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Nuno Campino apreensivo com “nível” dos jogadores
09/08/2016 10:13 HUGO RIBEIRO/FPG
Nuno Campino aponta agora baterias para o Mundial no México em Setembro / © FILIPE GUERRA

Seleccionador nacional aponta lacunas do Europeu Individual e já pensa no Mundial

O 29º Campeonato da Europa Individual Masculino Amador, que se disputou na semana passada na Estónia, foi o primeiro em nove anos em que nenhum português logrou integrar o top-60 que se qualificou para a última volta. 

A seleção nacional masculina já regressou a Portugal e o Gabinete de Imprensa conversou com Nuno Campino para que os adeptos do golfe possam ficar com uma ideia mais definida do que realmente se passou, para além dos resultados que fomos publicando diariamente. 

Como é seu timbre, o selecionador nacional não se escudou em desculpas e colocou o dedo na ferida, sempre numa perspetiva construtiva, de contribuir para a melhoria do nível dos seus jogadores, e não escondeu a preocupação que começa a ter quando estamos a seis semanas do Campeonato do Mundo Masculino por Equipas, no México. 

“O objetivo da seleção (foi) completamente falhado, depois dos bons resultados dos últimos anos. Fico estranhamente preocupado porque os jogadores deveriam estar a um nível muito mais alto nesta altura do ano, com um Campeonato do Mundo à vista. (…) Deixa-me pensativo e apreensivo”, reconheceu. 

Para Nuno Campino, as condições estavam reunidas para a obtenção de melhores resultados: “O campo era relativamente fácil, (como) podemos ver pelos resultados e nós não conseguimos produzir. Este campo (Sea Course do Estonian Golf & Country Club) tem oito a dez buracos de 110 metros para dentro com (umas) 11 oportunidades de birdie. Deveríamos fazer 4 ou 5 (birdies por volta), e nos outros 7 buracos jogar a Par, em 1 acima ou 2 acima no máximo. Faríamos umas 3 abaixo (por volta), o que é um bom resultado neste campo.” 

A explicação poderá estar no tipo de jogo apresentado pelos três portugueses – Tomás Silva (+2), Vítor Lopes (+5) e João Girão (+12): “Os jogadores têm de pensar que o golfe joga-se em todo o campo e não apenas no swing. O jogo curto, o putting e o chipping são das partes mais importantes. Enquanto não melhorarem isso, os resultados não vão aparecer, a não ser que o campo seja extremamente difícil. Aí conseguimos bons resultados, como aconteceu em França (Internacional), na Irlanda (Internacional), e no Amateur (British). Não somos suficientemente eficazes a jogar nestes campos acessíveis.” 

No final do ano passado, numa palestra dirigida a jogadores, treinadores, pais de jogadores e dirigentes, Nuno Campino já tinha avisado que 2016 teria de ser o “ano do jogo curto e do putting”, por ter sido nesses setores que detetou mais lacunas. 

“Os erros destes jogadores têm sido os mesmos há algum tempo – sublinhou, de novo, depois do Europeu – e a minha conversa com eles (vai) sempre (no sentido) de trabalharem mais o que falham mais. (Estão) pouco eficazes, tanto nos greens, como à volta dos mesmos, a criar oportunidades de 110 metros para dentro”, acrescenta. 

O selecionador nacional vê evolução, mas quer naturalmente mais: "Todos melhoraram o putt, já não fazemos tantas vezes 3 putts, dos 100 metros para dentro já não falhamos (tantos) greens e os chips ficam mais perto dos buracos, mas ainda está longe de estar bom."

O único jogador português que se exprimiu nas redes sociais sobre o Europeu foi Tomás Silva e as suas análises coincidem com as do selecionador, ao qual, aliás, agradeceu por escrito a dedicação.

“Senti-me estranho em campo, pouco confortável e, por isso, dei alguns shots menos bons. Ainda assim consegui criar algumas oportunidades de birdie que não consegui converter, mas, por outro lado, consegui salvar o Par quando estive em situações delicadas”, escreveu Tomás Silva, depois de uma primeira volta em 72.

Nesse primeiro dia cumprido a Par do campo, a organização suspendeu a competição algumas horas «porque havia previsão de trovoada». Já no segundo dia, o ex-triplo campeão nacional amador contou que «esteve bastante vento durante todo o dia, chegaram a cair umas gotas (de chuva), mas nada de especial».

Essa segunda volta em 75 comprometeu seriamente as aspirações de Tomás Silva que admitiu a sua “falta de noção a 'patar'” durante grande parte da jornada.

Na terceira volta, “num dia fantástico, nublado e com pouco vento”, conseguiu finalmente bater o par do campo e jogou em 71, mas não foi suficiente e falhou o cut por 5 pancadas: “Comecei bem com birdies no buraco 1 e 3 e finalmente estava a sentir-me confortável em campo. Acabei por fazer 1 bogey no buraco 7, o único do dia. Depois, tive uma sequência de bons shots, vinha -2 para o buraco 13 e acabei por falhar o shot ao green para o lado errado e coloquei-me numa situação delicada. Fiz 1 duplo bogey que me comprometeu o resto da volta. Ainda criei oportunidades de birdie no 14, 15, 16 e 18, mas só concretizei a do 16". 

Apesar de já terem passado alguns dias desta terceira volta, valeu a pena reproduzir as mensagens de Tomás Silva porque elas revelam a tal dificuldade crónica de aproveitar as boas oportunidades criadas. Um problema, pelos vistos, generalizado e não apenas seu. 

Não espanta que o nº1 do Ranking Nacional BPI – que nos dois anos anteriores tinha passado o cut no Europeu, onde chegou a ser 9º em 2014 – tenha a consciência de que poderia ter feito melhor: “Sinto-me um pouco frustrado, porque sei que o jogo que apresentei, apesar de não ter sido o melhor, era suficiente para estar entre os 60 melhores. Não soube aproveitar alguns momentos do jogo e paguei caro.” 

Não obstante nenhum português ter passado o cut, Nuno Campino viu alguns aspetos positivos: “Apesar de tudo, (o Tomás) lutou para se qualificar e quase conseguiu. Este ano tem sido dos poucos jogadores a lutar por se qualificar e a fazer bons resultados.” 

Também a terceira volta de 71 de Vítor Lopes não passou despercebida ao selecionador. O resultado é positivo, mas Nuno Campino gostaria de perceber se «sob pressão teria sido capaz de fazê-la». É que, “nas últimas voltas do João e do Vítor, já não havia muito a fazer, depois dos primeiros dois dias. (Mas) há que dar valor à volta do Vítor porque tentou lutar.” 

O 29º ‘European Amateur Championship’ foi conquistado, pelo segundo ano seguido, por um italiano, desta feita Luca Cianchetti, que precisou de sete (!) buracos de play-off para derrotar o norueguês Viktor Hovland, após um empate a 16 abaixo do Par nos 72 buracos regulamentares. 

Em fevereiro, Cianchetti falhou o cut no Campeonato Internacional Amador de Portugal, em Palmela, e em março integrou a seleção da Europa que venceu em Vidago o Michael Bonallack Trophy.