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Inquérito GolfTattoo: Luís Correia da Silva, presidente do CNIG
O CNIG, presidido por Luís Correia da Silva, esteve particularmente ativo durante este mês e meio © FILIPE GUERRA

“Receitas podem cair 90% até final do ano”, diz o responsável do Conselho Nacional da Indústria do Golfe

Se os desejos do Presidente da República e do Governo se concretizarem, estamos na última semana com o país em estado de emergência e tem-se falado cada vez mais da possibilidade de o golfe ser uma das modalidades a iniciar mais cedo parte da sua atividade normal, embora sujeito às necessárias contingências decorrentes das normas da Direção Geral de Saúde para o combate à COVID-19.

É, aliás, possível, que já no início desta semana a Federação Portuguesa de Golfe (FPG) faça algum anúncio público sobre o assunto.

Durante um mês e meio de estado de emergência o golfe deparou-se com uma profunda crise, cujas consequências estão ainda a ser agora elencadas pelas diversas instituições que gerem ou representam a modalidade, sobretudo os campos e clubes, que viram as suas receitas caírem a 100% no mês de abril.

A FPG tem estado particularmente ativa com comunicados regulares, que inicialmente visaram cancelar todas as competições, depois algum alívio às tesourarias dos clubes, seguindo-se contactos com as mais diversas instituições da administração central, no sentido de comprovar que o golfe tem condições de iniciar parte da sua atividade mal seja possível. A FPG foi mesmo uma das quatro únicas federações desportivas nacionais a apresentar, no final da semana passada, um plano de retoma de atividade à secretaria de Estado do Desporto e Juventude e ao Instituto Português do Desporto e Juventude.

Através do seu departamento de comunicação, a FPG tem mantido um contacto próximo com o meio do golfe nacional, através de notícias, vídeos e demais informações em várias redes sociais. O seu presidente, Miguel Franco de Sousa, tem-se desdobrado em entrevistas e até mesmo num artigo de opinião em diversos media tradicionais (televisão, jornais impressos e jornais online).

Outras instituições têm estado igualmente com grande dinamismo e há vários debates e webinars que têm sido levados a cabo durante estas semanas, abordando um espectro de temas bastante alargado.

O Golftattoo, sempre com o apoio do Público Online, não poderia alhear-se a este fluxo de informação que visa trazer ao espaço público a real dimensão do problema com que se deparam os campos e os clubes, naquela que poderá vir a ser conhecida como a maior crise mundial desde a grande depressão de 1929 ou desde a segunda guerra mundial que terminou em 1945.

Nesse sentido, o GolfTattoo elaborou um questionário que enviou a alguns clubes e/ou campos. Procurámos exemplos dos chamados clubes com campo, clubes sem campo, campos comerciais que têm clubes associados, campos com hotel, campos sem hotel, enfim, sem uma pretensão científica, esperamos ter atingido uma amostra significativa.

O inquérito foi elaborado para campos e/ou clubes mas o presidente do Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG), Luís Correia da Silva, antigo secretário de Estado do Turismo e hoje em dia CEO do Dom Pedro Golf e ainda presidente do Clube de Golfe de Vilamoura, teve a simpatia de responder ao inquérito na qualidade de líder da associação dos proprietários de campos de golfe.

O CNIG esteve particularmente ativo durante este mês e meio e faz sentido que seja o seu presidente a inaugurar esta secção de resposta ao inquérito de que iremos dar conta ao longo desta semana.

 

1 – O que representou, quantitativamente, em termos de viabilidade e subsistência dos clubes/campos este período de estado de emergência? 

A nível nacional o impacto foi brutal, pois, após os dois primeiros meses do ano em que o número de voltas jogadas e as receitas, em relação ao período homólogo do ano anterior, tinham aumentado e as reservas para os meses de março, abril e maio perspetivavam uma época alta de golfe muito positiva, eis que, inesperadamente, advém a crise da COVID-19, com todas as consequências para o turismo em geral e para as empresas/campos de golfe em particular.

Com a entrada em vigor do Decreto n.º 2-A/2020, que procedeu à execução prática da Declaração do Estado de Emergência, passou a ser obrigatório o "encerramento das infraestruturas desportivas de lazer" e todos os campos foram fechados aos sócios e ao público. No entanto, apesar da suspensão da atividade das empresas/campos por tempo ainda indeterminado, foram assegurados os serviços de manutenção habituais, com a consequente preservação da condição de jogo de todos os campos.

Considerando este cenário e assumindo que as restrições poderão estender-se, pelo menos até maio de 2020, em comparação com o período homólogo em 2019, prevê-se que a quebra do volume de negócios no golfe, nos primeiros 5 meses do ano, a nível nacional, ultrapasse os 57%. Considerando que, em Portugal, cerca de 87% do total anual das voltas de golfe (+ de 2,0M) são jogadas por estrangeiros, o cancelamento e/ou adiamento de reservas pelo menos até fins de outubro, por não estarem criadas condições para os turistas golfistas viajarem como habitualmente a partir dos seus países de origem, poderá provocar uma quebra das receitas de golfe, até ao fim do ano, que poderá atingir 90%. 

2 – Que receitas conseguiram os clubes/campos durante este período que irá ser de um mês e meio? 

Com os campos fechados desde meados de março, não existe receita e uma parte substancial dos custos, em particular os associados à manutenção dos campos, ainda que esta possa ser um pouco menos intensa, em geral mantêm-se. A pressão sobre a liquidez de tesouraria das empresas é muito forte. As empresas e os campos têm ainda sido obrigadas a gerir, da melhor forma possível, os pedidos de reembolso decorrentes dos cancelamentos de reservas e do pagamento antecipado de subscrições periódicas e de quotas/memberships pelos sócios.

Com o recurso a algumas das medidas de apoio entretanto apresentadas pelo Governo nomeadamente o recurso ao Layoff Simplificado, as dificuldades financeiras e de tesouraria das empresas/campos serão porventura atenuadas até maio, mas a sua sobrevivência, caso o quadro da crise se mantiver por um prazo de 3 meses ou mais (restrições à livre circulação das pessoas e eventual obrigatoriedade de continuação de observação de quarentena, aviões em terra, ausência de turistas/golfistas estrangeiros, etc.), mesmo que os campos possam vir a ser reabertos, vai obrigar a uma revisão, readequação e reforço de medidas de apoio, num curto espaço de tempo, de forma a tornar possível a sobrevivência da indústria de golfe nacional.

3 – Que despesas/investimentos teve o clube/campo durante este período que irá ser de um mês e meio? 

Para já as despesas/investimentos que decorrem da manutenção dos campos de golfe, incluindo consumos de energia e água e, em particular, as que resultam do aproveitamento do período encerramento para fazer algumas intervenções "mais pesadas", as despesas inerentes ao pagamento de remunerações às equipas que estão a trabalhar e as decorrentes da contribuição das empresas/campos para a remuneração dos colaboradores colocados em layoff.

Para além disso as empresas têm ainda que suportar os custos inerentes à manutenção dos seus sistemas informáticos e de gestão em funcionamento, de parte das equipas comerciais que têm de tratar do cancelamento ou adiamento de reservas, de outros custos decorrentes de rendas de leasing e pagamentos a fornecedores e do pagamento de impostos e taxas.     

4 – Que tipo de manutenção os campos conseguiram fazer neste período e em que estado os campos se encontram neste momento? Quantos funcionários de trabalho presencial foram necessários durante este período? E quantos funcionários estiveram em trabalho em casa/teletrabalho. 

O CNIG apurou que 82% das empresas/campos de golfe reduziu significativamente a sua atividade, tendo recorrido a medidas de exceção, na expectativa de, tanto quanto possível, conservar os postos de trabalho e poder estar em condições para a sua reabertura, logo que tal seja possível para os golfistas nacionais e que a procura internacional começar a dar sinais de retoma.

Em média, a adesão ao regime de layoff simplificado, total ou parcial, em cada campo, foi também cerca de 82%. Nalguns casos atinge mesmo 100% dos colaboradores, sendo que as equipas de manutenção a trabalhar incluem colaboradores em regime de layoff total ou parcial.

Dado os campos estarem encerrados e sem golfistas, as intervenções de manutenção, mesmo que ajustadas "em baixa" e com equipas mais reduzidas, não puseram nem irão colocar em causa, a qualidade da condição de jogo dos mesmos. Em geral, os campos apresentam-se hoje muito bem, até porque tem chovido espaçadamente nas diferentes regiões do país e, em particular em Lisboa e no Algarve. É mesmo possível que, em campos onde, nesta época do ano, joguem habitual e diariamente mais de duas centenas de jogadores, aquando da respetiva reabertura, as condições de jogo sejam melhores que em idênticas épocas, nos anos anteriores.

O CNIG não tem números que permitam uma resposta conclusiva.  Inicialmente, algumas empresas/campos, confrontadas com o encerramento propuseram, a alguns colaboradores, a antecipação de períodos de férias. Outras colocaram os trabalhadores não afetos à manutenção em casa, utilizando a figura de teletrabalho. Mas o recurso ao layoff simplificado, total ou parcial, foi porventura a solução que as empresas encontraram para, face à paralisia da sua atividade, preservarem, tanto quanto possível, os postos de trabalho. A manutenção e a direção dos campos são as áreas que se mantêm com mais trabalhadores no ativo, a tempo inteiro. 

5 – Foi possível pagar os ordenados na íntegra a todos os colaboradores com diferentes vínculos contratuais? Foi negociado com os colaboradores alguma redução salarial? Foi contemplada a hipótese de entrar em layoff? 

O CNIG não dispõe dessa informação, mas não tem conhecimento, até agora, que as empresas/campos tivessem deixado de cumprir com as suas responsabilidades para com os colaboradores, independentemente do tipo de vínculo contratual, mas sabe que a quase totalidade das mesmas, recorreu ou irá recorrer, ao regime de layoff simplificado de parte dos seus colaboradores. 

6 – Que preocupação os campos/clubes teve com a manutenção de comunicação com os seus clientes/sócios durante este período? E com instituições relevantes (FPG, Associação Regional, Autarquia, Direção Regional de Saúde, agências, operadores, etc.)? 

O CNIG tem mantido informadas todas as empresas e campos de golfe, associados ou não, das medidas que têm vindo a ser tomadas, tanto do ponto de vista da proteção da saúde pública, como dos principais aspetos e decisões que, nos diversos mercados emissores, estão a determinar o comportamento dos operadores turísticos, companhias aéreas e dos potenciais clientes golfistas.O CNIG sabe que a maioria dos clubes de golfe têm também procurado informar os seus sócios da evolução da situação que vivemos, em particular no que respeita ao impacto e consequências da mesma nos campos de golfe onde habitualmente jogam.

Paralelamente, o CNIG integra um grupo de trabalho (GT) composto pela FPG (Federação Portuguesa de Golfe), AGGP (Associação de Gestores de Golfe de Portugal) e APG (Associação Portuguesa de Greenkeepers), no sentido de se preparar a reabertura dos campos, ainda que de forma faseada e progressiva, num eventual cenário de levantamento condicionado das atuais restrições e da obrigatoriedade de encerramento dos mesmos, decorrentes da pandemia COVID 19.

Desde o início do mês de março, o CNIG tem trabalhado, em estreita articulação com o Ministério da Economia/Secretaria de Estado do Turismo e com a Confederação do Turismo Português, no sentido de identificar e propor medidas de apoio necessárias e ajustadas às especificidades da indústria e do setor do golfe nacionais. 

7 – Concorda com a solicitação da FPG às autoridades de o golfe ser considerado uma das primeiras modalidades desportivas a reabrir portas? 

O CNIG e os seus associados aguardam a reabertura dos campos de golfe nacionais logo que tal seja possível, levantadas as restrições e limitações decorrentes da Declaração do Estado de Emergência no país, na base de um compromisso de cumprimento de um conjunto de "Orientações de Funcionamento" e da adoção de eventuais medidas adicionais de proteção da saúde pública, que venham a ser consideradas e exigidas. Nesse contexto e tendo presente que, muito provavelmente até ao início do quarto trimestre, vai ser reduzido o número de golfistas estrangeiros que tenham condições de vir jogar a Portugal, torna-se fundamental e mesmo decisivo, garantir que as condições de apoio financeiro à operação das empresas e dos campos sejam prolongadas e mantidas, no período pós reabertura. 

8 – Como está a ser preparada a reabertura de atividade? Que alterações prevê em relação ao habitual funcionamento do clube/campo anterior à COVID19? Quais as prioridades/preocupações em termos de vendas, mercados de destino, campanhas de comunicação para os mercados internos e externos? 

O CNIG em estreita articulação com as empresas/campos de golfe seus associados, preparou e consensualizou um "Documento" intitulado "Orientações de Funcionamento para a reabertura dos campos de golfe", que sintetiza um conjunto de diretrizes e recomendações a adotar no contexto da preparação de uma próxima reabertura dos mesmos à prática da modalidade. Este "Documento" constituiu também a contribuição do CNIG para o "Grupo de Trabalho sobre o Golfe" recentemente constituído, que integra ainda a Federação Portuguesa de Golfe, a Associação de Gestores de Golfe de Portugal e a Associação Portuguesa de Greenkeepers, e que irá produzir um conjunto de propostas e recomendações sobre a prática da modalidade, a apresentar ao Governo e, em particular, à Secretaria de Estado da Juventude e Desporto.

Em termos de vendas, na sequência da reabertura dos campos e do turismo em geral, é claro que a prioridade centra-se na captação de reservas e na atração e vinda de jogadores estrangeiros e em particular do Reino Unido, para jogarem nos campos, no Continente e Ilhas, desejavelmente já em força a partir de setembro/outubro. E, já agora, começarmos todos já a preparar a época alta de março/abril e maio de 2021.

O CNIG tem ainda já sinalizado a necessidade de o Turismo de Portugal vir a concretizar uma campanha promocional no Reino Unido e em outros mercados prioritários, para atração de golfistas estrangeiros, logo que sejam levantadas as restrições à circulação entre países e que as companhias aéreas possam retomar os voos de e para Portugal. O CNIG sabe que o TP tem mantido contactos com operadores turísticos de golfe e com as companhias aéreas, no sentido de preparar o retorno de turistas golfistas, logo que tal seja exequível. 

9 – Que planos os clubes/campos têm em relação ao calendário competitivo que teve de ser suspenso/cancelado e em relação ao calendário competitivo que ainda possa vir a ser efetuado até ao final do ano? 

O calendário competitivo é da responsabilidade da FPG, sendo que as empresas/campos de golfe estarão decerto disponíveis para criar as necessárias condições para que algumas competições possam ainda ser realizadas em novas datas, até ao fim do ano.

De qualquer maneira, posso informar que o Portugal Masters mantém se no calendário anual de eventos do European Tour para 2020, e se tal for possível, decorrerá na última semana de outubro, no Dom Pedro Victoria Golf Course, como habitualmente.