Mário Ferreira, CEO da NAU Hotels & Resorts, explica aposta no Open de Portugal
O Grupo NAU Hotels & Resorts explora 11 hotéis e 3 campos de golfe. Um deles, o do Morgado Golf Resort, em Portimão, recebe nos próximos três anos o Open de Portugal, a começar já de 11 a 14 de Maio. O CEO Mário Ferreira explica aposta num dos mais antigos e emblemáticos torneios do European Tour, que regressa assim após sete anos de ausência.
GOLFTATTOO – Qual foi a importância da NAU no regresso do Open ao calendário?
MÁRIO FERREIRA – O nosso portefólio conta com uma propriedade notável de 1000 hectares, chamada Morgado do Reguengo, em Portimão, onde existe o Hotel Morgado Golf & Country Club, com 98 quartos e dois campos de golfe, mas que é beneficiária de um plano de urbanização bastante mais ambicioso, interrompido com a crise económica e financeira, que afectou o grupo anterior. Trata-se portanto de uma propriedade que carece de investimento e de notoriedade.
Por outro lado, os nossos três campos [Morgado, Álamos, ambos no Morgado Golf Resort; e Salgados, em Albufeira] situam-se fora daquilo que podemos chamar do triângulo eldorado do golfe no Algarve, constituído, em termos de destino, por Vilamoura, Quinta do Lago e Vale de Lobo, onde se encontram os resorts mais caros e com mais procura e frequentados por uma clientela de nível sócio-económico superior. Os que ficam fora são obviamente atractivos, mas não conseguem atingir o mesmo nível de rentabilidade.
Uma forma, talvez a melhor forma, de tornar um campo de golfe atraente, procurado, acrescentando-lhe valor, pela procura, é o de ser palco de eventos desportivos internacionais. Assim, nos últimos três anos temos procurado colocar os nossos três campos no panorama competitivo/desportivo nacional, seja amador, seja profissional. Mas faltava-nos de facto um grande torneio internacional, pelo que já desde há um ano que vínhamos examinando, em conjunto com a Federação Portuguesa de Golfe (FPG) e a PGA de Portugal, a possibilidade de receber um torneio do Challenge Tour, que é, digamos, o equivalente à segunda divisão europeia.
Criadas as condições para satisfazer as ambições das três entidades, abordámos o European Tour [sob cuja égide se desenrola o Challenge Tour], que inicialmente acolheu a ideia de forma entusiástica e que num segundo momento nos propôs contribuir para aumentar o prize-money do torneio e elevá-lo à categoria de European Tour, o que foi para nós obviamente uma cerejinha em cima do bolo. Não queríamos tanto. Queríamos, mas não estávamos à espera de tanto.
Qual o investimento da NAU e que obras de requalificação foram necessárias fazer no resort e no campo nomeadamente?
O orçamento era menor no início, quando começámos a pensar neste torneio. Evoluiu com o facto de a prova passar a contar para o European Tour, praticamente duplicou. Temos todos mais responsabilidades. A NAU faz um contributo para o prize-money em dinheiro que preferimos não divulgar e cede o campo. Este vai estar 15 dias sem operar, o que representa não um custo mas uma redução de receitas.
O resort é cercado e desde a porta de entrada da propriedade até ao campo são três quilómetros, que estamos a requalificar. Olhando para o campo, digamos que na sua versão mais difícil, a partir das brancas, era um campo que seria demasiado fácil. De modo que, como temos espaço, entendemos torná-lo um mais exigente, e por isso temos vindo a fazer algumas obras de requalificação do campo alongando as distância em 12 dos 18 buracos, recolocando alguns obstáculos face à nova distância de saída, fazendo alguns tratamentos de bunkers e zonas de rough que necessitavam de alguma atenção e ainda alguns trabalho de embelezamento para o tornar mais bonito e para o tornar mais elegante.
O facto de Open de Portugal ser pontuável para o European Tour trar-lhe-á muito mais mediatismo do que se se tratasse apenas de uma prova do Challenge Tour…
Temos grandes expectativas em relação a isso, esse é o nosso principal objectivo: que traga repercussões positivas não só na actividade de golfe do campo, mas que traga repercussões positivas na imagem do resort, que nos permita em melhores condições arrancar com os futuros projectos de urbanização e desenvolvimento das áreas que ainda não estão desenvolvidas e que são a maior parte, quer pelo nosso próprio investimento, quer pelo investimento de terceiros, em parceria com outros promotores.
Aquele resort permite construir cerca de cinco mil camas, temos apenas 200 em exploração, há muito para fazer no Morgado do Reguengo, e nós acreditamos que o impacto que a realização do Open este ano e nos próximos dois anos vai criar condições de imagem e de atractividade que facilitarão o desenvolvimento futuro de outras áreas do resort. Aliás, devo dizer-lhe que a partir do momento em que o European Tour anunciou em conferência de imprensa o seu calendário para 2017, a procura pelo campo aumentou instantaneamente. Estamos com três meses de operação em 2017 muito à frente das nossas expectativas de venda e de resultados no campo.
Como tem decorrido até aqui a operação da NAU Hotels & Golf Resorts nos seus três campos de golfe? O campo dos Salgados é dos que mais voltas regista anualmente em Portugal.
Não era assim em 2012, 2013, devido às dificuldades que a empresa enfrentava, mas de facto em 2016 ultrapassou as 40 mil voltas pela primeira vez. É tanto mais notável por ser um campo que, como disse há pouco, não se situa no triângulo dourado. Há alguns campos de golfe fora dele que têm uma forte
actividade junto da população residente, vendendo aqueles cartões anuais, que são muito interessantes para vender voltas, mas menos interessantes do ponto de vista da rentabilidade. Os dois campos de golfe do Morgado em 2016 ultrapassaram as 56 mil voltas, o que também são números notáveis. E vindo os nossos campos de uma situação difícil, foram dos que mais cresceram nos últimos quatro anos. Em 2016 fechamos o ano nos nossos três campos com um valor que pela primeira vez se aproximou das 100 mil voltas. Esperamos ultrapassar este número em 2017.
Já é golfista há muito tempo? Pergunto-lhe isto para saber se tem algumas memórias do Open de Portugal
Comecei a jogar golfe depois dos 40 anos. Os meus primeiros contactos com a modalidade deram-se quando fui viver para Inglaterra, em 1998, 1999. Na altura era director da promoção turística de Portugal no exterior, estive em vários países. Lá, tive ocasião de ir ao British Open três anos seguidos pois tínhamos um stand de promoção da nossa oferta de golfe. Fiquei fascinado com aquele mundo onde tudo começou, os campos míticos na Escócia. Deu-me uma grande vontade de começar a jogar, comecei a ter umas aulas no Verão e hoje em dia sou absolutamente viciado – não consigo passar um fim-de-semana sem pelo menos fazer uma volta de golfe.
Em relação ao Open de Portugal, e ao contrário do mais recente Portugal Masters, não tenho muitas memórias, porque vivi muitos anos fora, mas não esqueço a edição de 2005, quando o nosso Filipe Lima fez aquele chip-in no último buraco para ficar em terceiro lugar, foi fantástico. Conheço-o bem, fui também delegado do ICEP e conselheiro económico da embaixada em Paris e estive um pouco envolvida na opção dele para passar a jogar por Portugal em detrimento de França.
Como avalia o golfe em Portugal na sua generalidade?
Para além dos já consagrados Filipe Lima, Ricardo Santos e Ricardo Melo Gouveia, vejo uma jovem geração de jogadores muito promissores e uma FPG e uma PGA dirigidas por pessoas muito empenhadas em dar um novo impulso ao golfe profissional.
Já não vejo com tanto optimismo a evolução do golfe amador, há estagnação e dificuldades em angariar novos jogadores. Os números da FPG assim o demonstram, há vários anos não passamos dos 15 mil. Mas vejo sim uma FPG com sangue novo e a PGA com trabalho notável a fazerem um trabalho que acredito que poderá dar frutos no futuro próximo.
A nível turístico estamos a registar os melhores anos de sempre. A nossa oferta mantém-se com uma imagem internacional excelente, não há decréscimo da qualidade e credibilidade dos nossos campos, pelo contrário. Temos também um conjunto de novas operações aéreas para o Algarve no Inverno que vão facilitar a vinda de escandinavos, austríacos e alemães, sendo que os britânicos já nos visitam em grande número. Por isso espero um 2017 sob o ponto de vista do golfe turístico em linha com 2016, numa tendência de crescimento e não espero que haja redução nos próximos anos.
Como ponto de interrogação, vamos ver o que é que o Brexit poderá ter como consequência económica. Os anos mais difíceis foram a seguir à crise de 2008, pela forma forte como afectou o Reino Unido.
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*Esta entrevista foi publicada originalmente no suplemento GOLFE do jornal Público de 15 de Abril