manuel Violas, que é igualmente presidente da Solverde e presidente do Conselho de Administração do Super Bock Group.
Manuel Violas é um praticante de qualidade elevada e já foi campeão nacional de seniores (a nível amador). Como dirigente desportivo integrou a Direção da FPG e como empresário tem apoiado fortemente a modalidade. Basta dizer que a Solverde, para além de ter um circuito próprio, patrocina vários eventos, comerciais ou de alta competição, com grande destaque para o Campeonato Nacional PGA (de profissionais) e o Campeonato Nacional de Clubes (de amadores), enquanto a Super Bock é um dos ‘sponsors’ do Portugal Masters, do European Tour.
1 – O que representou, quantitativamente, em termos de viabilidade e subsistência dos clubes/campos este período de estado de emergência?
O facto de o Oporto Golf Club (OGC) ser um clube de golfe, isto é, de serem os sócios os donos do clube, faz com que estejamos menos dependentes do que os campos de golfe que dependem exclusivamente das receitas dos seus jogadores. É evidente que estes quase dois meses afetaram o nosso clube, mas se a reabertura for para breve, e esperamos todos que assim aconteça, a nossa sustentabilidade não estará em causa.
2 – Que receitas conseguiram os clubes/campos durante este período que irá ser de um mês e meio?
O clube teve em exclusivo as receitas das quotas dos seus sócios.
3 – Que despesas/investimentos teve o clube/campo durante este período que irá ser de um mês e meio?
As despesas foram essencialmente de dupla natureza: os salários dos nossos funcionários e a manutenção do campo.
4 – Que tipo de manutenção os campos conseguiram fazer neste período e em que estado os campos se encontram neste momento? Quantos funcionários de trabalho presencial foram necessários durante este período? E quantos funcionários estiveram em trabalho em casa/teletrabalho.
O OGC aproveitou para antecipar um pouco a furação dos greens, que é necessária nesta altura do ano, fazendo operações mecânicas, e não deixou de assegurar a restante manutenção geral do campo, pois essa não pode ser descurada, para estar nas melhores condições quando for necessário abrir.
O OGC trabalhou com cerca de 80% da sua equipa, aproveitando para dar férias alternadas ao restante pessoal. O pessoal administrativo esteve quase em exclusivo em casa, em teletrabalho. Dos funcionários de campo compareceram os tais 80%, fazendo, sempre que possível, trabalhos individuais, a fim de evitarem qualquer contágio entre eles.
5 – Foi possível pagar os ordenados na íntegra a todos os colaboradores com diferentes vínculos contratuais? Foi negociado com os colaboradores alguma redução salarial? Foi contemplada a hipótese de entrar em layoff?
O OGC não recorreu até agora ao layoff, tendo acordado com os seus funcionários o escalonamento possível de férias. Se a situação se alongar teremos, eventualmente, de rever esta situação, mas esperamos que tal não seja necessário.
Os salários foram todos pagos na íntegra, com a exceção dos funcionários que, por estarem confinados no concelho de Ovar, viram o Estado assegurar a sua remuneração.
6 – Que preocupação os campos/clubes teve com a manutenção de comunicação com os seus clientes/sócios durante este período? E com instituições relevantes (FPG, Associação Regional, Autarquia, Direção Regional de Saúde, agências, operadores, etc.)?
Foi não só comunicado aos nossos sócios através do nosso site, como foi enviado um email explicando a situação.
Também tivemos conversações com a FPG, bem como com a autarquia, agências e operadores.
Aguardamos poder comunicar em breve aos sócios a nossa reabertura e as regras que todos teremos de seguir para evitar qualquer contágio e assegurar o máximo de segurança aos sócios.
7 – Concorda com a solicitação da FPG às autoridades de o golfe ser considerado uma das primeiras modalidades desportivas a reabrir portas?
Concordo a 100%. O golfe deve ser não só um dos desportos com menos risco de transmissão da COVID-19, pois é praticado numa zona ampla de 50 a 60 hectares de ar livre, como não existe qualquer contacto entre os praticantes.
É um desporto muito seguro, estando as pessoas bastante distantes, seja praticado em formações de duas ou de três pessoas. Não vejo nenhum perigo.
Além disso, é recomendado pois é a única atividade física que muitas pessoas fazem e conseguem percorrer oito a dez quilómetros, o que é benéfico para a sua saúde.
Para concluir, diria que é muito mais seguro jogar uma partida de golfe com o seu parceiro do que ir com o seu parceiro a um supermercado.
8 – Como está a ser preparada a reabertura de atividade? Que alterações prevê em relação ao habitual funcionamento do clube/campo anterior à COVID19? Quais as prioridades/preocupações em termos de vendas, mercados de destino, campanhas de comunicação para os mercados internos e externos?
A nossa preocupação na nossa possível reabertura é exclusivamente a proteção dos sócios. Na fase inicial, a nossa única preocupação será estabelecer um certo número de regras e termos a certeza de que quem vai visitar o OGC não corre nenhum risco.
A FPG irá ditar um número de regras e nós iremos acrescentar as nossas próprias se virmos que tal é necessário.
Esperemos que seja para breve, mas a nossa preocupação exclusiva, na fase inicial, é a segurança e a saúde dos nossos sócios e de quem nos visita.
9 – Que planos os clubes/campos têm em relação ao calendário competitivo que teve de ser suspenso/cancelado e em relação ao calendário competitivo que ainda possa vir a ser efetuado até ao final do ano?
As provas do clube serão um problema, pois perdemos dois meses de provas e o nosso clube tem muitas competições, quase todos os fins de semana.
Quase de certeza não iremos conseguir realizar todas as provas do clube, algumas terão de ser canceladas, mas tentaremos, obviamente, fazer o máximo possível.
Vamos dar prioridade às mais importantes como por exemplo a Skeffington Cup – essa terá de ser realizada –, e depois, em relação aos torneios patrocinados, evidentemente, alguns terão de ser efetuados, pois são uma fonte de receita importante para o clube.
Vamos tentar gerir da melhor forma, há já uma equipa diretiva a trabalhar nesse capítulo, para combinar as provas de clube com as patrocinadas, de modo a que o clube não seja prejudicado, sobretudo num ano em que já sofremos com praticamente dois meses de encerramento.