AcyMailing Module

Entrevistas
> Home / Artigos
O céu é o limite para Ricardo Melo Gouveia
10/07/2014 19:29 Rodrigo Cordoeiro
"Melinho" representou os Knights da UCF, em Orlando (Florida), nos últimos três anos / © DR

Prestes a estrear-se na sua primeira competição como profissional depois de ter representado a selecção da Europa na Palmer Cup, Ricardo Melo Gouveia deu uma entrevista exclusiva a GOLFTATOO. Confiança não lhe falta para esta nova etapa da sua vida.

GOLFTATTOO - Qual é o teu estado de espírito neste momento em que passaste a profissional e se avizinham os primeiros torneios?

RICARDO MELO GOUVEIA - Estou muito contente, excitado, com vontade de começar esta nova etapa. Desde miúdo que sonho em tornar-me profissional.

Estás numa boa fase do teu jogo? Sentes que esta foi uma boa altura para passares a profissional?

Sim, sim, foi na melhor altura. O meu jogo já esteve melhor, mas está outra vez a voltar ao pico. Estive com o meu treinador [David Llewellyn] na Palmer Cup, na primeira volta de treino. Ele deu-me lá umas dicas e eu tenho estado a treinar muito para as próximas semanas e torneios. Podia ter começado a jogar logo na semana seguinte à da Palmer Cup, mas achei melhor acalmar, vir a Portugal, treinar e preparar-me a nível de jogo e mentalmente.

Havia alguma coisa para afinar na Palmer Cup com o teu treinador, tendo em conta que semanas antes falhaste o cut no British Amateur, no teu penúltimo torneio como amador?

Sim, havia ali uma coisa ou outra no set up que não estava bem e que me estava a causar os maus shots de que dei no British Amateur. E foi uma coisa que ele viu automaticamente e que não era muito difícil de corrigir. Ajudou-me um bocadinho a fazer uma boa prova na Palmer Cup.

Já sei que a tua carreira vai ser gerida pelo Hambric Sports Group…

Sim, é o mesmo agente do Pedro Figueiredo. Eu conheci o Rory Flannagan, que é o meu manager, e o boss dele, o Rocky Hambric, o ano passado, no Portugal Masters. Mantive-me em contacto com o Rory, mas sem que ele alguma vez mostrasse que estariam interessados em mim, nada disso. Mas como eu estava a jogar bem este primeiro semestre do ano, o Rocky Hambric, que é o dono da empresa, falou com o Rory e decidiram fazer-me uma proposta no sentido de me representarem.
Depois também recebi outra proposta de uma companhia lá dos Estados Unidos, chama-se 4U Management. Mas eu já conhecia o Rory e a Hambric, e além disso vinha para a Europa , pelo que fazia mais sentido assinar com eles. Também sei que são pessoas de palavra, disseram-me que me arranjavam “x” convites para o Challenge Tour e cumpriram. Há muitos managers que dizem que sim, que vão arranjar isto e aquilo e depois não conseguem nada.

Que torneios é que eles te arranjaram?

D+D Real Slovakia Challenge [Eslováquia, 10-13 Julho], Swiss Challenge [Suíça, 17-20 Julho], Le Vaudreil Golf Challenge [França, 24-27 Julho]. Há também a possibilidade de jogar no Azerbaijão [Azerbaijan Challenge Open 31 Julho - 3 Agosto], mas nesse caso não iria a França, porque depois eram muitos torneios seguidos. Depois vou ter o Campeonato Nacional PGA Portugal e outros dois do Challenge Tour, um obtido através da Hambric [na Finlândia [VACON Open, 14-17 Agosto] e outro pela PGA [ainda desconhecido]. Em princípio devo jogar cinco ou seis do Challenge Tour. Se jogar bem, vou ter mais.

Estás confiante de que vais conseguir ter sucesso no Challenge Tour?

Estou. Acho que se fizer o meu jogo, se me concentrar nas coisas principais, se não me deixar levar muito por isto de ser profissional e de estar a jogar por dinheiro, acho que vou conseguir jogar bem, alcançar os meus objectivos. Sei que agora de início vai ser um bocadinho diferente, o ambiente, mas é uma questão de me habituar.

Como grande amigo do Pedro Figueiredo, como é que vês este seu primeiro ano como profissional?

Estava à espera que ele começasse um bocadinho melhor. Ele entrou numa fase muito difícil. No último torneio que ele jogou como amador, há um ano, ele estava já com muita falta de confianç e já um bocadinho cansado. Depois jogou quatro semanas seguidas no Challenge Tour e foi-se agravando, o que tornou difícil a saída dessa bolha de falta de confiança. Mas penso que agora já está a recuperar e com vontade de voltar ao nível de jogo que mostrou em termos de amador.

Pelo teu entendimento com o Pedro, tiraste algumas ilações que possas utilizar em teu benefício agora que passa também a profissional?

Pela experiência do Pedro percebi que não podia cometer o mesmo erro, ou seja, querer passar logo muito rápido e jogar muitos torneios seguidos, só por ter os torneios. É claro que temos de se aproveitar as oportunidades que temos, mas também tem de se perceber o estado mental em que se está, o nível de jogo, essas coisas todas, para ter as melhores hipóteses de jogar bem nos torneios.

Como eras como jogador quando foste para os EUA e como és hoje em dia, quatro anos depois?

Quando fui para os EUA o meu forte já era o jogo comprido, sempre fui mais ou menos bom de ferros compridos, de driver, mas faltava-me controlo de distância e faltava-me o jogo curto, os putts… O putt foi sempre uma coisa… mesmo nos EUA tive alguns problemas nesse capítulo, mas fui sempre treinando e, com os apoios necessários, melhorei muito. A parte em que melhorei mais foi de 100 metros para dentro, o jogo curto e o putting. Essa é a grande diferença, para melhor, em relação ao passado.

Qual consideras ter sido o momento mais alto da tua carreira amadora?

Acho que foi este torneio da Palmer Cup. O Campeonato Nacional Absoluto de 2009 também foi muito importante, porque estava numa má fase da minha carreira, mas o ter sido convocado para esta Palmer Cup e o ter participado foi um momento muito alto na minha carreira. Pelo facto de ter representado a Europa, e pela maneira como ganhámos no último dia, com uma vantagem de sete pontos contra uma equipa dos EUA muito mais forte no papel do que nós. Não sei como é jogar a Ryder Cup, mas deve ser um bocado assim.
Também conheci pessoas espectaculares, como o treinador, o Andrew Coltart, que já jogou a Ryder Cup e tem imensa experiência. Os meus colegas de equipa da Europa também foram sempre muito porreiros, sentia-se aquele espírito de Ryder Cup, estávamos com muita vontade de ganhar
Não posso esquecer o facto de ter recebido o tal prémio do Michael Carter Award. Eu tinha um bom feeling que ia ganhar, porque dou-me muito bem com todos os jogadores dos EUA e conheço bem o treinador deles, e a escolha é feita pela equipa americana. Foi óptimo eles terem reconhecido esse meu lado mais pessoal.

Na Palmer Cup contribuíste com 3 pontos em 4 possíveis e venceste as tuas duas partidas de singulares, batendo Brandon Hagy e Stewart Jolly, número 18 e 21 do ranking mundial amador [Ricardo Melo Gouveia ocupava a 57ª posição na tabela quando jogou este seu último torneio como amador]…

Sim, exactamente. Ganhei ao Brandon Hagy, que me ganhou nos quartos-de-final do US Amateur no inicio do Verão passado, perdi no play-off. No match da Palmer Cup em que o defrontei, estiva sempre a perder, entre para o 16 a perder 2 buracos e ganhei os últimos 3 para ganhar o match.

Das cinco vitórias individuais que obtiveste nos EUA qual foi a que mais gozo te deu?

Acho que foi a última, em Abril, no FAU Slomin Autism Invitational [em Lake Worth, Florida]. Foi numa altura importante da minha carreira amadora, porque estava à espera de receber algumas propostas de empresas de management.

Vais sentir falta dos EUA?

Vou. Já estou a sentir um bocadinho a falta de estar com os meus colegas de equipa. Mas já lhes disse que irei visitá-los na off season, no Inverno, para treinar com eles, nem que seja uma semana, duas. E estar um bocado com o meu treinador da UCF, naquele ambiente. Ia fazer-me bem.

Ambicionas o PGA Tour?

Sim, esse é o objectivo principal. Por outro lado, sempre quis começar a minha carreira profissional na Europa, é a minha casa, é aqui que está o meu treinador… Sendo a vida do profissional de golfe tão solitária, acho que o melhor é começar por aqui.

Consegues imaginar-te a jogar a Ryder Cup?

Sim, consigo. Esse é outro dos meus objectivos desde criança. E como cresci com o Pedro [Figueiredo] e joguei muitos torneios com eles, um dos nossos sonhos era jogar juntos a Ryder Cup.

Quem foram as pessoas mais importante na tua carreira amadora que agora finda?

A minha família, a minha mãe, o meu pai; o David Llewellyn, que começou a trabalhar comigo e com o Pedro há 9 ou 10 anos. Ajudou-me muito na preparação da ida para os EUA, a nível técnico; ajudou-me a perceber mais o meu swing, pois eu ia estar lá [nos EUA] muito sozinho; o Eric Abreu, que era o treinador assistente Lynn University, ele era o treinador assistente quando lá estávamos e foi ele que nos ajudou em tudo, foi uma grande ajuda lá nos EUA; e depois foi o Bryce Wallace, era meu treinador lá na UCF, foi muito importante, evoluí muito com ele, que é uma pessoa muito organizado, muito estruturada, que percebe muito de golfe; preparou-me bem para esta minha passagem a profissional, uma vida em que vou estar sempre praticamente sozinho em hotéis, a viajar; a Federação Portuguesa de Golfe, que me apoiou nos anos de amador sempre nas selecções, nas viagens, nos torneios, em tudo; o Clube de Golfe de Vilamoura, primeiro através do Fernando Nogueira, que foi o meu primeiro professor em Vilamoura, tive muitas aulas com ele; depois através do Joaquim Sequeira. Acho que não me estou a esquecer de ninguém.