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Conhecer Luís Figo, o golfista
02/05/2016 16:14 RODRIGO CORDOEIRO
tags: Luís Figo
Em acção num pro-am da PGA de Portugal, no Onyria Palmares, em Lagos / © FILIPE GUERRA

Agora é noutro relvado que o antigo futebolista tem mostrado o seu espírito competitivo

Não deve haver muitos futebolistas profissionais que tenham abraçado o golfe. Que me lembre, Humberto Coelho, Figo, Ricardo, Moreira (antigo guarda-redes do Benfica), Carlos Xavier, Rui Jorge, Frederico, Nuno Valente. São todos embaixadores do golfe, sendo que Humberto até já fez parte de uma direcção da Federação Portuguesa de Golfe.

O melhor é indubitavelmente Ricardo, que é 1,9 de handicap e já pede meças aos profissionais. Já se falou até no seu eventual interesse em tentar dentro de uma década, quando fizer 50 anos e estiver elegível para tal, o acesso ao European Senior Tour, o circuito europeu de profissionais veteranos, onde se ganha algum bom dinheiro (mas não tanto como na versão realmente milionária do norte-americano Champions Tour). Mãozinhas nunca lhe faltaram.

O mais famoso é Luís Figo, que na entrevista nestas páginas não deixa de elogiar Ricardo: “Tem um nível impressionante para amador.” Mas o melhor futebolista do mundo em 2001 está em clara progressão na modalidade das tacadas e à beira de ser golfista com handicap de dígito único. Veja-se como ele refere que na semana anterior fez um resultado de 5 acima do par no Moraleja 4. É preciso jogar muito bem para fazer tão poucas pancadas.

Como praticante, Figo tem sido um privilegiado, jogando e conhecendo alguns dos maiores nomes do golfe, tanto portugueses como estrangeiros, e já participou inclusivamente em provas do European Tour e do PGA Tour no formato de pro-am, no primeiro caso com Ricardo Santos, no segundo com o sul-africano Retief Goosen.

Talvez por morar em Madrid e não se expôr muito, a faceta de Figo como golfista ainda é pouco conhecida em Portugal. É para colmatar essa lacuna que lançamos a presente entrevista.

© FILIPE GUERRA 

GOLFTATTOO/PÚBLICO – Como é que tudo começou para si no golfe? 

LUÍS FIGO – Comecei a praticar quando me retirei do futebol, o que aconteceu em 2009. Tudo começou através de amigos espanhóis que já jogavam, eu fui de certa forma levado a experimentar. Comecei no Golf Park em Madrid, uma academia com driving range e 9 buracos de pitch & putt. O meu primeiro treinador aqui foi um português, Pedro Cardoso [vice-campeão nacional de amadores em 1995], foi com ele que tive as primeiras aulas. Depois comecei a jogar assiduamente com os amigos e tomei o gostinho. 

Qual é o seu handicap actual? 

Sou 10 de handicap. 

Já é um bom jogador… 

No último fim-de-semana, em Madrid, joguei para handicap 5. Foi a minha melhor volta de sempre, porque no final de contas a melhor volta é quando fazes menos golpes, e esse foi sem dúvida meu melhor dia nesse capítulo. Foi no campo 4 da Moraleja, a jogar com amigos, num daqueles dias em que sai tudo bem. 

Como é que se definiria como golfista? 

Muito competitivo. 

O que mais o fascina no golfe? 

É um desporto extremamente competitivo, podes competir contra ti mesmo, acho isso fantástico. Tem várias facetas ou vertentes, porque durante o jogo temos de estar bem com todos os ferros e madeiras e ainda ‘patar’ bem. É bastante completo e ao mesmo tempo ingrato, porque há um dia em que podes jogar bem com os ferros e falhar no putting – e vice-versa. É muito técnico, o que faz com que seja difícil. 

Em Outubro de 2014, participou no Alfred Dunhill Links Championship, na Escócia, uma prova do European Tour disputada em moldes originais, com uma competição individual para os profissionais e outra colectiva com equipas de um profissional e um amador (pro-am). No seu caso formou equipa com o Ricardo Santos, que na altura era o melhor golfista português e membro desse circuito… 

Foi uma experiência fantástica, tive oportunidade de jogar em três campos maravilhosos, um deles foi onde tudo começou no golfe – o Old Course de St. Andrews. E depois foi um privilégio poder jogar com o Ricardo, que nesse ano tinha o cartão do European Tour. Pude logicamente apreciar outros profissionais e tive oportunidade de conviver com nomes grandes do golfe, como Rory McIlroy e Ernie Els, entre outros.

Claro que isto já vai quase para dois anos, na altura o meu rendimento era menor, entretanto o meu handicap evoluiu. Mas foi este torneio, pela sua atmosfera e ambiente, que fez aumentar ainda mais a minha paixão pelo golfe. Cerca de um mês depois, em Novembro desse ano, tive a mesma experiência no PGA Tour [principal circuito de profissionais do EUA, o mais forte e milionário do mundo], no OHL Classic at Mayakoba, que se joga em Cancún, no México, em formato de pro-am. O profissional da minha equipa era o Retief Goosen [sul-africano, duplo campeão do Open dos EUA, em 2001 e 2004). 

Com que outras grandes figuras do golfe tem convivido? 

O Sergio Garcia é meu amigo, já joguei várias vezes com ele em Madrid. Ele é impressionante, nos últimos anos tem estado sempre entre os 15 primeiros do ranking mundial.

Joguei o pro-am do Portugal Masters de 2014 com o Paul Lawrie [escocês que venceu o British Open em 1999 e duas vezes membro da selecção da Europa na bienal da Ryder Cup, frente aos EUA].

E em Abril do ano passado participei na The Icons Cup no Dubai, um encontro do género da Ryder Cup entre as equipas dos EUA e do Resto do Mundo, com 12 elementos para cada lado. Eram todos nomes famosos do desporto não-golfístico, mas os capitães não-jogadores eram estrelas do golfe, o Fred Couples [vencedor do Masters em 1991 e antigo n.º 1 mundial] para os norte-americanos e o Darren Clarke [vencedor do British Open em 2011 e actual capitão da Europa para a próxima Ryder Cup] para os não-americanos. Na ocasião joguei um dos matches a fazer dupla com o Shevchenko [outra antiga estrela do futebol, ucraniano], mas perdemos. Os EUA saíram vencedores. 

Sei que costuma jogar regularmente com António Sobrinho, um dos mais talentosos golfistas que o golfe português já viu passar, e que foi 11 vezes campeão nacional de profissionais… 

O grande Sobrinho! Passou ao lado de uma grande carreira. 

É dessa opinião? 

Sem dúvida. Tenho uma grande amizade e carinho pelo Sobrinho, porque quando passo férias no Algarve jogo assiduamente com ele. Ele foi durante muito tempo o melhor jogador de golfe português. Não sei exactamente os motivos por que não foi mais longe, mas quando é assim passou ao lado de uma carreira importante. 

E como é que é jogar com ele hoje em dia? Ainda fica impressionado com o seu nível de jogo? 

Lógico. Ter a oportunidade de jogar com profissionais é sempre uma experiência fantástica, aí é que se vê realmente a diferença, pela facilidade e pela técnica com que eles batem na bola. E ele é sempre uma pessoa excepcional, acaba sempre por me ajudar a melhorar com alguns conselhos que me possa dar em determinados momentos ou até com aulas. 

Além do Ricardo e do Sobrinho, tem jogado com outras grandes figuras do golfe nacional? 

Em Portugal, bastante. Tenho amigos amadores com um nível bastante bom. Por exemplo, o Ricardo, guarda-redes, tem um nível impressionante para amador. De há cinco anos para cá, temos uma Ryder Cup ibérica, que se chama Iberian Golf Cup, uma equipa de 15 portugueses contra outra de 15 espanhóis. Juntamo-nos anualmente e fazemos três dias de competição, alternando entre Portugal e Espanha. Tentamos sempre escolher campos de top e até ao momento já jogámos em Praia D’El Rey [Óbidos], no Onyria Palmares [Lagos, Algarve] e, em Espanha. fizemos uma vez na zona de Sotogrande [Andaluzia] e o ano passado foi no PGA Catalunya [Catalunha]. A edição deste ano é em Portugal, vai ser em Tróia. 

Presumo que, embora residindo há muitos anos em Madrid, represente Portugal… 

Claro, lógico. Não há aqui jogadores naturalizados (risos). 

Qual foi o seu melhor momento no golfe até agora? 

Cada vez que jogo golfe, desfruto. Apesar de cada dia ser diferente. Podes fazer mais num dia do que noutro, mas eu acho que a experiência de poder jogar sempre em grandes campos é recompensadora. Quando viajo, nos países que visito, procuro fazê-lo, sempre que tenho oportunidade. É sempre positivo. Um grande momento não tenho, porque não jogo a nível profissional. É mais quando ganhas aos teus amigos no fim-de-semana ou na Iberian Golf Cup, são esse os momentos mais especiais. 

Assistiu ao último Masters? 

Assisti, mas como pensei que já estava tudo decidido, acabei por não ver o momento em que o Jordan Spieth se foi abaixo. Deitei-me pensando que já estava tudo decidido e no dia a seguir levantei-me com essa surpresa. Vejo muito golfe na televisão. Acompanho os majors, o European Tour. 

Tem seguido a carreira do Ricardo Melo Gouveia, o melhor golfista português da actualidade? 

Sim, tenho seguido, mas à distância. Começou muito bem a sua primeira época no European Tour, tem vindo a ganhar posições na classificação mundial, fantástico o que ele tem feito. 

Qual é a sua ligação com a Nike? 

Eu estive com a Nike desde os meus 16 anos até me retirar do futebol. E neste momento, devido a essa longa ligação como patrocinador, tenho uma relação excelente com a marca. Eu jogo com tacos Nike, sou fiel. 

É membro de que clubes de golfe? 

Do Golf la Moraleja e da Real Sociedad Hípica Española Club de Campo, em Madrid. Em Portugal não sou sócio, jogo um pouco por todos sobretudo no Algarve. 

Nestes seis anos de golfista como avalia o golfe em Portugal? 

Eu acho que temos umas condições privilegiadas em termos de campos, existe uma quantidade fantástica de grandes campos. Depois, em termos de apoios, não sei como funciona, porque não tenho esse informação, mas estranha-me, com as condições que temos, que não existam mais praticantes que possam neste momento destacar-se. Não sei se é por falta de apoios, se não há qualidade ou se é por não termos uma referência como costumamos ter no futebol ou noutros desportos, como inspiração para os miúdos. Mas não tenho opinião formada ou experiência para poder falar sobre isso. 

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*A presente entrevista foi publicada originalmente no último suplemento “GOLFE” do jornal Público, dia 30 de Abril