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Gonçalo Pinto: novo treinador e nova residência
07/02/2016 17:30 RODRIGO CORDOEIRO
Gonçalo Pinto fez como que um "refresh" na sua vida e na sua carreira / © FILIPE GUERRA

Jogador algarvio muda-se para o Montado e trabalha com galês David Lewellyn

Ano novo, vida nova, treinador novo, casa nova… Foi assim para Gonçalo Pinto em 2016. Aquele que foi um dos melhores jogadores amadores na história do golfe português tem, desde Novembro, um novo treinador, o galês David Lewellyn, o mesmo que trabalha com Ricardo Melo Gouveia e Pedro Figueiredo. E mudou-se no início do ano do Algarve – onde nasceu há 23 anos – para o Montado Hotel & Golf Resort, em Palmela. Para estar perto da sua namorada, Joana Carreira. Aqui diz ter encontrado a estabilidade que procurava, fundamental para ultrapassar os momentos menos bons que tem vivido desde que se tornou jogador profissional no final de 2013. 

GOLFTATTOO – Fala-nos das novidades da tua carreira... 

GONÇALO PINTO – Têm sido algumas agora (risos). No início de 2016, a minha mudança para o Montado. Isto porque arranjei uma forma de aqui ter mais estabilidade no meu dia a dia, de estar mais focado no meu treino, no meu golfe e nos meus objectivos.E sobretudo porque conheci a Joana, a minha namorada, que me tem dado um apoio muito importante, tem-me dado muita força. 

A Joana é do Montado? 

É aqui de Setúbal, é recepcionista do hotel e do golfe no Montado. Estamos a morar no Pinhal Novo. Entretanto mudei de treinador, estou agora com o David Lewellyn e estou a gostar muito da experiência. O Pedro [Figueiredo] e o ‘Melinho’ [Ricardo Melo Gouveia] já me tinham dito que é um treinador diferente do que estamos habituados. É um treinador que gosta de ver todos os aspectos do jogo, que dá importância a tudo, até ao aspecto mental. Tem-me organizado a cabeça, que era o meu principal tendão de aquiles. 

De facto, o Ricardo Melo Gouveia, com o sucesso que tem tido, não tem psicólogo, diz que o David Lewellyn desempenha um pouco também esse papel… 

A vida profissional exige mais pressão no dia a dia e nos objectivos – e ele consegue retirar essa pressão de nós, ver o que realmente importa. O que estava a acontecer comigo é que eu estava à procura do meu próprio caminho, e o que acontecia por vezes é que me sentia perdido nos meus objectivos quando uma coisa ou outra corria mal. 

O David estabelece objectivos para eu ir melhorando dia a dia, passo a passo,  É assim que um jogador chega lá. Eu quero muito e de imediato. O querer muito não é mau, mas não vai ser já  amanhã. O David disse-me que tenho todas as condições para chegar lá. É preciso meter muito trabalho, fazer as coisas bem feitas e não forçar nada, de certa forma…. Não querer ser já o Tiger Woods, mas trabalhar por fases para lá chegar. Deixar as coisas acontecerem, tudo a seu tempo. 

A minha mudança para o Montado tem sido uma das principais ajudas no meu jogo. Consigo ter uma rotina diária, trabalhar as horas que pretendo, o que é importante, estar 100 por cento focado no meu jogo. Depois é a possibilidade de estar próximo de uma pessoa que tem sido importante, que me tem dado um apoio fantástico, no dia a dia e mesmo quando vou para os torneios. As pessoas que estão perto da Joana receberam-me de braços abertos, isso significou muito para mim, é importante ter estabilidade emocional, e a minha mudança para aqui tem-me trazido isso. 

No Montado não te sentes um pouco solitário em termos de treino? 

Não tanto como eu estava à espera. Às vezes tenho a companhia do Miguel Gaspar, e tenho aqui o profissional [do Montado] João Pedro Carvalhosa, temos ido jogar uma vez ou outra, ele é bastante competitivo. Também de vez em quando combino matches com os meus amigos que estão mais perto, como o Tomás Silva, Gonçalo Costa... De qualquer forma o golfe é um desporto solitário, quando passamos a profissionais temos de saber isso, temos de estar preparados, temos de passar tempo com nós próprios e ultrapassar todas as fases. Lá em baixo, em Vilamoura, cada um tem os seus objectivos e rotinas e acaba sempre por ser um desporto solitário. 

Gostaria de mencionar o Marco Andrade, o director no Montado, que me recebeu de braços abertos, uma pessoa que me tem dado toda a liberdade para treinar, o que demonstra a sua personalidade e o sentido de entreajuda para me dar condições para eu chegar onde quero. Estou-lhe grato por isso. 

Como é o teu dia-a-dia? 

Trabalho todos os dias, tiro só um dia por semana, entre seis e oito horas por dia, com uma hora e meia de ginásio. Agora um nutricionista deu-me um plano para ganhar uns quilitos. Estou neste momento com tudo planeado e estruturado.

Gonçalo Pinto já no Montado Hotel & Golf Resort / © D.R. 

Quando iniciaste o trabalho com David Lewellyn? 

Depois do Portugal Masters, a meio de Novembro. No inicio começou por analisar o meu jogo, disse uma ou outra coisa, mas queria conhecer o jogador que eu era, em competição e em treino, para saber o que eu tinha de melhorar em todos os aspectos. Depois escolhemos o caminho que queríamos e a meio de Dezembro iniciámos esse caminho. É sem dúvida diferente treinar com objectivos e sobretudo com mais alegria, em vez de esperar que algo aconteça. Não há milagres. 

Fazes parte do Portugal Golf Team (PGT) e como tal tens toda uma equipa à tua disposição… Que partido é que tiras disso? 

 A PGT para além dos convites para o Challenge tour tem também um fisioterapeuta, treinadores e psicólogo que tem posto a disposição para os jogadores neste projeto melhorarem as suas potencialidades se assim precisarem. Estive uns tempos com o Nelson Cavalheiro e foi bom em termos técnicos, tem muita qualidade, melhorámos alguns aspectos mas senti que estava a precisar de outra coisa, mais de jogo mental, jogo curto, putting. Um treinador pode ser bom para um jogador e não ser bom para outro, como um psicólogo pode não conseguir entrar na cabeça de uma pessoa e pode noutra, não significa que não tenha qualidade. Cada jogador tenta arranjar as pessoas que melhor se adaptem às suas necessidades e daí ser um desporto individual. A nível físico trabalho com GFI [Grupo de Fisiatria de Intervenção, que tem Medicina no Golfe entre as suas especialidades], no Algarve. 

Qual é hoje a tua relação com Joaquim Sequeira, o teu treinador de sempre enquanto amador? 

Procuro manter o contacto com ele o mais possível, dou muito valor, é uma pessoa muito especial para mim, tudo o que eu sei sobre golfe, os fundamentos, foi o Joaquim Sequeira que me transmitiu, foi com ele que cresci... Os pilares da minha carreira foram postos por ele. Foi como um pai para mim, jamais vou pô-lo de parte na minha vida e carreira, afinal, todas as minhas vitórias mais importantes foram obtidas juntamente com ele, não me esqueço. 

Uma vez, em conversa com Joaquim Sequeira, ele disse-me a teu propósito: “Ainda a panela não foi ao lume já a tampa está a saltar porque água está ferver.” 

Ele conhece-me como ninguém, sou um jogador um pouco explosivo, tenho um querer muito forte e sou muito perfeccionista. Se vou -5 ou -6 é para ir -8 ou -9; quando é para ir acima também não pára mais. É esse controlo de emoções que tenho trabalhado. Alguma dessa instabilidade a nível mental também tem a ver com a instabilidade que tenho tido fora do campo, fora do jogo. 

Nos últimos três anos tenho passado por fases complicadas na vida pessoal e familiar, mudanças e realidades diferentes, não tem sido fácil enquadrar com a vida profissional. Apesar de nunca admitir que fosse influenciar no meu jogo, quando vou para um torneio com a cabeça a mil à hora, é mais fácil rebentar mais cedo. É dessa estabilidade que venho à procura no Montado. Estar muito mais calmo e de cabeça fresca, vai ser importante no meu jogo. 

É indiscutível que neste teus primeiros tempos como profissional não tens jogado o teu golfe, o golfe que te tornou num dos melhores amadores da história do golfe nacional… Tal como Pedro Figueiredo, porventura o melhor amador na história português. Vocês tem conversado sobre estes vossos tempos difíceis? 

Temos passado algum tempo juntos, comentamos sempre, assim como comentamos  a fase que o Melinho está a passar. Tem a ver com maturidade, temos de ultrapassar estas fases com trabalho. Se somos capazes de ganhar torneios como amadores, também somos como profissionais. Temos muita qualidade e não desaprendemos de um dia para o outro mas quanto mais forçamos pior. Mesmo no meu primeiro ano como profissional e no início do segundo senti que joguei bom golfe por vezes, agora sinto que na altura forçava as coisas. Sei que tenho o golfe dentro de mim, e quando começar a acontecer e a ganhar confiança, as vitórias e o bom golfe voltam a aparecer. 

Como vês a fase que o Ricardo Melo Gouveia está a atravessar? 

Melhor era impossível, é a prova de que com trabalho e método pode-se chegar lá. Eu talvez tenha mais horas de treino do que ele, mas ele tem tirado mais frutos do treino do que eu. É esse método, essa disciplina, essa organização que tem feito a diferença, as rotinas diárias e os objectivos, toda a vida dele está apontada para o sítio, certo, não tem de forçar nada, as coisas acontecem porque têm de acontecer. É um grande orgulho para nós que o acompanhamos, dá-nos esperança e visibilidade, tem sido importante para ele como tem sido para o golfe em Portugal. 

Qual é o teu calendário para 2016? 

Incerto. Ainda não sabemos quais e quantos convites teremos conseguido para o Challenge Tour, por parte da PGA Portugal. Até final de Março vou jogar Algarve Pro Golf Tour, de modo a preparar a minha época, e depois focar-me no torneios do Challenge Tour, caso apareçam, essa é a prioridade e a maneira de chegar lá, como mostra o Melinho, se houver boa estrutura. No fim do ano jogo a Escola de Qualificação do European Tour. 

Na sexta-feira e no sábado jogou-se o Palmares Classic IV, do Algarve Pro Golf Tour. Por que motivo não jogaste? 

Não estou a jogar porque estou com uma contratura nas costas. Como vou jogar os outros torneios, não quis arriscar e recuperar– jogando este podia hipotecar  os outros. Já me estou a sentir melhor, tenho estado a treinar aqui no Montado embora à base de jogo curto e putting

Quais são os teus actuais patrocínios? 

O meu agente, o Pedro Lima Pinto, que me tem dado um apoio fantástico, apresentou-me na minha passagem a profissional a uma pessoa que tem sido fantástica comigo, o António Raab, administrador da Hilti, que desde o inicio tem acreditado nas minhas potencialidades patrocinando-me em nome da sua empresa. De certa forma, o GFI também é como que um patrocínio, pois não só me dá todo o apoio na parte física, como me dá tratamento em caso de lesão.