Miguel Franco de Sousa sozinho a eleições para segundo mandato na Federação
Hoje é dia de eleições na Federação Portuguesa de Golfe e, ao contrário das últimas duas (2011 e 2016), em que houve duas listas concorrentes, há desta vez só uma, a de Miguel Franco de Sousa, que vai assim ser reconduzido como presidente. Nesta entrevista, entre outros temas, o dirigente aborda o estado actual do golfe em tempo de pandemia, faz um balanço positivo do seu primeiro mandato e perspectiva o futuro.
GOLFTATTOO – Dadas as condições de excepção apresentadas pelo actual quadro pandémico, as federações desportivas viram o estatuto de utilidade pública desportiva prolongado até 31 de dezembro de 2021, podendo também prorrogar o mandato dos actuais órgãos sociais por mais um ano, até ao final dos Jogos Olímpicos de Tóquio. O adiamento das eleições nunca esteve em cima da mesa?
MIGUEL FRANCO DE SOUSA – Sim, foi equacionado. No entanto consideramos que o cumprimento da duração dos mandatos deveria manter-se, por uma questão de estabilidade e previsibilidade, pois caso se adiassem as eleições por mais um ano o mandato seguinte seria de apenas três anos, o que consideramos manifestamente curto.
Muitas modalidades, entre elas o Futebol, Ténis, Ténis de Mesa, Atletismo, Natação, Andebol, Voleibol ou Hipismo, apenas para referir algumas, realizaram as suas eleições este ano.
Independentemente de estar já virtualmente reeleito, o que espera deste sufrágio – o que considera um bom resultado?
Quem tem ideias e projectos e considera que tem condições para liderar a Federação deve avançar. Foi o que fiz em 2016 e novamente este ano. Ser candidato único revela duas realidades muito objectivas: a primeira é que existe uma larga maioria de apoio que entende que estamos a fazer um bom trabalho. A segunda evidencia que os mais críticos não têm capacidade de apresentar ideias e projetos para o Golfe Nacional. É fácil comentar nas redes sociais o nosso trabalho e expor algumas ideias utópicas. O difícil é passar das palavras à acção.
É natural que haja uma abstenção acentuada, pois numa situação de candidatura única os Delegados sabem qual vai ser o desfecho. No entanto, acredito que bastantes Delegados assumam a sua responsabilidade e se desloquem a uma das urnas de voto (Porto, Lisboa e Algarve) para exercerem o seu direito e manifestarem a sua vontade. Faço esse apelo, é importante que os Delegados votem na nossa lista, mesmo nesta situação de lista única.
Quais são os desafios que se lhe apresentam num segundo mandato que se vai iniciar sob o signo da pandemia e de uma grave crise económica, e até com limitações na prática desportiva?
O projeto apresentado em 2016 – Crescer para Vencer – é um projeto a doze anos que tem como princípio básico a capacitação dos clubes para que possam desenvolver e implementar estratégias de crescimento, quer em qualidade, quer em quantidade.
O golfe, sendo uma modalidade naturalmente segura, não registou os índices de abandono de outras modalidades. Por exemplo, cinco grandes federações desportivas de Portugal – Andebol, Basquetebol, Futebol, Futsal, Hóquei em Patins e Voleibol – perderam quase 174.000 federados. Uma quebra de 79% face ao ano passado. No Golfe, registamos uma perda de apenas 3% e alguns clubes até registaram crescimento.
Vamos ter grandes desafios pela frente, nomeadamente no que diz respeito à disponibilidade financeira dos clubes e campos para poderem fazer o seu trabalho. Nesta área o Estado pode desempenhar um papel importante, pois ao investir no Desporto está a investir na saúde pública e no desenvolvimento de uma sociedade moderna e activa.
Uma nota importante: o Golfe, pela sua ligação ao turismo, tem um potencial que eu diria que é único no quadro do desporto para contribuir para a retoma económica do país, quando a crise pandémica for desaparecendo. Temos o dever de continuar a transmitir essa potencialidade aos nossos governantes, porque este é um setor que gera muito valor ao país em termos de emprego e de dinamismo económico.
Quais têm sido os danos da pandemia na indústria do Golfe Nacional?
Temos duas realidades distintas. Em termos de praticantes federados, tal como já referi, verificamos uma estabilização dos números face ao ano passado e tivemos, inclusivamente, crescimento em alguns clubes. Por outro lado, na indústria do turismo de Golfe, estamos perante uma verdadeira catástrofe, em particular no Algarve. O cenário é desolador do ponto de vista económico e social. O que ainda vai mitigando o impacto da pandemia é o facto de alguns clubes no Algarve terem uma estrutura de sócios significativa.
Mais do que nunca, a redução da taxa máxima do IVA para o golfe, um produto exportador, é uma questão premente?
O estudo de impacte macroeconómico encomendado pela FPG à Deloitte apresentou um conjunto de números que veio atestar, uma vez mais, a importância do Golfe para Portugal. Estamos a falar de uma modalidade desportiva que tem um impacto económico direto e indireto na ordem dos dois mil milhões de Euros, representa 16.500 postos de trabalho e contribui em 140 milhões de Euros para os cofres do Estado em receita fiscal. Estamos a falar de uma modalidade desportiva de vital importância para o país. Estamos a falar de uma modalidade desportiva que contribui para o combate à sazonalidade nos destinos caracterizados pelo sol e praia – tal como é o Algarve.
Os governantes têm de compreender esta importância e, de uma vez por todas, assumir o seu papel e desenvolver um quadro fiscal que contribua para a sustentabilidade deste sector. Isto é algo que vimos defendendo desde 2016. Não podemos parar de reivindicar algo que consideramos elementar e fundamental à sobrevivência dos sobreviventes a esta pandemia.
Não haverá até uma janela de oportunidade para o golfe se revelar como um desporto alternativo – individual, ao ar livre, vocacionado para uma componente familiar, desafiante e, ao mesmo tempo, não tão caro quanto o pintam? Uma oportunidade para o mercado interno crescer? Tenho ouvido alguns relatos positivos nesse sentido.
O Golfe não é uma modalidade alternativa. O Golfe é uma modalidade principal e que tem um elevado potencial de crescimento.
Vamos, sem dúvida, enfrentar uma crise económica nos próximos anos, mas, ao mesmo tempo, temos uma oportunidade única para atrair novos praticantes para o golfe caso sejamos capazes de transmitir os benefícios do Golfe numa mensagem clara e abrangente.
As grandes perdas de outras modalidades – com as quais não nos regozijamos, pelo contrário –, apresentam efetivamente uma oportunidade para o Golfe. Mas esta oportunidade tem uma janela de tempo curta e exige uma acção concertada com todos aqueles que contribuem para a nossa modalidade.
Em termos práticos, como é que o trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos poderá contribuir para o crescimento do golfe nos próximos quatro.
Como referi anteriormente e venho dizendo desde 2016, este trabalho consiste na criação de fundações sólidas para que se possa construir uma modalidade que possa registar crescimento sustentável, tanto quantitativa como qualitativamente.
Acreditamos que o Clube é o principal vetor de desenvolvimento da modalidade desportiva, não deixando de fora os agentes que contribuam para este fenómeno. Falo, por exemplo, de treinadores, campos ou gestores de Golfe.
Neste sentido temos desenvolvido, tal como tínhamos prometido em 2016, projetos de aplicabilidade local que tornem os clubes mais fortes.
Certificação de Academias de Golfe, Formação de Treinadores ou o financiamento aos clubes através do Fundo de Desenvolvimento do Golfe são algumas dessas iniciativas.
Aqueles leitores que tiveram a oportunidade de ler o Manifesto de Candidatura puderam ver que tudo aquilo que prometemos fazer há quatro anos está hoje implementado. Cumprir o programa com o qual fomos eleitos sempre foi para nós um ponto de honra!
Mantém que o objectivo é chegar aos 50 mil praticantes filiados na FPG em 2028. Neste capítulo, o do número de associados, que evolução houve? A percepção geral irá sempre por aí. Não seria de esperar que, ao fim do primeiro mandato, o número de licenças tivesse animado, mesmo descontando o ano corrente atípico? Houve várias campanhas no sentido da popularização da modalidade, posso referir as duas que foram feitas no Dia do Golfe, no Jamor, em parceria com a Rádio Comercial.
Em 2016 tínhamos pouco mais de 14.000 federados e em 2019 fechamos o ano com 15.600. Estamos a falar de um aumento da ordem dos 10%.
Esperávamos mais? Claro que sim. Acreditamos que podemos ir sempre mais além, mas os projectos sólidos precisam de tempo de maturação para que os resultados apareçam.
Temos investido muito na comunicação da modalidade para fora de portas com as iniciativas que refere, mas muito mais foi feito, quer ao nível da comunicação institucional como, por exemplo, nas redes sociais.
Continuo a acreditar que um grande herói faz muita falta para que os jovens espalhados por este país fora possam olhar para o Golfe com outros olhos.
Os resultados que temos visto do Miguel Oliveira no Moto GP irão certamente dar os seus frutos e estão a dar uma visibilidade ao motociclismo nunca vista.
Chegar aos 50 mil federados não é uma utopia? Pode até não parecer um número tão alto, quando se sabe que a FPG tem na sua base de dados mais de 30 mil, contando com as licenças inactivas. A Federação de Padel, tendo cerca de sete mil filiados, estima haver 70 mil praticantes. Mas colocar a FPG com 50 mil filiados seria elevar o golfe a uma das grandes potências do desporto nacional federado a seguir ao futebol.
Vejamos. O Golfe é uma modalidade que tem como praticantes federados quer os recreativos, quer os competitivos, pois o Handicap – que é um elemento fundamental na prática do Golfe – só é atribuído a um praticante federado.
Se considerarmos apenas os atletas que competem na verdadeira assunção da palavra, ou seja, não considerando a competição social e recreativa, o número de federados seria muito, mas mesmo muito inferior.
Acredito piamente que o Golfe tem uma enorme capacidade de crescimento que é, aliás, fundamental para a sustentabilidade do seu ecossistema. Um aumento significativo de praticantes de Golfe em Portugal iria contribuir para uma indústria mais robusta, menos dependente dos mercados internacionais, tão voláteis, como temos visto ao largo das últimas décadas.
Afirma no seu manifesto eleitoral que todos os programas propostos em 2016 foram efectivamente implementados. Pego num dos drivers constantes do mesmo: a Certificação de Academias de Golfe. Que balanço faz? Consegue desfazer o argumento contra que tem sido utilizado, que é o de estar a começar a casa pelo telhado, que não se pode comparar o golfe com o futebol, pois se os praticantes são escassos, elas de pouco servem?
Faço um balanço muito positivo relativamente a esta área em particular. A formação de atletas é um assunto sério e só deve ser levado a cabo por entidades que tenham a capacidade de assumir essa responsabilidade. É um processo inclusivo e evolutivo.
Sendo um projecto inovador, mesmo a nível internacional, é natural que seja visto com desconfiança, pois a natureza humana é bastante avessa à mudança e inovação.
Sabíamos que se quiséssemos crescer tínhamos de pensar diferente e por isso estudámos o que outras modalidades estavam a fazer e o Futebol é um bom exemplo disso. O Futebol português é uma referência mundial ao nível da formação e percebemos que o caminho a percorrer seria semelhante, mas acautelando, naturalmente, a especificidade da nossa modalidade.
A Certificação de Academias contribui precisamente para começar a casa pelas fundações, pois estamos a dar ferramentas e fundamentos sólidos a todos aqueles que pretendam iniciar-se no Golfe, com perspetivas de desenvolvimento bem definidas e com processo de transição claros.
O tempo encarregar-se-á de avaliar se esta aposta foi tão correta como foi para o Futebol.
Uma das primeiras medidas que tomou no início do mandato foi o aumento das quotas da FPG em 20 por cento, de €50 para €60, com o compromisso, se não estou em erro, de que 50 por cento desse aumento seria devolvido aos clubes, através do então criado Fundo de Desenvolvimento do Golfe. Quais foram os resultados neste capítulo?
Foram esses mesmos! Devolvemos aos clubes o valor de acordo com a sua classificação – evolução de sócios, percentagem de senhoras e juniores e se tinham academia certificada. O restante foi aplicado no Fundo de Desenvolvimento do Golfe.
Quanto ao Fundo em si ficamos muito satisfeitos com os resultados, pois distribuímos cerca de 115.000 Euros por vários clubes em 2018 e 2019. Tivemos clubes que aplicaram exemplarmente o Fundo, construindo instalações de apoio ao treino, adquirindo meios de transporte para alunos ou para projetos de desenvolvimento da modalidade, entre outros. Por outro lado, tivemos clubes que claramente não tinham a capacidade de concretização que achavam ter e foram dados passos maiores do que a perna. Mas isso faz parte do crescimento. O fundamental é que a FPG continue este trabalho de proximidade e de colaboração permanente. Estamos ao lado dos clubes para fazer este caminho com eles.
Com a vencedora da prova feminina da Taça da Federação - BPI, Leonor Medeiros, em Outubro © Vasco Vilhena
Quanto custa o Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor no orçamento da FPG e como tem decorrido a operação? O investimento no TopTracer justificava-se, tendo em conta que é uma estrututura eminentemente lúdica. Por outro lado, a loja da Nevada Bob’s encerrou por falta de clientes.
O Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor pretende ter uma operação equilibrada, sendo a sua principal vocação a de captar e reter praticantes de golfe e providenciar um plano técnico-pedagógico de qualidade.
Graças a uma gestão rigorosa o Jamor tem sido sustentável e com uma operação financeiramente equilibrada. Mas mesmo que custasse, seria um investimento no fomento e desenvolvimento da modalidade.
Quanto ao Top Tracer devo esclarecer que não é um investimento, mas sim um aluguer de equipamento.
Este equipamento é fundamental quando queremos inovar para atrair novos praticantes e tem um formato muito apelativo para as camadas mais jovens – jogadores e não jogadores –, mas também de apoio ao treino.
A operação do Top Tracer contribuiu para o aumento de vendas de bolas de treino e regista alugueres que permitem que os custos sejam pagos com as receitas geradas com este produto.
Quanto à loja estamos convictos que passando a gestão para a FPG iremos ter os resultados pretendidos. 1) aumentar a rentabilidade do espaço, que era muito reduzida e 2) disponibilizar produtos e serviços adequados e enquadrados na filosofia do Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor. Estamos convictos que iremos prestar um serviço melhor aos golfistas com esta solução.
Que balanço faz destes quatro anos em termos de resultados desportivos? Certamente que lamenta o cancelamento do Troféu Eisenhower (a prova masculina dos World Amateur Team Championships), que estava previsto para Setembro em Singapura, onde Portugal poderia fazer figura com um trio composto eventualmente por Pedro Lencart, Daniel Rodrigues e Pedro Silva.
Estou na FPG desde 2003, ano em que entrei como Gestor de Projeto Pequim 2008, que tinha como objetivo ter uma presença de jogadores de Golfe portugueses nesses jogos caso o Golfe fosse incluído no rol de modalidades olímpicas, o que não se veio a verificar.
O trabalho estruturado entre 2003 e 2008 culminou com o melhor ano de sempre do Golfe Nacional até à data. Nesse ano Portugal ficou em 4º lugar no Campeonato da Europa de Equipas de Boys, o Pedro Figueiredo ganhou o Internacional de Portugal, o Irish Amateur e o British Boys e o José Maria Jóia ganhou o Internacional da Turquia.
Estes resultados demonstraram que, com um projeto claro, com objetivos e os recursos humanos e financeiros para o executar, é possível conseguir resultados de excelência.
Desde então as vitórias e resultados não mais pararam de nos brindar, havendo a destacar a presença de Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, das vitórias do Pedro Figueiredo, Ricardo Santos e Ricardo Melo Gouveia no Challenge Tour, da vitória de Ricardo Santos no Open da Madeira, da vitória de Ricardo Melo Gouveia na Ordem de Mérito do Challenge Tour, das vitorias de Gonçalo Pinto, Vitor Lopes e Daniel Costa Rodrigues no Internacional de Portugal, da vitória de Pedro Lencart no British Boys ou da presença frequente de portugueses nas Seleções da Europa.
Inspirados por estas referências, temos cada vez mais e melhores atletas. Este esforço e este trabalho disciplinado, consistente e estratégico contribui para aumentarmos as probabilidades de poderemos vir a ter um grande campeão português num futuro não muito longínquo. Mas para isso temos de ter capacidade para formar cada vez melhor estes atletas e a Certificação de Academias vai ter um papel importantíssimo neste aspeto.
O Treinador Nacional, Nelson Ribeiro, vai continuar? Algumas novidades na equipa técnica?
Vai, claro que sim. O Nelson personifica tudo aquilo que desejo num Treinador Nacional. Uma pessoa com as qualificações académicas necessárias, com uma capacidade de trabalho e de organização fora do normal e que conquistou o respeito dos atletas e colegas de profissão.
Saiu da sua zona de conforto para abraçar um projeto ambicioso e a sua visão levou a que eu tivesse tomado a decisão de o convidar para desenvolver um novo departamento na FPG – Departamento de Desenvolvimento Desportivo.
O Nelson Ribeiro assume agora funções de Director deste departamento, que tem como responsabilidade assegurar o fomento e desenvolvimento da modalidade desde as escolas até ao alto rendimento. Este era um passo fundamental para se conferir a esta área a dimensão que ela merece e representa.
Posso dizer que temos na Federação Portuguesa de Golfe os melhores profissionais nas diversas áreas. Uma equipa qualificada e experiente, bem colocada no campo e com uma tática de jogo definida.
O regresso do Open de Portugal, que não se jogava desde 2010, foi uma das conquistas do seu mandato, logo em 2017. Não se evitou contudo que, um ano depois, descesse do calendário do European Tour para o Challenge Tour.
A forma como coloca a questão induz o leitor em erro. No final de 2016 reuni com o Mário Ferreira, da NAU Hotels & Resorts e com o José Correia, então Presidente da PGA de Portugal, para que pudéssemos retomar a organização do Open de Portugal, hibernada desde 2010.
Assinou-se, de seguida, um contrato de co-promoção (FPG, PGA e NAU) do evento entre 2017 e 2019 no Morgado Golf Resort, como um torneio do Challenge Tour.
Acontece que o European Tour, com a perda paulatina de eventos, decidiu financiar o Open de Portugal nesse ano para que não ficasse uma semana sem torneio. Assim, e apenas para 2017, o Open de Portugal iria ser um evento pontuável para os dois rankings, European Tour e Challenge Tour.
Assim foi em 2017, como em 2020, mas o nosso objectivo era sempre começar com um torneio do Challenge Tour.
Há quem defenda que o Open de Portugal, um dos mais antigos e emblemáticos Opens nacionais europeus, nunca deveria fazer parte do Challenge Tour, apenas do European Tour. Que se devia ter escolhido outro nome para o torneio, de maneira a salvaguardar a integridade daquele. Como se o Open de Portugal tivesse perdido a sua nobreza.
O nosso grande objectivo era o de fazer renascer um evento que estava na prateleira, bem como realizar um torneio que nos permitisse ter contrapartidas desportivas para os nossos profissionais.
A história é comprida, mas o Open de Portugal foi crucificado pelas decisões tomadas pelo Turismo de Portugal desde o inicio dos anos 2000, em particular com a decisão de Portugal acolher o World Golf Cup no Algarve e de, em 2007, iniciar o Portugal Masters, com um plano de investimentos muito avultado e que não contemplava o crescimento do Open de Portugal – um dos eventos mais carismáticos e antigos do European Tour.
Desde essa altura que o Open de Portugal passou a não ser considerado um evento prioritário, tendo-se preferido o crescimento do Portugal Masters com um contrato muito desfavorável para o Estado português.
Em 2010 o Turismo de Portugal decide deixar de financiar o Open de Portugal, preferindo manter o Portugal Masters, então com três edições jogadas. A morte, há algum tempo anunciada, acaba por se concretizar.
Talvez o nosso sentimentalismo se sobreponha à razão, mas a verdade é que hoje o Portugal Masters não é mais do que era o Open de Portugal e acreditamos que a decisão foi totalmente errada. O Turismo de Portugal delegou a responsabilidade de promoção e organização no European Tour, para quem o Portugal Masters era apenas mais um evento e não tinha uma estrutura local para trabalhar e fazer crescer esta competição.
Mas respondendo à sua questão, tenho a dizer que o Open de Portugal é muito mais válido enquanto torneio do Challenge Tour do que ser apenas um bonito troféu no armário. O nosso objectivo é que possamos fazer crescer o evento e a verdade é que em quatro anos conseguimos que dois fossem também do European Tour. Não há aqui espaço para saudosismos ou complexos de superioridade.
Não ter um Open de Portugal não é para nós uma opção.
Uma tendência deste seu primeiro mandato como presidente da FPG foi o aumento exponencial do calendário desportivo. Acho que não exagero se disser que houve um acréscimo de quase 50 por cento no número de torneios. Não há aqui uma hiper-actividade competitiva?
Hoje é exagero, há uns anos não havia suficientes. É difícil! Hiperatividade competitiva é um termo um bocado relativo. A nossa responsabilidade é a de organizar quadros competitivos adequados aos vários escalões etários, sendo responsabilidade dos atletas, treinadores e clubes definir os próprios calendários em função dos objetivos de cada um.
Neste momento ninguém se pode queixar de falta de opções competitivas.
Continuando com o tema: até 2017, os campeonatos nacionais para os escalões etários jovens (dos sub-10 aos sub-18) jogava-se numa única prova para os diferentes escalões. Desde 2018, tudo se decide num circuito designado Drive Tour, composto por seis provas e uma Grande Final Nacional. O campeão nacional de cada escalão é o atleta que terminar a época em primeiro lugar no Ranking Nacional Drive Tour. Não há aqui uma certa discriminação em termos financeiros, uma vez que só os jovens cujos clubes ou pais podem suportar as deslocações e as estadias têm hipóteses de competir pelo país fora em vários fins-de-semana…
Os objetivos destas mudanças foram todos atingidos. Por um lado, contribuímos para a competição regular por parte dos atletas destes escalões, através de competição ao longo do ano. Desta forma estamos a colocar os nossos jovens frente a frente em ambiente competitivo regular e distribuído por todo o país. Se queremos competir e evoluir temos de o fazer através de competição com os melhores.
Por outro lado, a teoria de que estamos a fazer uma discriminação financeira cai por água quando temos um número de inscrições média superior ao limite imposto pelo regulamento.
Se olharmos para outras modalidades verificamos que as mesmas competem em campeonatos nacionais que obrigam a deslocações todos os fins de semana. Quem suporta estes custos?
Acresce que muitos dos jogadores com que competem no Drive Tour competem também no Circuito Cashback World. E se a estes circuitos acrescentarmos os campeonatos nacionais e o Internacional Amador de Portugal, e para os convocados das selecções as provas internacionais, verifica-se um calendário competitivo extremamente exaustivo para os atletas amadores.
Volto a dizer, a nossa responsabilidade é disponibilizar um calendário que permita cada atleta definir a sua época desportiva em função dos seus objetivos.
Uma coisa é certa, temos de disponibilizar aos atletas portugueses as mesmas oportunidades que que são dadas em outros países aos seus atletas.
Por exemplo, o European Tour tem cerca de 45 eventos ao longo da época, mas um jogador não deve jogar mais do que 30. A isto chama-se planeamento. É isto que os nossos atletas, treinadores, clubes e familiares devem saber fazer.
No calendário para 2021 já não consta a Cashback World como ‘title sponsor’ do circuito federativo. Há perspectivas de encontrar um patrocinador substituto? E há perspectivas de outros patrocinadores se associarem à FPG?
Esse contrato acaba este ano e temos várias propostas apresentadas para termos um novo Title Sponsor para este importante circuito. Mas, infelizmente, o momento que vivemos não é propriamente propicio para angariação de patrocinadores.
Este circuito é da maior importância para os nossos jogadores amadores e irá continuar, com ou sem patrocinador.
Um dos seus lemas foi uma federação agregadora e transversal, de praticantes, de atletas, de clubes, de profissionais do sector, da indústria. Mas a FPG e a PGA de Portugal não estão, neste momento, de costas viradas uma para a outra? Não deveriam as duas mais importantes instituições do Golfe Nacional estar de braços dados?
Durante o corrente mandato sempre tivemos uma relação muito positiva com a PGA de Portugal, tendo sido, inclusivamente, parceiros na promoção do Open de Portugal.
A nova Direção da PGA ainda está há pouco tempo em funções e é preciso dar algum tempo para perceber se temos pontos convergentes. É importante perceber qual o caminho e os projetos do Presidente da PGA para o Golfe Profissional para podermos analisar formas de trabalho conjunto. É importante ficar claro que o nosso papel enquanto entidade agregadora do Golfe em Portugal é o de dialogar e estabelecer pontes. E de liderar nos caminhos de desenvolvimento da modalidade.
O Campeonato Nacional Absoluto – Audi foi feito à revelia da PGA de Portugal e inclusivamente o logótipo da PGA não constava na marca do evento… Isto não é uma provocação face à PGA?
Numa reunião, no início do ano, com vários intervenientes, a FPG questionou a PGA quanto à realização do Campeonato Nacional de Profissionais e foi-nos informado pela PGA que não tinham nada de concreto. Ora, sendo a organização dos Campeonatos Nacionais uma obrigação e direito de uma federação desportiva e não querendo que os nossos Profissionais ficassem privados desta competição, disponibilizamo-nos para organizar um grande Campeonato Nacional Absoluto (amadores e profissionais) com um prize-money mínimo de 25.000 Euros.
Pouco tempo depois somos informados que a PGA tinha a intenção de não seguir em frente com a nossa proposta e realizou, com a homologação da FPG, um Campeonato Nacional de Profissionais com 7.500 Euros de prémios.
Tal como já tínhamos referido à PGA prosseguimos com o Campeonato Nacional Absoluto – Audi com amadores e profissionais e um título de Campeão Nacional Absoluto.
Para os que tiveram presentes e participaram foi um Campeonato Nacional com um ambiente nunca visto e altamente elogiado por jogadores, treinadores e público, bem como pelos patrocinadores da competição.
Colocar golfistas amadores e profissionais a competirem no mesmo torneio pelo título de campeão nacional absoluto não é uma iniciativa inédita a nível mundial? E não vem de certa forma secundarizar aquela que era a prova-rainha do calendário – o Campeonato Nacional Amador Absoluto (que se desenrola em paralelo)?
Há países que têm competições mistas há muito tempo. Este formato permite criar referências, que são fundamentais para a análise prévia aos processos de transição. Que melhor forma de aferir e comparar as qualidades de jogo dos atletas do que em ambiente competitivo e com os melhores jogadores nacionais, sejam eles amadores ou profissionais?
Que resposta dá à carta aberta publicada a 20 de Novembro pela Associação Nacional de Treinadores de Golfe, que diz não ter sido o Presidente de todos os praticantes de golfe?
O Presidente da ANTG entrou numa cruzada contra o que diz ser a ilegalidade da representatividade dos Delegados na Assembleia Geral, querendo reclamar para a PGA de Portugal – onde é Presidente da Mesa – os Delegados eleitos em representação dos Praticantes.
A FPG, ainda que consciente da necessidade de alterar os seus Estatutos, tem do seu lado a razão, tal como se pode verificar pelo facto de os atuais Estatutos estarem aprovados pelo IPDJ e Ministério Público e de termos em nossa posse um parecer do Dr. Alexandre Mestre, autor do quadro legal em vigor e que nos é favorável.
Os Treinadores de Golfe portugueses têm um papel fundamental a desempenhar no trabalho a ser feito no âmbito do desenvolvimento do Golfe. É importante que seja este o foco de todos aqueles que contribuem para esta área, nomeadamente a ANTG.
A propósito, e tendo em conta este diferendo, que balanço faz do mandato agora findo, em termos de formação de professores/instrutores/treinadores?
Consideramos ser fundamental dar um salto qualitativo na Formação de Treinadores.
Estamos, neste momento, a concluir os novos manuais de formação. Manuais estes, mais atualizados e enquadrados na realidade atual.
Reforçando a nossa preocupação com esta área, que queremos naturalmente melhorar, atribuímos a responsabilidade desta área ao Departamento de Desenvolvimento Desportivo.
Mas para que tenhamos interessados e candidatos a treinadores é importante que estes vejam no treino de Golfe uma perspetiva de carreira. Não podemos esperar que haja muitos interessados nesta carreira se o futuro que os espera é incerto. É importante que tenhamos os bons treinadores colocados em boas academias e onde possam desenvolver a sua atividade com todas as condições. Eis mais uma área onde a Certificação de Academias é fundamental.
Individualmente, este ano esteve particularmente activo em termos competitivos e em bom nível, sendo terceiro classificado no Ranking Ouro do Circuito Nacional Mid-Amateur, criado este ano pela FPG. Há já quem o apelide de o Presidente-Jogador. É um cognome que lhe agrada?
Gosto muito de ser Presidente-Jogador. Jogo Golfe desde 1984, já competi muito a nível nacional e internacional e esse bichinho fica cá dentro à espera de uma oportunidade para se manifestar.
Adoro jogar, mas, acima de tudo, gosto de competir. É o ambiente onde sinto tirar o maior rendimento do meu jogo. Actualmente tenho outras preocupações e compromissos que me permitem competir apenas esporadicamente, mas sempre que tenho oportunidade faço-o.
Gosto de estar no meio dos nossos atletas, perceber o que lhes vai na alma, entender os seus problemas e desafios. Acho que é uma vantagem que tenho a de poder estar a competir lado a lado com eles.
Também acredito que os atletas acabam por respeitar mais um Presidente que eles consideram como um deles.
Mas confesso que se não fosse pela criação do Circuito Mid Amateur este bichinho ainda estaria adormecido. Este circuito foi criado para pessoas que já não competiam por não terem a oportunidade de treinar o necessário para competirem com nível nas competições dos escalões absolutos. Neste circuito vê-se um ambiente competitivo, mas aliado a um espírito de camaradagem muito divertido.
A sua direcção recandidata-se em bloco – todos os que integram o órgão executivo disponibilizaram-se para continuar. Está a dar um sinal de que em equipa que ganha não se mexe?
Sem dúvida. Todos os elementos da Direção aceitaram continuar a dar o seu melhor e o seu tempo livre ao Golfe Nacional. Pessoas com experiências diversas e com um compromisso muito grande para com o nosso projeto para a FPG.
Para mudar alguma coisa teria de ser para melhor e não encontro melhores pessoas do que as que fazem parte da Direção para enfrentar mais um mandato, que se avizinha muito exigente.
Também a minha Comissão de Honra de 2016, composta por personalidades cuja vida e trajeto emprestam prestígio à nossa candidatura, reiterou o seu apoio para estas eleições. Para mim conta muito, porque são pessoas que não estão no dia a dia, que têm uma visão de fora. E essa visão coincide com a nossa. Só nos dá mais força e mais responsabilidade para continuarmos, em equipa, a fazer mais e melhor pelo Golfe Nacional.
Os membros da direcção têm as suas vidas profissionais e dão livremente o tempo que podem, mas recordo-me que na primeira entrevista que lhe fiz na qualidade de presidente da FPG não escondeu a ambição de ter uma direcção remunerada. Mantém-se?
Não obstante termos um elenco diretivo altamente comprometido com a gestão do Golfe Nacional, estamos sempre perante o facto de serem profissionais com carreiras de sucesso e cujo tempo livre é muito limitado. Acredito, por isso, na profissionalização gradual dos cargos diretivos. A Federação Portuguesa de Golfe é hoje uma entidade com uma atividade muito intensa e atuando em várias áreas (todas elas ligadas, obviamente, à modalidade Golfe). Nunca teremos uma Direção toda ela remunerada, mas poderemos vir a ter alguns cargos em que isso possa acontecer. Mas, neste momento, não se vislumbra qualquer alteração nesse sentido.