Miguel Franco de Sousa fundamenta candidatura à presidência da FPG
Esta entrevista com Miguel Franco de Sousa foi publicada no oitavo número do suplemento de golfe do GolfTattoo no jornal Público, no passado sábado, 10 de Setembro. Nela, aquele que é o secretário-geral da Federação Portuguesa de Golfe desde 2011, de 42 anos, fundamenta as bases da sua candidatura à presidência do organismo. E se o seu adversário na corrida eleitoral (as eleições deverão realizar-se no final de Outubro), Luís Filipe Pereira, na entrevista paralela que com ele fizemos, lembra o seu próprio currículo nos meios políticos, empresariais e universitários, já Miguel Franco de Sousa puxa pelo seu currículo no... golfe, defendendo um projecto a 12 anos.
GOLFTATTOO – O que é que o leva a assumir a candidatura à presidência da federação sendo que podia manter-se confortavelmente no cargo de secretário-geral?
MIGUEL FRANCO DE SOUSA – É uma consequência natural dada a minha dedicação ao golfe. Jogo golfe há 32 anos e dedico a minha vida profissional ao golfe há 20 anos precisamente. O golfe para mim transcende qualquer objectivo pessoal ou profissional porque para mim o golfe é uma missão de vida.
Defende a profissionalização do cargo de presidente da FPG…
Nem a Lei de Bases do Sistema Desportivo, nem os estatutos da FPG, impedem que o presidente seja remunerado, já houve inclusivamente órgãos sociais da FPG remunerados no passado. Não me parece justo para o golfe nacional que a premissa principal para um candidato a presidente seja a disponibilidade financeira. Ou seja, corremos o risco de perder pessoas profissionais e experientes, pelo facto de elas não poderem assumir esse cargo em regime de voluntariado. Parece-me que a premissa estará invertida.
O mais importante é encontrar uma pessoa capaz, disponível e que esteja disposta a trabalhar de forma profissional com um objectivo muito claro para o golfe em Portugal e com o golfe português, com as associações, com os clubes, com os filiados e, portanto, essa parece-me ser uma não-questão.
Vejamos, qualquer federação desportiva com uma dimensão razoável, e falo do futebol como poderia falar da Federação Portuguesa de Atletismo, tem um presidente remunerado e nalguns casos até a própria direcção. A FPG já não se compadece com voluntariado. O golfe precisa e merece compromissos muito claros por parte das equipas que vão trabalhar e não pode ser de maneira nenhuma um “eu tenho tempo e disponibilidade, então posso ir para presidente da Federação”. Está errado.
Propõe-se aumentar o número de praticantes até 2028 para 50.000. Como?
Acho absolutamente fundamental trabalhar com objectivos concretos, sabermos para onde é que queremos caminhar. Definimos como objectivo chegar aos 50 mil jogadores em 12 anos. Este é um objectivo ambicioso mas perfeitamente atingível. O impacto deste objectivo será muito grande, ao nível do desporto e na indústria, contribuindo para geração de riqueza, emprego e uma sociedade melhor.
O Projecto Drive é um bom exemplo do que queremos fazer: permitiu que mais de 80.000 crianças tivessem contacto com o golfe, possibilitou formação a mais de 500 professores de Educação Física e já formalizou protocolos com 12 câmaras municipais para termos golfe nas escolas. Obviamente que o trabalho no âmbito do alto rendimento e selecções nacionais é para continuar. Entrei em 2003 para a FPG, para gerir o Projecto Pequim 2008 [ano em que se previa que o golfe regressasse aos Jogos Olímpicos] e desde essa altura, com um trabalho estruturado e com objectivos muito claros, que eram o de estarmos nos Jogos Olímpicos, conseguimos efectivamente ter resultados internacionais, tanto com jogadores amadores como profissionais – ao longo destes 13 anos Portugal conquistou 15 vitórias internacionais.
Obviamente que em consequência deste projecto, o golfe profissional será um factor absolutamente fundamental, porque acreditamos que se tivermos ídolos, se tivermos role models no golfe, não só os jovens mas também os graúdos vão sentir-se mais atraídos a jogar a modalidade – vamos espoletar um interesse muito maior pelo golfe no dia em que tivermos não um Ricardo Melo Gouveia, um Filipe Lima e um Ricardo Santos, mas 10 jogadores desta natureza a competir nos vários circuitos.
Temos também uma questão muitíssimo importante, que é a formação dos agentes, não só dos treinadores, que têm um papel absolutamente vital no desenvolvimento do golfe, como na de árbitros, gestores de golfe, directores, greenkeepers, pessoas ligadas ao golfe, para que os projectos que forem sendo implementados sejam acompanhados e monitorizados por pessoas qualificadas e capazes.
Tenho pessoas na equipa altamente capazes para poderem trazer ideias novas, ideias mais modernas e adaptadas à realidade actual.
Mas sinceramente aquilo que vai fazer a grande diferença será o modelo de governação, completamente dinâmico. Estaremos em contacto permanente com os nossos associados e todos os agentes ligados ao golfe, o presidente vai ter um papel muito activo, para que haja aqui um trabalho de equipa, para que possamos discutir os projectos que temos em curso em tempo útil, e por fim quando estes forem implementados toda a gente estará confortável com eles. Vamos desenvolver um plano estratégico a 12 anos para o golfe, no qual serão incluídos todos aqueles que directa ou indirectamente estão ligados ao golfe.
Da parte da candidatura concorrente questionam-se por que motivo as coisas seriam agora diferentes consigo como presidente-executivo, visto que é o secretário-geral da FPG desde 2011 e o número de jogadores federados não aumenta desde 2008.
Em primeiro lugar ser presidente e secretário-geral são funções totalmente distintas, com responsabilidades e competências claramente definidas na lei de bases e estatutos da FPG. O futuro modelo de governação levará a uma actuação de toda Direcção nas diferentes vertentes e haverá uma muito maior proximidade da FPG com os seus associados. Temos um visão própria, uma visão de futuro, conscientes de que o golfe, tal como o conhecemos, tem de mudar. Queremos que o golfe possa fazer parte da vida de todos os portugueses. O golfe não soube adaptar-se a uma nova realidade da sociedade, há menos dinheiro e tempo disponível e, hoje, todos esperamos resultados imediatos – o golfe actual não oferece isso e esta é uma realidade que vamos inverter, com apostas claras no marketing, em parcerias e com trabalho colaborativo e em rede.
Como tem decorrido a campanha? Tem sentido receptividade por parte da comunidade do golfe?
Eu trabalho no golfe há 20 anos e conheço o golfe nacional profundamente. Conheço todos os jogadores, treinadores, conheço os directores dos campos e greenkeepers, conheço os árbitros e, arrisco-me a dizer que conheço quase todos os delegados e todas as pessoas que trabalham no golfe em Portugal. Isso foi sendo construído ao longo destes 13 anos em que tive a oportunidade de trabalhar mais próximo com a maioria deles por estar na FPG, primeiro como Gestor de Projeto, depois como Director-Técnico Nacional, sendo também capitão da seleção nacional entre 2003 e 2010 em 12 campeonatos da Europa e do Mundo e outras competições nacionais e internacionais. Obviamente que isso me permitiu conhecer profundamente as pessoas do golfe.
O meu objetivo é continuar a mostrar qual é que é o nosso caminho, qual é a nossa experiência, qual é que é o nosso capital de conhecimento adquirido ao longo destes anos todos e qual é que é a nossa influência internacional, que é absolutamente vital para a FPG. Este capital de conhecimento internacional constrói-se através de relações pessoais e de confiança, e portanto é muito importante manter isso em linha de conta. Colocarei estes meus contactos ao serviço do golfe nacional.
Tenho sentido uma boa receptividade e estou perfeitamente tranquilo. Este passo é uma evolução natural na minha carreira, mas que só acontece neste momento porque o Manuel Agrellos atingiu o limite de mandatos. Aproveito para sublinhar toda a sua dedicação e trabalho à causa do golfe ao longo dos últimos 30 anos.
E sente-se confiante na vitória?
Estou optimista com certeza. Mas estou sobretudo confiante de que este processo terá um bom desfecho e que o golfe nacional vai obviamente escolher a Equipa que achar mais competente para conduzir os destinos do golfe no país nos próximos anos. Nós temos claramente um projecto a 12 anos e sou acompanhado por pessoas muito qualificadas e competentes. Sou jovem, tenho 42 anos, uma idade que me permite ter uma energia grande para desenvolver os projetos a que nos propomos e para ver o golfe crescer nesse período
A minha Comissão de Honra é presidida pelo Francisco Pinto Balsemão e inclui nomes como Manuel Violas, Manuel de Mello, António Pires de Lima, Fernando Ulrich, Humberto Coelho, José Roquette, Amadeu Ferreira, António Freitas da Costa, Carlos Barbosa, José Lisboa ou José Leiria, além dos muitos praticantes que me têm feito chegar o seu apoio. O importante é que são pessoas apaixonadas pela modalidade, que se identificaram com a candidatura “Crescer para Vencer” e disponibilizaram-se para emprestar a esta candidatura o seu prestígio.