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Inquérito Golftattoo: Alexandre Barroso, diretor de golfe do Troia Golf
30/04/2020 07:26 Hugo Ribeiro / GolfTattoo
Alexandre Barroso no green do buraco 18 de Troia, com a clubhouse em fundo © FILIPE GUERRA / MEDIA GOLF

"O golfe tem todas as condições para se jogar sem risco de contágio"

O Governo anunciou nesta quarta-feira a reabertura de alguma atividade desportiva e prevê-se que o golfe possa estar de novo acessível a todos os praticantes, embora com bastantes limitações.

A Federação Portuguesa de Golfe (FPG) já tinha envido na segunda-feira aos seus membros, designadamente aos clubes, um documento intitulado “Plano de Reabertura de Instalações de Golfe”.

Está datado de 24 de abril, foi enviado ao Governo na sexta-feira passada e é o resultado de um trabalho conjunto com o Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG), a Associação de Gestores de Golf de Portugal (AGGP) e a Associação Portuguesa de Greenkeepers (APG).

Se os desejos do Presidente da República e do Governo se concretizarem, estamos na última semana com o país em estado de emergência e tem-se falado cada vez mais da possibilidade de o golfe ser uma das modalidades a iniciar mais cedo parte da sua atividade normal, embora sujeito às necessárias contingências decorrentes das normas da Direção Geral de Saúde para o combate à COVID-19.

Durante um mês e meio de estado de emergência o golfe deparou-se com uma profunda crise, cujas consequências estão ainda a ser agora elencadas pelas diversas instituições que gerem ou representam a modalidade, sobretudo os campos e clubes, que viram as suas receitas caírem a 100% no mês de abril.

A FPG tem estado particularmente ativa com comunicados regulares, que inicialmente visaram cancelar todas as competições, depois algum alívio às tesourarias dos clubes, seguindo-se contactos com as mais diversas instituições da administração central, no sentido de comprovar que o golfe tem condições de iniciar parte da sua atividade mal seja possível. A FPG foi mesmo uma das quatro únicas federações desportivas nacionais a apresentar, no final da semana passada, um plano de retoma de atividade à secretaria de Estado do Desporto e Juventude e ao Instituto Português do Desporto e Juventude.

Através do seu departamento de comunicação, a FPG tem mantido um contacto próximo com o meio do golfe nacional, através de notícias, vídeos e demais informações em várias redes sociais. O seu presidente, Miguel Franco de Sousa, tem-se desdobrado em entrevistas e até mesmo num artigo de opinião em diversos media tradicionais (televisão, jornais impressos e jornais online).

Outras instituições têm estado igualmente com grande dinamismo e há vários debates e webinars que têm sido levados a cabo durante estas semanas, abordando um espectro de temas bastante alargado.

O Golftattoo, sempre com o apoio do Público Online, não poderia alhear-se a este fluxo de informação que visa trazer ao espaço público a real dimensão do problema com que se deparam os campos e os clubes, naquela que poderá vir a ser conhecida como a maior crise mundial desde a grande depressão de 1929 ou desde a segunda guerra mundial que terminou em 1945.

Nesse sentido, o Golftattoo elaborou um questionário que enviou a alguns clubes e/ou campos. Procurámos exemplos dos chamados clubes com campo, clubes sem campo, campos comerciais que têm clubes associados, campos com hotel, campos sem hotel, enfim, sem uma pretensão científica, esperamos ter atingido uma amostra significativa.

Hoje publicamos as respostas do Troia Golf, o campo de golfe que acolheu a última competição internacional de golfe a realizar-se em Portugal, antes de serem encerrados todos os campos de golfe nacionais. Tratou-se do The Tour Championship do Portugal Pro Golf Tour, que foi reduzido de três para duas voltas já por causa da pandemia e do combate à COVID-19.

O seu diretor de golfe, Alexandre Barroso, é dos dirigentes desportivos mais conceituados em Portugal, sendo o atual presidente da Associação de Gestores de Golfe de Portugal.

Licenciado em Gestão de Campos de Golfe pela Universidade do Algarve, foi diretor de golfe durante dois anos no Clube de Golfe da Ilha Terceira, sete anos no Vidago Palace, dois anos em Praia D'el Rey e no West Cliffs onde também se ocupou da área comercial. Está desde 2018 no Troia Golf.

Como dirigente político da modalidade, adquiriu larga experiência antes da presidência da AGGP como membro da Direção do Oporto Golf Club durante três anos e da Associação de Golfe do Norte de Portugal durante sete anos.

Foi um jogador amador de bom nível e fez parte da seleção nacional da Federação Portuguesa de Golfe (FPG) durante vários anos. Sagrou-se campeão nacional de clubes pelo Oporto Golf Club duas vezes, campeão nacional de pares mistos por duas vezes (com Branca Ferreira) e vice-campeão nacional de pares masculinos em outras duas ocasiões (com José Granja).

Nesta fase de confinamento tem aparecido a moderar debates em vídeo conferências da responsabilidade da AGGP com gestores de golfe internacionais e outros agentes ligados ao turismo que transmitem a experiência do combate à COVID-19 nos seus países. 

1 – O que representou, quantitativamente, em termos de viabilidade e subsistência do clube/campo este período de estado de emergência?

Em termos económico-financeiros esta crise tem sido dramática. Vamos ter dois meses sem qualquer receita, no mês de março tivemos quebras de 60%, e prevê-se que o verão haja quebras na ordem dos 70%, com algumas quebras também já previstas para o outono. Espero uma quebra neste ano na ordem dos 65% em relação ao ano passado, o que é fatal. 

2 – Que receitas conseguiu o clube/campo durante este período que irá ser de um mês e meio?

Durante abril as receitas foram zero, mas, como disse, as perspetivas são de que no final do ano as quebras atinjam 65% na receita.

3 – Que despesas/investimentos teve o clube/campo durante este período que irá ser de um mês e meio?

Os investimentos estão parados. Houve alguma redução de despesas, nomeadamente de eletricidade. A ajuda que o Governo está a dar com o layoff é na ordem de 30% das despesas que temos com o pessoal. Essa ajuda é boa, como é evidente, mas todas as outras despesas de manutenção do campo e das máquinas, de água, eletricidade, água de rega mantêm-se. Isto foi assim durante um mês e meio. No resto do ano, se o layoff não for prolongado e se não conseguirmos ter menos pessoas a trabalhar, irão manter-se as despesas todas. 

4 – Que tipo de manutenção o campo conseguiu fazer neste período e em que estado o campo se encontra neste momento? Quantos funcionários de trabalho presencial foram necessários durante este período? E quantos funcionários estiveram em trabalho em casa/teletrabalho. 

Neste momento conseguimos fazer algumas manutenções, nomeadamente a furação dos greens. Neste período de layoff temos somente três pessoas a trabalhar para fazerem o mínimo. A furação foi efetuada logo nos primeiros 15 dias do estado de emergência e agora temos as equipas só a fazer cortes esporádicos e tratamentos de algumas infestantes/fungos, que aparecem nesta altura, e rega.

Em teletrabalho estou somente eu, com redução de horário. Tudo o resto está em layoff.

5 – Foi possível pagar os ordenados na íntegra a todos os colaboradores com diferentes vínculos contratuais? Foi negociado com os colaboradores alguma redução salarial? Foi contemplada a hipótese de entrar em layoff? 

Foi possível pagar na íntegra aos colaboradores o mês de março, entrámos em layoff no dia 10 de abril e o layoff está decretado, para já, até ao dia 9 de maio. Não tivemos colaboradores com redução salarial, a não ser a minha exceção, em que houve redução de horário de trabalho e horário.

6 – Que preocupação o campo/clube teve com a manutenção de comunicação com os seus clientes/sócios durante este período? E com instituições relevantes (FPG, Associação Regional, Autarquia, Direção Regional de Saúde, agências, operadores, etc.)? 

Tem havido a preocupação de manter os sócios informados sobre o período que iremos estar em layoff. Eu, através da Associação de Gestores de Golfe de Portugal (AGGP), tenho tido um papel ativo de tentar recolher opiniões de toda a indústria e partilhar essas informações. O Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG) tem feito um trabalho e tem-no divulgado por todos os campos de golfe com as recomendações da Direção Geral de Saúde (DGS). Temos feito uns webinars com outros campos de golfe, nomeadamente europeus, também com operadores de golfe, com delegações do Turismo de Portugal em vários países da Europa. Portanto, tem existido este tipo de contactos. 

7 – Concorda com a solicitação da FPG às autoridades de o golfe ser considerado uma das primeiras modalidades desportivas a reabrir portas?

O golfe tem todas as condições para que as pessoas possam jogar sem correrem riscos de contágio, sendo necessário tomar algumas medidas de distanciamento social.

No entanto, isso não quer dizer que a viabilidade das empresas esteja salvaguardada quando os campos abrirem. Como já disse na resposta à primeira pergunta, prevejo que a nossa quebra de receitas seja na ordem dos 65%. É um ‘annus horribilis’, como já li.

8 – Como está a ser preparada a reabertura de atividade? Que alterações prevê em relação ao habitual funcionamento do clube/campo anterior à COVID19? Quais as prioridades/preocupações em termos de vendas, mercados de destino, campanhas de comunicação para os mercados internos e externos? 

Está a ser elaborado (já foi apresentado ao Governo e aos campos) um documento em conjunto com a AGGP, a FPG, o CNIG e a Associação Portuguesa de Greenkeepers (APG) para preparar a reabertura dos campos. Julgo que irão sair daqui uma série de limitações. Se calhar, numa primeira fase, limitações na clubhouse, até porque temos um restaurante e temos de respeitar as regras que estão a ser impostas à restauração; limitações também nos balneários; o número de jogadores por partida também poder ser limitado, tal como o número de jogadores que possam estar no driving range; a loja não poderá que todas as pessoas estejam a tocar nos mesmos artigos.

As grandes preocupações em termos de mercado de turismo são, em primeiro, perceber quando serão levantadas as restrições dos diferentes países para se poder viajar; e depois, será a confiança em viajar de cada um dos consumidores e dos mercados emissores.

Há uma questão aqui que vai ser fulcral que são as companhias aéreas: se vão poder operar, como irão poder operar, se terão distanciamento nos bancos, ou seja, se a capacidade dos voos será inferior.

Haverá uma série de condicionantes que nos preocupam muito, sendo o golfe uma indústria de turismo. Estamos muito expectantes de perceber como tudo isto vai funcionar e esperamos que no próximo ano, no máximo, as condições estejam restabelecidas e as pessoas possam viajar em condições normais, ainda que com menos confiança. 

9 – Que planos o clube/campo tem em relação ao calendário competitivo que teve de ser suspenso/cancelado e em relação ao calendário competitivo que ainda possa vir a ser efetuado até ao final do ano? 

Nesta altura não são permitidas competições, o calendário competitivo está parado, e para a frente será seguramente condicionado.

Numa primeira fase, ou numa segunda fase, depois da abertura dos campos de golfe, as competições terão procedimentos muito apertados em relação ao distanciamento entre as pessoas. Terão de arranjar-se soluções… veja-se as reservas online, já são mais fáceis usar, mas será preciso haver marcações dos cartões de jogo online. Essas soluções terão de surgir e, a partir desse momento, o calendário competitivo poderá provavelmente fazer-se, mas sem distribuições de prémios, sem aquele convívio de que os jogadores tanto gostam depois do jogo, com todos muito sujeitos às regras de não haver ajuntamentos de pessoas.