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Miguel Palhota, um aventureiro do golfe no Brasil
05/02/2015 16:39 Rodrigo Cordoeiro
Miguel Palhota fotografado esta semana no seu novo local de trabalho em Foz de Iguaçu / © D.R.

Português assume direcção do campo de golfe do Wish Resort Golf Convention, em Foz de Iguaçu

Miguel Palhota assumiu hoje funções como director do campo de golfe de 18 buracos do Wish Resort Golf Convention, em Foz de Iguaçu, no estado brasileiro do Paraná, junto às fronteiras da Argentina e do Paraguai. Curiosamente, substitui no cargo outro português, Sean Côrte-Real, antigo campeão nacional amador e profissional.

Miguel Palhota tem 33 anos, 9 de handicap, nasceu em Lisboa mas viveu parte da adolescência em Faro, no Algarve. Em 2005 voltou para a sua cidade natal, para fazer a licenciatura em Educação Física e Desporto. O golfe só surgiu em 2007, por iniciativa própria, no antigo campo da Belavista, próximo do aeroporto de Lisboa. “Era o clube mais perto de minha casa e decidi comprar um pacote de aulas”, esclarece nesta entrevista ao GolfTattoo.

O que é certo é que o golfe veio para ficar. Teve formação na área em Portugal, Espanha e Estados Unidos. E a saída profissional no golfe, teve-a não em Portugal, mas no Brasil. Foi contratado como consultor desportivo da Federação Paulista de Golfe (FPG) e assumiu a direcção do FPG Golf Center, a escola de golfe da Federação Paulista, dotada com  uma estrutura completa de treino e prática do golfe, englobando driving range, chipping area, putting green e um campo executivo de 9 buracos, além de um restaurante e duas lojas especializadas. 

Mas não se ficou por aqui. Depois de três anos a trabalhar na Federação Paulista, decidiu arriscar na criação do grupo Golfbiz. E agora, Foz de Iguaçu... “Não fecho as portas a um possível regresso a Portugal mas neste momento da minha vida profissional acredito que terei mais oportunidades de carreira no estrangeiro”, considera. 

GolfTattoo – Como é que tudo começou para ti no golfe? 

Miguel Palhota – O golfe como desporto sempre me despertou muita curiosidade, mas infelizmente nunca tinha tido a oportunidade de o experimentar. Até que em 2007, decidi ter o meu primeiro contacto com o golfe na Belavista, um antigo campo de 9 buracos situado próximo ao Aeroporto da Portela, em Lisboa. Como era o clube mais próximo de minha casa, decidi comprar um pacote de aulas; e assim comecei. Na altura o profissional do campo de golfe era o Manuel Bento, que neste momento encontra-se ligado à Aldeia dos Capuchos. 

Quando é que percebeste que o teu futuro profissional passava pelo golfe? 

Enquanto frequentava a licenciatura em Educação Física comecei a aperceber-me das dificuldades de colocação de professores nas escolas e na instabilidade criada pelas sucessivas mudanças de escola e de cidade, uma exigência natural para quem se encontra no inicio de uma carreira docente. Nessa altura leccionava aulas de ténis e decidi apostar no golfe pela vontade em ter uma carreira internacional. Foi a decisão mais acertada que tomei. 

Qual a formação e os estudos que tiveste na área do golfe? 

Como em qualquer outra área profissional, a formação académica é fundamental e prioritária. Por isso decidi tirar uma pós-graduação em Gestão de Campos de Golfe no Les Roches, uma escola internacional de Hotelaria localizada em Marbella, no sul de Espanha. Completei ainda o programa académico da Golfbusiness Partners, um programa de formação superior na Direção de Projetos e Campos de Golfe do grupo Golf Business Campus, que está dividido em quatro grande blocos: direcção empresarial, desenvolvimento de projetos, operação de campos de golfe e valor acrescentado do golfe. Possuo também uma certificação do Frenchman’s Creek Beach & Country Club, tirada na Florida, e o curso de treinador de nível 1 da Federação Portuguesa de Golfe. 

Possuindo tu o curso de Treinador de nível 1, tens alguma filosofia de ensino ou algumas linhas pelas quais te reges neste capítulo? 

Apesar de ser Licenciado em Educação Física e Desporto, neste momento não estou ligado à área do ensino. Eu acredito que a abordagem inicial ao golfe deve ser a mais segmentada quanto possível mas sem perder a ideia global do jogo. Por vezes verifico que alguns professores tornam o ensino do golfe demasiado técnico e que eliminam a vertente ‘’jogo’’ durante o ensino.  Eu sou muito apologista do conceito de Snag pelo facto de o ensino ser focado em objectivos (alvos) e de sempre existir uma componente lúdica na aprendizagem. Usando um cliché muito comum na área da Educação Física, "aprende-se a jogar, jogando’’.

Fotografado em Janeiro numa visita informal à redacção do GolfTattoo / © FILIPE GUERRA

Disseste que estiveste nos Estados Unidos… Conta-nos essa experiência. 

A minha experiência nos Estados Unidos foi fantástica. Estagiei cerca de um ano no Frenchman´s Creek, um campo de golfe privado em Palm Beach Gardens, na Flórida. Durante esse ano completei a formação dada pelo clube e fiz um cross-training por todos os departamentos do clube.  Depois disso tive ainda uma pequena passagem por um campo de golfe de Nova Iorque chamado Fresh Meadow Country Club, em Long Island, onde exerci a função de caddie. Como caddie aprendi a lidar com os golfistas de uma forma totalmente diferente e com isso entendi melhor as necessidades dos golfistas no campo de golfe. Foi um ano muito interessante e proveitoso por ter vivenciado o quotidiano de dois campos muito exclusivos e com uma cultura golfística admirável. 

Fala-nos da tua primeira experiência profissional no golfe no Brasil, na Federação Paulista de Golfe? 

Antes de mais, quero aproveitar para agradecer à Federação Paulista de Golfe a oportunidade que me concedeu. A minha responsabilidade foi a de gerir operacionalmente o campo de Pitch & Putt e o driving range da entidade. Foi uma experiência bastante gratificante em todos os níveis, não só em termos profissionais, como também em termos pessoais,  uma vez que me permitiu absorver a forma de trabalhar e de estar dos brasileiros. 

Por que razão deixaste a Federação Paulista de Golfe, com o objetivo de  trabalhar na criação do Grupo Golfbiz? 

Depois de 3 anos a trabalhar na Federação Paulista de Golfe decidi que era o momento de crescer profissionalmente. Analisei os prós e os contras e ao visualizar o potencial de crescimento do golfe em vésperas dos Jogos Olímpicos decidi arriscar na criação do grupo Golfbiz. Como o golfe no brasil ainda tem pouca expressão, a única solução foi apostar em vários segmentos. Daí nasceu a Golfbiz e a Golfnet. 

Entretanto foste escolhido para ser o novo diretor do campo de golfe do grupo GJP, o do Wish Resort Golf Convention, em Foz de Iguaçu… Um complexo que, até Novembro de 2014, dava pelo nome de Iguassu Resort e que teve como director, nos últimos três anos, outro português, Sean Côrte-Real, que entretanto saiu para assumir funções no Las Colinas Golf & Country Club, em Alicante, Espanha. Agora, vais substituí-lo… 

Sim. Participei no processo selectivo da GJP e tive o privilégio de ter sido o escolhido para dar continuidade ao trabalho do Sean Côrte-Real. É um desafio profissional muito aliciante. 

Chegaste a falar com o Sean Côrte-Real? 

Claro. O Sean é uma pessoa muito aberta e disponível. Encontrámo-nos algumas vezes durante o tempo em que ele esteve em Foz e trocámos várias ideias. O Sean tem muita experiência e deu-me várias sugestões e conselhos. O golfe brasileiro perdeu um excelente profissional.  

Fala-me um pouco do Wish Resort Golf Convention e do trabalho que te espera lá? 

O Wish Resort Golf Convention é administrado pela rede GJP e situa-se numa área de 1,7 milhões de metros quadrados, dos quais 600 mil metros quadrados são destinados ao campo de 18 buracos. O campo de golfe foi reformulado recentemente pelo arquitecto Erik Larsen, que trabalhou 28 anos na Arnold Palmer Design Company. Uma vez que é um projecto novo há a necessidade de criar toda a base estrutural do clube. A minha filosofia é apostar forte na qualidade do atendimento e na personalização dos serviços. No Brasil, a existência de caddies nos clubes possibilita um conceito de gestão mais americano, que, quando bem estruturada, traz benefícios para clientes e sócios do clube. 

Já conheces bem a região e as cataratas?  Vais ficar a morar onde? 

Não, só estive dois dias em Foz de Iguaçu e não tive oportunidade de conhecer a cidade nem as cataratas. No inicio vou ficar hospedado no hotel do resort até encontrar um local para viver em Foz de Iguaçu. 

Como vês o golfe no Brasil? 

O golfe no Brasil tem alguns problemas estruturais, como os altos encargos na importação de material de golfe e uma filosofia um pouco fechada por parte de alguns clubes, jogadores e dirigentes. Além disso, o golfe no Brasil ainda é visto como uma modalidade típica para a terceira idade ou para pessoas de alto poder aquisitivo. Para que o golfe se desenvolva mais no Brasil é fundamental ir desmistificando esses preconceitos e oferecer locais de prática e de ensino acessíveis, com um enquadramento técnico de qualidade para que o golfe se constitua em uma modalidade desportiva para todos e para toda a vida. 

Vais marcar presença ao vivo na competição de golfe dos Jogos Olímpicos, em 2016? 

Sem dúvida. É um evento que não vou querer perder. Essa foi uma das principais razões que me fez vir para o Brasil. A oportunidade de poder trabalhar com golfe num país que vai presenciar o regresso do desporto nas Olímpiadas de 2016 depois de mais de 100 anos de ausência. 

Até que ponto o regresso do golfe aos Jogos é importante para a modalidade no Brasil? 

A imagem que está associada ao golfe é o principal entrave para a entrada de novos jogadores. A partir do momento em que o desporto tiver mais visibilidade na comunicação social, um maior número de jogadores vai iniciar-se na modalidade. Eu acredito que o golfe no Brasil vai viver um crescimento significativo aproveitando o legado das Olimpíadas. 

Conheces outros portugueses que trabalham no brasil na área do golfe? 

Sim, o Benjamim Silva e o António Miranda, ambos da Progolf. A Progolf foi responsável pela construção do campo de 18 buracos da Fazenda Boa Vista, projetado por Arnold Palmer, e eles estão ainda ligados à construção do campo das olimpíadas, no Rio de Janeiro, em colaboração com o arquiteto Gil Hanse. Há ainda o José Gama que é o representante da marca Snag Golf no Brasil. 

E em Portugal, como vês o estado do golfe?

 Em primeiro lugar quero  dar os parabéns ao Algarve por ter sido eleito “Destino de Golfe Europeu” do ano 2014, atribuído por mais de 500 operadores membros da Associação Internacional dos Operadores Turísticos de Golfe (IAGTO). É um prémio reconhecido para o Algarve e para todos os profissionais da indústria envolvidos. 2014 foi também o melhor ano de sempre do turismo em Portugal, com crescimento superior a 10% face ao ano recorde. Estes dados são bastante positivos e demonstram a importância que o turismo pode ter na sustentabilidade do golfe em portugal. Acredito também que Portugal deve apostar ainda mais no aumento de jogadores portugueses. Estive recentemente em Portugal e aproveitei para conhecer o campo de golfe do Jamor e o Oeiras Park. Considero que para o desenvolvimento da base do golfe português estes dois projetos podem agregar muito valor ao promover a entrada e fidelização de novos jogadores. Nessitamos de apostar mais em campos de pitch & putt e ‘’lutar’’ para introduzir o golfe nas escolas através de sistemas como o do Snag Golf ou outros semelhantes. Se despertamos o interesse pelo golfe na escola estaremos a semear o futuro do golfe português. 

Não sentes falta de Portugal? 

Claro. Portugal é um país fantástico para se viver. Não fecho as portas a um possível regresso a Portugal mas neste momento da minha vida profissional acredito que terei mais oportunidades de carreira no estrangeiro.