Amador do Oporto brilhou entre os melhores profissionais portugueses no Optilink PGA Open
João Magalhães, do Oporto Golf Club, 18 anos, já tem um lugar assegurado na história do golfe nacional. Afinal, ninguém como ele soma tantos títulos no Campeonato Nacional de Jovens: venceu de forma consecutiva duas vezes no escalão de sub-10 anos, duas vezes em sub-12, duas vezes em sub-14 e uma em sub-16, antes de ser travado em 2012 pelo seu companheiro de equipa Pedro Almeida. Mas em 2013 venceu na sua estreia em sub-18 – e logo com um total de 14 abaixo do par em 54 buracos no Oporto, com voltas finais de 66-65.
Desde então, obteve mais um título em provas do calendário federativo, o ano passado, por ocasião do 2.º Torneio do Circuito Liberty Seguros, no Estela Golf Club, ele que havia triunfado neste circuito pela primeira vez com 14 anos, em Janeiro de 2011, em Ribagolfe. Em 2014, não pôde defender o título no Nacional de sub-18 porque na altura representava a selecção portuguesa no Campeonato da Europa por Equipas, e acabaria a época num modesto 10.º lugar no Ranking Nacional BPI, tendo como outro destaque o 6.º lugar, em Abril, no Campeonato Nacional Absoluto, na Quinta do Peru. “Em Agosto estava em 4.º lugar, mas joguei mal os últimos três torneios do ano e caí algumas posições”, diz, a propósito.
Em 2015, já dedicado totalmente ao golfe, as coisas também não lhe estavam a correr de feição: foi 27.º no 1º Torneio do Circuito Liberty Seguros, em Janeiro, com voltas de 86-81; falhou o cut do Internacional de Portugal por oito pancadas, com 75-77; e acabou o 2.º Torneio Liberty no 14.º lugar, com 76-83.
Mas eis que, na última sexta-feira, se tornou numa das grandes sensações, a par de António Sobrinho, no Optilink PGA Open, segunda prova do ano no PGA Portugal Tour, realizada no Onyria Palmares Beach & Golf Resort, em Lagos. Curiosamente, eles jogaram a segunda volta no mesmo grupo (num trio que ficava completo com Elídio Costa), numa partida memorável: Sobrinho fez 65 (-7) para ganhar o torneio, e Magalhães, depois do 76 (+4) do primeiro dia, fez 68 (-4) para repartir o segundo lugar com Ricardo Melo Gouveia, actualmente o melhor português no ranking mundial de profissionais.
Foram esses os melhores scores do torneio e os únicos abaixo das 70. E finalmente, em Palmares, o golfe nacional teve um novo vislumbre daquele que já foi um prodígio precoce do golfe português e que era apontado como uma das suas maiores promessas. “Era?” Talvez seja necessário repôr o verbo no presente. António Sobrinho, lenda viva do golfe português, de 44 anos, ficou impressionado com o seu talento.
Vem aí o Campeonato Nacional Absoluto e uma coisa é certa: os índices de confiança de João Magalhães vão estar lá em cima.
João Magalhães dedica hoje os seus dias ao treino do golfe / © FILIPE GUERRA
GOLFTATTOO – A tua segunda volta no Optilink PGA Open em Palmares, entre os melhores profissionais portugueses, surpreendeu muita gente, tendo em conta que nos últimos tempos não andavas a fazer resultados abaixo do par. Também te surpreendeu a ti?
JOÃO MAGALHÃES – De certa forma, sim. Quatro abaixo é um resultado pesado. Mas eu sabia que estava a jogar bem, o meu swing melhorou muito tecnicamente. Era uma questão de confiança e de ritmo competitivo. Agora dá-me confiança para os próximos torneios.
O que fez a diferença?
Apesar de os meus resultados não estarem a ser bons, tenho tentado ser um pouco mais regular. Joguei o Internacional de Portugal com voltas de 3 e 5 acima do par, o que não é bom, mas é minimamente aceitável, não é um 80. Sabia que era uma questão de tempo, que estas 3 ou 5 acima do par podiam baixar para o par ou para 1 abaixo. Na primeira volta em Palmares só não o fiz porque ia com 5 acima do par após 6 buracos. Durante essa volta, foi difícil acreditar, mas acreditei e fiquei contente por ter recuperado e por ter acabado 4 acima.
Como te sentiste depois daquele 68?
Contente. O que eu pensei foi: finamente consegui jogar uma volta em que pus em campo todo o meu treino. Já andava à espera deste resultado há algum tempo e de um jogo consistente como tive.
Como reagiram os teus companheiros de golfe?
Ficaram surpreendidos, porque não tenho jogado para fazer o resultado que fiz. Os meus amigos mais chegados ficaram muito contentes, porque já sentiam que eu precisava de uma volta assim para de certa forma renascer.
Como foi jogar no mesmo grupo do António Sobrinho, que nesse dia fez 65 para ganhar o torneio?
É sempre bom estar a jogar com alguém que faz 7 abaixo. Fomos sempre muito iguais, ele à minha frente uma ou duas pancadas. Mas não houve uma luta entre nós, eu não estava a competir contra ele, antes pelo contrário, acho que ele puxou por mim.
Numa entrevista ontem publicada no GolfTattoo, Sobrinho diz: “Fiquei surpreendido pelo bom jogador que é o João Magalhães. Poderemos ter aí outra estrela a sério. Se eu dizia que o Gonçalo Pinto era um grande talento, este tem um nível… não lhe fica atrás.” Como vês este elogio?
Fico muito contente. Eu não tinha visto, mas o meu pai mostrou-me hoje. Ouvir isso de um jogador como o Sobrinho é super-motivador.
Sentes-te confortável jogando provas de circuitos profissionais?
Não me influencia o jogo, não penso se estou a jogar com profissionais ou com amadores. O objectivo principal, além de estar a jogar com grandes jogadores, é ganhar ritmo competitivo, é isso que procuro. Antes de Palmares, o melhor torneio que tinha feito foi no 2.º Morgado Classic, do Algarve Pro Golf Tour: fiz 4 acima no primeiro dia e 2 acima no segundo, mas tendo jogado mal em ambos nos últimos buracos. Em termos de resultados não estava a ser positivo, mas estava a ser útil para pôr em prática aquilo que treino.
Presumo que a tua grande próxima grande aposta seja o Campeonato Nacional Absoluto, no final de Abril, uma prova na qual foste 6.º classificado o ano passado na Quinta do Peru.
Amanhã vou para o País de Gales, para treinar com o David Lewellyn [treinador galês que trabalha também com Pedro Figueiredo e Ricardo Melo Gouveia] até dia 14. Já tinha estado com ele há três semanas, na Quinta do Peru. É uma mais valia fazer esta deslocação pouco dias antes do Campeonato Nacional, acho que me deixará ainda melhor preparado. Neste momento estou a trabalhar o down swing, depois de ter demorado mais tempo do que queria a afinar o back swing. Ajudou-me a ganhar ritmo, estou a falhar menos por causa disso.
O Campeonato Nacional joga-se em Santo Estêvão. Agrada-te o campo?
Sim, gosto. Já lá se jogou um Campeonato Nacional. Acho que o melhor jogador dos 130 metros para dentro vai ganhar.
Estando dedicado a 100 por cento ao golfe, como é o teu dia a dia?
Tento fazer uma vida de profissional. Acordo às 8h e o mais tardar às 9h estou no clube, de onde saio por volta das 16h. Três vezes por semana vou ao ginásio ao fim da tarde. Ao fim-de-semana, treino com o Eduardo Maganinho [treinador do Oporto]. Já passei uns tempos no Algarve a treinar com o Pedro Figueiredo e com o Ricardo Melo Gouveia. Aliás, treino muito com o Pedro na Quinta do Peru, acho que nos ajudamos mutuamente.
A tua ida para os Estados Unidos vai concretizar-se?
Estou só à espera do resultado de um exame de inglês, vou sabê-lo em breve. Se tudo correr bem, em Agosto deste ano irei para a Point University, em West Point, na Georgia, onde está o Francisco Oliveira, com quem tenho falado regularmente.