João Paulo Pinto, presidente do CA da FPG, congratula-se com revisão proposta
João Paulo Pinto é a pessoa ideal com quem falarmos sobre o conjunto de propostas de alterações às Regras de Golfe, desvendadas a 1 de Março pelo R&A e a USGA, como parte de uma iniciativa conjunta para as modernizar e torná-las mais fáceis de perceber e de aplicar.
Sendo um prestigiado árbitro internacional, é presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Golfe e faz parte do Rules Commitee do R&A, indicado pelo Ladies European Tour (circuito no qual trabalha como Director de Torneios), pelo que também contribuiu para aquele trabalho.
No passado domingo, o GolfTattoo foi encontrá-lo na sede da FPG em Miraflores, para uma reunião com colegas-árbitros – João Coutinho, Luís Braga. Júlio da Cal, Luís Chaves, Pedro Porto Aguiar, Henrique Carvalhão, Guido Snhelen, José Luis Almeida, José Carlos Rodrigues e Orlando Henrique.
GOLFTATTOO – Fazes parte do grupo de trabalho que andou a estudar estas modernização e simplificação das regras de golfe, conta-nos que grupo é esse e de que forma entras nele?
JOÃO PAULO PINTO – As duas entidades que regem o golfe a nível mundial, a USGA (EUA e México) e o R&A (resto do mundo), têm comissões de trabalho, designadas por Rules Commitee, compostos por representantes de várias organizações, associações, federações, circuitos profissionais, etc. Eu estou no do R&A, em representação do Ladies European Tour, que me nomeou para tal no início de 2016.
É um grupo de trabalho de advisory members, não temos voto determinante, damos opinião, recebemos material, lemos, relemos e fazemos as nossas sugestões. Creio que hoje integra perto de 30, 35 pessoas, entre as quais representantes do staff fixo do R&A.
Todas as propostas de alterações, antes de serem validadas também pelos parceiros da USGA, têm de ser aprovadas dentro do R&A, pelo seu grupo de directores. O R&A aprova ou não aprova as sugestões e depois estas são propostas à USGA, que tem um processo muito semelhante ao nosso.
Existe depois o grupo mais restrito, que é um Joint Commitee, com 3 ou 4 membros do R&A e outros tantos do USGA, que reúnem. No fundo isto é um trabalho em pirâmide, vai estreitando, até se chegarem às decisões finais. A proposta de modernização apresentada a 1 de Março é o corolário de cinco anos desse trabalho.
Qual a tua opinião sobre as conclusões a que se chegaram e as propostas feitas?
É uma proposta de modernização, de simplificação, de aproximar as regras do jogadores, escritas de uma forma mais objetiva, mais facilmente entendível, fruto de um trabalho que começou em 2012 e que por isso já leva cinco anos. Creio que o produto a que se chegou neste momento e que foi apresentado ao público agora no dia 1 de Março, representa de facto uma mudança bastante acentuada nas formas como as regras são transmitidas.
É claro que não nos podemos esquecer que o golfe é um desporto que é jogado em todo o mundo e que cada região do planeta tem vicissitudes próprias, é um desporto que tem coisas muito específicas, e portanto as regras de golfe têm de ser muito abrangentes, e isto faz com que a complexidade da sua escrita e das próprias regras nunca possam se calhar chegar a um nível de umas regras de ténis, em que o rectângulo é basicamente sempre o mesmo. Isso faz com que o livro e a escrita das regras de golfe tenham de ser diferentes, mas com esta proposta de modernização e simplificação, o que se pretende é pô-las de formas muito mais entendíveis por todos os agentes.
Com João Coutinho, árbitro internacional e Director Técnico Nacional / © RODRIGO CORDOEIRO
Quais são as mudanças mais significativas?
Há várias mudanças que eu penso que vão ser muito bem recebidas por toda a gente, nomeadamente a cadência de jogo. O pace of play era uma preocupação grande de toda a gente, e de facto com estas propostas de alterações esperamos que o tempo de jogo se reduza.
Desde logo, por exemplo, a procura de bola deixa de ser de cinco minutos, o tempo autorizado passa a ser de três minutos. Nas próprias regras vai ficar escrito que o tempo para execução de cada pancada deverá ser de 40 segundos no máximo, incluindo a preparação, tal como calçar a luva, ver distâncias, consultar yardage book.
Outra limitação no pace of play prende-se também de certa forma com os caddies ou os parceiros dos jogadores a alinharem-nos, no momento em que eles começam a preparar o stance para executar a pancada. Ora, com esta revisão os jogadores não poderão já ter mais ninguém atrás a dizer-lhe para eles se virarem para a esquerda ou para a direita. Reconhece-se que isso tem de ser um skill de jogo, uma habilidade de jogo. Os jogadores têm de ser capazes de o fazer por si só. Claro que é também por uma questão de cadência de tempo, porque muitas vezes o caddie ainda demora ali uns segundos a dar orientações.
Outro exemplo: o jogador deixa de ter penalidade se ‘patar’ com a bandeira no buraco e se tocar na bandeira. Actualmente, um jogador, mesmo que tenha um putt de 30 metros, tem de ir tirar a bandeira, voltar, ver a linha e só depois ‘patar’. Com esta proposta pode ‘patar’ e se bater na bandeira não tem penalização.
Há um relaxamento nos greens…
Sim, é na verdade o considerar-se que havia algumas limitações impostas aos greens. Já vou falar dos bunkers a seguir, mas nos greens, até agora, é proibido reparar marcas de impacto, de bola ou de buraco antigos; o que se propõe agora é que quase tudo possa ser reparado no green.
Também se pode pisar ou tocar a linha de putt num green?
Um grande conjunto das restrições que hoje existem nos greens deixam de o ser. O jogador, o caddie ou parceiro, ao indicarem uma linha de putt, podem tocar no green, desde que com isso não constitua melhorar a linha de jogo; mas não há penalidade, se encostar a bandeira ao green e disser: ‘É por aqui que tens de jogar’.
Em relação aos bunkers…
Nos bunkers, também é até agora proibido tocar em impedimentos soltos; com a proposta de alteração, deixa de ser penalidade tocar ou mexer em impedimento soltos. Penso que são coisas mais ou menos justas. Imagine-se uma bola num bunker, que tem uma pinha imediatamente atrás ou à frente; por que não se pode tirar essa pinha? Isso não tem a ver com skills de jogo, tem a ver com uma questão de justiça. Também isso foi aliviado.
Também se pode tocar com o taco na areia?
Só passa a ser penalizável tocar com o taco na areia se for a verificar a textura do bunker, a fazer o swing de ensaio ou a tocar e/ou colocar o taco imediatamente atrás ou à frente da bola; ou se no back swing levantar areia; tudo o resto, o jogador pode entrar no bunker, pode pousar, pode estar, não tem penalidade. Também são liberalizadas dessas penalidades as áreas de obstáculos de água, que passarão a ser designadas por áreas de penalidade.
O grupo de árbitros que se reuniu domingo na FPG / © RODRIGO CORDOEIRO
A propósito, fala-nos sobre a questão das “falsas” áreas de obstáculos de água, que deixam de o ser.
A realidade de hoje é que sabemos que muitos campos marcam como obstáculos de água laterais, com estacas vermelhas, muitas áreas que não têm água nem nunca tiveram, mas apenas por uma questão de cadência de jogo, porque assim os jogadores que forem para lá, dropam dois tacos ao lado e continuam; com a proposta de alteração, vamos ao encontro do que hoje é corrente fazer-se, mas dando legitimidade a quem o faz, dizendo claramente: OK, a partir de agora, qualquer comissão técnica pode declarar uma área de penalidade, com estacas vermelhas.
O próprio procedimento para deixar cair a bola também é alterado, hoje é um procedimento muito técnico, o jogador tem de estar de pé, com o braço esticado à altura do ombro. A proposta diz que o jogador deixa cair a bola de qualquer altura, pode ser a dois centímetros do chão, pode ser a dois metros do chão. Com as regras actuais, a bola pode rolar para fora dessa área de drop, com a mudança a bola tem de ser jogada dentro da área de drop e o jogador tem de fazer isso de uma forma rápida e objectiva. Se calhar, se deixar cair a bola a um metro de altura, a bola vai rolar para fora; se deixar a um centímetro, a bola já não vai rolar para fora. Na verdade é um procedimento de simplificação o que está proposto.
As propostas 24 novas Regras são reduzidas das actuais 34. Isto quer dizer que o livro de regras encurta?
Significa essencialmente que há uma reorganização diferente das regras, e que, portanto, assuntos co-relacionados vão ser encontrado no mesmo sítio. Um exemplo: a regra 25 trata de condições anormais do terreno e a 24 de obstruções móveis e fixa. As duas darão lugar a uma única regra. Há várias fusões.
A reunião da passada semana na sede da FPG, com alguns árbitros portugueses, serviu para quê?
Pedimos esta reunião para conversarmos com os nossos colegas árbitros, para lhes explicar este processo. Antes do 1 de Março, o Conselho de Arbitragem comunicou com os colegas árbitros avisando para que todos estivessem atentos àquele dia. Conversámos um pouco informalmente sobre esta situação e, importante também, fora desse âmbito, sobre a nossa vida de árbitros, sobre formação e avaliação.
Relativamente à proposta de modernização das Regras, é uma proposta que foi apresentada a 1 de Março, a que se vai seguir um período de seis meses de avaliação e de recepção de feed back. Depois desses seis meses, sim, será com certeza avaliado o feed back recebido, e as regras poderão ser ajustadas ou não, em função da pertinência dos comentários recebidos. Vai ser publicado o draft final e depois vai ser dado tempo às federações, aos representantes, para traduzirem para todas as suas linguagens.
Esta proposta, a ser aprovada e implementada, entrará em vigor a 1 de Janeiro de 2019. Portanto, temos um ano e oito meses pela frente para: recepção de feed back, elaboração dos documentos finais, preparação técnica de tudo, publicação dos livros de regras, de todo o material, de suporte informático, das apps, que hoje já estão disponíveis.