Em ano de eleições na FPG, presidente do CG Estoril procura mudança no organismo
Actualmente presidente do Clube de Golfe do Estoril e campeão nacional de seniores (acima dos 50 anos), José Sousa e Melo foi um dos melhores amadores portugueses de sempre – a própria Federação Portuguesa de Golfe (FPG) já o agraciou –, com inúmeras vitórias nacionais (campeonatos nacionais absolutos foram oito entre 1969 e 1986) e internacionais (ganhou seis vezes o Internacional de Portugal entre 1969 e 1984). Mas esta entrevista não é sobre a sua carreira, mas sobre as próximas eleições (ainda não marcadas, mas que deverão realizar-se no final de Outubro ou em Novembro) no organismo que regulamenta a modalidade no país. É contra a alteração dos estatutos na FPG no sentido de o presidente passar a ser remunerado (há uma Assembleia Geral a 5 de Julho para votação da mesma) e também contra a candidatura de Miguel Franco de Sousa (ainda não oficializada), actual secretário-geral da FPG. Gostaria de ver na próxima direcção uma lista consensual em que estivessem presentes figuras representativas de todos os sectores do golfe nacional – e está a trabalhar para isso juntamente com o presidente do Lisbon Sports Club, Pedro Nunes Pedro, fazendo contactos exploratórios. Não descarta uma eventual candidatura da sua parte.
GOLFTATTOO – Sabemos que está a viver intensamente estes tempos que antecedem as próximas eleições para a FPG com o sentimento de que algo terá de ser feito e mudado. Consta até que se irá candidatar. Verdade?
JOSÉ SOUSA E MELO – Não. Candidatos e candidaturas só depois de se definir exactamente o que se quer para a FPG e qual o perfil das pessoas adequadas às diferentes funções a desempenhar. Se me perguntar se me encontro disponível para discutir e encontrar soluções, a resposta sempre foi e sempre será sim. As candidaturas só depois de se encontrarem equipas coesas e cientes das suas atribuições.
Então tem estado parado?
Não! Muito pelo contrário.
Pode explicitar?
Respondendo ao solicitado pelo Eng. Manuel Agrellos [que está no seu último mandato como presidente da FPG, cargo que exerce desde 1999], que apelou ao voto útil dos clubes no sentido de não deixar o desporto ser absorvido pelo golfe comercial (leia-se CNIG), elegeu-se, há quatro anos, uma direcção que nada mudou na sua orgânica, sem quaisquer ideias originais e composta por elementos cuja actuação se desconhece já que só o presidente e o secretário-geral aparecem.
Para uma revitalização da FPG, juntamente com o presidente do Lisbon Sports Club, Pedro Nunes Pedro, apelámos ao Eng. Agrellos para apadrinhar uma lista consensual onde estivessem presentes representantes dos clubes das diferentes regiões do país, dos clubes sem campo, do CNIG, da PGA, para além de pessoas competentes nas áreas Financeira e de Marketing. Foi-nos aconselhado a apresentar uma lista pois já estava em marcha a candidatura de Miguel Franco Sousa.
Daí em diante encetámos conversas exploratórias com CNIG, PGA, vários clubes e associações no sentido de expormos as nossas ideias e enriquecê-las com as opiniões dessas entidades. É o que continuamos a fazer.
E desses contactos surgirá uma nova lista concorrente?
Mentiria se dissesse que não tenho essa esperança. Há que estabelecer objectivos para a FPG, definir estratégias e programas de acção, escolher pessoas competentes. Tudo isto, claro, dependendo duma envolvente financeira que tem de ser criteriosamente analisada. Veremos o resultado em breve.
© FILIPE GUERRA
Posso concluir que não apreciou positivamente a actuação das direcções anteriores?
O golfe português tem de estar agradecido ao Eng. Agrellos pelo que fez, com sacrifício da sua vida pessoal e sem nunca auferir qualquer rendimento. Também a sua actuação na obtenção do nosso prestígio internacional foi altamente benéfica. Não estamos contra a sua actuação, apenas achamos que se pode, e muito, melhorar.
E acha que esse prestígio internacional pode ser negativamente abalado?
O prestígio é da FPG e não pessoalmente corporizável, pelo que terá de ser transmitido e eticamente não poderia ser de outra forma.
Parece-nos, portanto, que não está muito confiante nas listas que se perfilham… Luís Filipe Pereira, antigo ministro da Saúde, também pondera concorrer.
De facto não estou confiante. Não conheço o Dr. Luis Filipe Pereira, que tem carreira de governante e gestor mas que de golfe não será com certeza especialista. Quanto ao Miguel Franco de Sousa penso que é exactamente o contrário. Pode fazer um bom lugar de secretário-geral mas sem qualquer peso junto de instituições e sem a mínima experiência de gestão. Continuaria tudo na mesma ou pior. Está bem no lugar onde está e bem orientado poderá melhorar.
Tem algum nome pensado?
Claro que há vários nomes cogitados mas que não seria curial enunciar, até porque nada de concreto existe. O que interessa nesta fase será identificar as funções e representações que terão de constituir a direcção: coordenação, finanças, marketing, clubes do norte, centro, sul e insular, clubes sem campo, CNIG, PGA, golfe feminino, formação e desenvolvimento, campeonatos e selecções nacionais. Tudo isto subordinado à estratégia global que se defina, melhor, que se possa definir para o golfe Português, já que há condicionantes.
Numa primeira apreciação parece haver grande ambição nas conversas que estão a desenvolver.
Repito que de concreto nada há que não seja uma vontade grande de melhorar o existente. O objecto da FPG está perfeitamente definido nos Estatutos. Poderemos, isso sim, melhorar a forma de o prosseguir com novos procedimentos e sobretudo com envolvimento de clubes e outras instituições. Os pessimistas dirão que não vale a pena mas nós e os nossos interlocutores temos outra opinião.
Com Tomás Silva, o melhor do Estoril e triplo campeão nacional / © FILIPE GUERRA
Poderia levantar um pouco o véu sobre os temas das conversações que estão em curso?
Não tem grande mistério pois representa um approach racional à gestão global da FPG. Posso, telegráfica e não exaustivamente, aflorar alguns aspectos.
Em relação a aspectos financeiros: com recurso parcos há que fazer opções drásticas e reduzir custos que não se enquadrem estritamente nos objectivos definidos. Alguns exemplos: descentralizar em clubes a organização das provas menos importantes do Calendário, poupar nas viagens não necessárias como idas de representação aos Masters ou British Open, escolher criteriosamente campeonatos internacionais onde representantes nossos estejam presentes e estejam ligados a objectivos qualitativos definidos, apoiar realizações e clubes que se enquadrem nas políticas da FPG, estabelecer uma politica de “sponsorizações” de que advenham benefícios palpáveis para o investidor e muitos mais aspectos que conheceremos depois se empossados.
Nos aspectos organizacionais do tecido clubístico: a FPG têm uma aplicação informática notável, o Datagolf, que fornece um manancial de dados estatísticos que permitem uma análise completíssima do desporto. Não é com certeza totalmente aproveitada e está escondida de quem a paga, clubes e jogadores.
Poderíamos tirar conclusões mais seguras mas sabe-se, por exemplo, que há uma enorme diversidade de tipos de clubes, suas características, dos seus jogadores, etc. Comparemos o Oporto (fornecedor de selecções nacionais de todos os escalões), o Chez Carlos (cinco jogadores activos) e os Advogados (licenciados em Direito). Em comum têm, e apenas, o gosto dos seus sócios pelo golfe mas o tratamento dado pela FPG é rigorosamente o mesmo, não olhando às suas especificidades.
Há que se estudar e implementar um sistema, não estanque, de licenciamento de clubes que deverá ter tratamento diferente por parte da FPG.
Relativamente a aumento do número de jogadores: desporto escolar, aproveitamento de tempos vagos nos campos, taxas de utilização mais baixas para escalões de jovens, protocolos com a PGA para melhorar teoricamente a qualidade dos profissionais de ensino, tudo isto e outras mais são ideias já alvitradas mas de concretização ainda não satisfatória.
E o golfe profissional? A FPG nada tem a ver com a profissão que cada um deseja abraçar, mas considera que seria motivo de espectacular progresso quantitativo haver um golfista de valia internacional de nacionalidade portuguesa. Há que manter e dinamizar uma forte colaboração com a PGA Portugal, muito especialmente na fase de transição de amador para profissional para criação duma mentalidade profissional, com adequada formação, e também criando um programa de competições possivelmente devidamente “sponsorizado”. Apoios que possam vir a ser concedidos aos jogadores deverão estar sempre relacionados com objectivos qualitativos a conseguir.
A conversa evoluiu e possivelmente deveríamos ter começado por lhe perguntar como analisa a situação actual do golfe no país e qual a evolução previsível.
Bem e mal. O Centro do Jamor é uma excelente infra-estrutura para formação e utilização pelos golfistas, o calendário de provas está estabilizado e bem estruturado e possuímos uma aplicação informática para gestão de handicaps excelente e que permite um elevado grau de seriedade no tratamento deste delicado assunto. A Delegação do Algarve da FPG faz um trabalho notável.
Infelizmente o número de praticantes não tem evoluído como se desejaria, presumimos até (as estatísticas estão escondidas) que têm estacionado ou diminuído, em contraste com o número de clubes que tem aumentado desmesuradamente mas que não significam aumento de número de jogadores. Aliás o mesmo jogador, filiado por um clube, é sócio de vários. Comparando com outros países, face ao número de campos e clubes que temos, deveríamos ter muitos mais jogadores e dessa quantidade nasceria uma muito melhor qualidade.
Pensamos também que a idade média do golfista é muito elevada e cada vez mais o será até pelas condições económicas em que vivemos todos. Precisamos de um “rejuvenescimento” por entrada de gente mais jovem.
Há que fazer um estudo sério da realidade do nosso golfe e definir uma estratégia de actuação que terá de envolver seguramente a direcção da FPG, campos, clubes e sociedades gestoras e, dialogando, maximizar as nossas capacidades através da concentração num objectivo comum de conquistar mais adeptos para a modalidade. Para os clubes são jogadores e para os campos são vendas de green-fees.
Uma última questão relativa à próxima AG da FPG, a 5 de Julho, para alteração de Estatutos. Concorda com a possibilidade de se profissionalizar, remunerando, o cargo de Presidente da FPG?
Para quem como eu anda no golfe há dezenas de anos isso é algo de inimaginável. O facto de o enquadramento jurídico das federações desportivas ser único não nos obriga a seguir as pisadas de outros desportos. O golfe é um desporto essencialmente amador e assim deve permanecer e quem o serve deverá fazê-lo com um espírito de missão e amor por uma causa. A profissionalização é da estrutura operacional encimada pelo secretário-geral que obedece às instruções emanadas do direcção.
Aliás achamos muito pouco oportuna esta alteração quando a própria actual direcção da FPG quer propor para novo presidente um funcionário actual que é remunerado. Pode até parecer que foi feita à medida. Foi com certeza um lapso, mas lamentável. Na próxima assembleia-geral do dia 5 de Julho os delegados podem manifestar a sua opinião através do seu voto.