AcyMailing Module

Entrevistas
> Home / Artigos
O regresso de Salvador Leite Castro a Portugal
27/05/2015 14:09 Rodrigo Cordoeiro
Salvador Leite Castro na passada quinta-feira na sua casa na Lapa / © FILIPE GUERRA

Depois de dois anos em Nova Iorque, volta ao país e já compete pelo CG Belas

Por motivos profissionais, que se prenderam com a sua entrada na Jones Lang LaSalle, em Lisboa, Salvador Leite Castro, antigo internacional português de golfe, e ex-director de golfe do Belas Clube de Campo, teve de antecipar em três meses o seu regresso de Nova Iorque, onde trabalhava no W Hotels Times Square. Chegou a 1 de Maio e por lá ficou ainda a sua mulher, Rita Ribeiro da Silva, cujo programa de intercâmbio de um ano no escritório de Nova Iorque do Boston Consulting Group, que lhe patrocinou o MBA, acaba em Julho. E como a distância aperta a saudade, Salvador, de 30 anos, 3,3 de handicap, apanhou o avião e foi passar o último fim-de-semana à “Big Apple” para rever Rita, uma semana depois de se sagrar campeão do Clube de Golfe de Belas e uma semana antes de competir pelo mesmo clube no Campeonato Nacional de Clubes Mid-Amaters BPI, agendado para o próximo fim-de-semana no Oporto. Nesta entrevista, ele explica o seu regresso e garante que o golfe fará sempre parte da sua vida. 

GOLFTATTOO – Depois de dois anos em Nova Iorque, regressaste a Lisboa no início de Maio e, poucos dias depois, sagraste-te campeão do Clube de Golfe de Belas. Isso é alguma declaração? Do género: “Estou de volta, contem comigo!” 

SALVADOR LEITE CASTRO – Não, mas confesso que era importante. E, pelo facto de ter acabado de chegar, gostava que as pessoas percebessem que, embora neste momento esteja a trabalhar fora do golfe, o golfe não vai deixar nunca de fazer parte da minha carreira e da minha vida. Portanto, queria ganhar, confesso. 

Em 2013, foste capitão da equipa de Belas que se sagrou vice-campeã nacional de clubes (perdendo a final para Vilamoura), no campo Ocêanico O’Connor. Fazes tenções de reforçar Belas no Inter-Clubes deste ano, em Setembro? 

Adorava poder juntar-me à equipa este ano. Infelizmente, porque acabei de chegar e abracei um novo projecto na JLL, não vou ter férias em Agosto, portanto, isso não me vai ser permitido. Mas vou, sim, fazer parte da equipa que já no próximo fim-de-semana, no Oporto, participa no Campeonato Nacional de Clubes Mid-Amateurs BPI, um escalão que passei a poder jogar, agora que é partir dos 30 anos e já não dos 35, como sempre foi. 

Vais jogar por Belas? 

Sim, por Belas. Separámo-nos muito amigavelmente. Dou-me muito bem com o Gilberto Jordan, CEO  da Planbelas, e também com o actual director do golfe, o Paul Saunders. Além mim, jogam o João Oliveira e Costa, o Bento Louro, o Luís Bleck da Silva, Nuno Mota, Tiago Rebelo de Almeida  e o Marco Rios. 

É uma equipa que parte com que ambições para o Campeonato Nacional de Clubes Mid-Amateurs BPI? E já combinaram algum tipo de estratégia ou táctica? 

Penso que o pódio seria fantástico, mas analisando as 20 equipas inscritas acho difícil. Acima de tudo o grande objectivo é passar um grande fim-de-semana. 

Conta-me como foi o campeonato do clube. Fizeste voltas de 74-80 para ganhar com 8 de vantagem  sobre Tiago Rebelo de Almeida, mas eram apenas 11 participantes na prova de primeiras e segundas categorias e faltavam alguns nomes fortes do clube. Não seria de esperar uma prova mais concorrida? 

Da equipa com que fomos vice-campeões nacional de clubes em 2013, alguns já se tornaram profissionais, como o Miguel Gaspar e o André Serra Carvalho, que na altura eram os nossos melhores jogadores juntamente com o Rafael Gaspar. Confesso-te que estaria à espera de mais luta. Na primeira volta joguei bastante bem, tive ali uma série de quatro birdies seguidos que me ajudou bastante a ganhar alguma vantagem, fiquei com dez de avanço para o Rafael Gaspar. Mas também, como não estou na fase mais treinada, achava que não estava de todo ganho, ainda estávamos a meio e não queria correr os riscos que o meu Porto, por exemplo, correu na Champions na segunda mão dos quartos-de-final, com o Bayern Munique. O “Rafa” podia ser bem capaz de fazer muitas abaixo do par… Infelizmente, por razões que desconheço, ele não foi à segunda volta, e logo aí fiquei um pouco mais tranquilo, mas confesso-te que não era o que eu desejava. E por isso a segunda volta também não exigiu tanto golfe, foi mais gerir a vantagem que tinha e foi relativamente fácil, sem querer ser arrogante. 

Logo no primeiro dia houve ali um despique com o Rafael Gaspar, sabias que era o teu grande adversário? 

Sim, sim acho que o “Rafa” era o favorito. Eu tenho estado fora e não tenho acompanhado muito os resultados, mas sem dúvida que, da equipa de Belas, o “Rafa” é aquele que mais compete regularmente nas provas da Federação, embora esteja neste momento na faculdade. Depois havia também o Luís Bleck da Silva, acabado de ser o campeão nacional de seniores, o Bento Louro e o Tiago Rebelo de Almeida, que, a jogarem bem, podiam dar luta. Aconteceu que no primeiro dia estava vento e nenhum desses jogadores conseguiu jogar bem, ao passo que eu fiz uma boa volta.

Após a vitória no Campeonato do Clube de Golfe de Belas, a 16 de Maio / © D.R. 

Ainda a propósito do Campeonato Nacional de Clubes de 2013: jogaste os singles da final desse ano com o Vítor Lopes, num grande match que terminou empatado. Dois anos depois, o teu adversário de então é hoje uma das grandes figuras do golfe amador português e vice-campeão nacional absoluto. Quando o defrontaste percebeste que ele poderia ir tão longe? Como é que vês a evolução dele? 

Vejo a evolução dele meramente por resultados, portanto, não consigo avaliar o seu jogo neste momento. Se me perguntares o que achei na altura, o bater comprido não foi a única coisa que me impressionou. O Vítor é realmente um talento, era um miúdo, tinha 16 anos, acho eu, quase com 1,90m  de altura, e com um swing muito fácil. Acho que para o Vítor é muito fácil bater bons shots. A minha questão é sempre a mesma: enquanto que um jogador amador jovem faz duas coisas, estuda e joga, a mente dele não está 100 por cento focada no golfe. A partir do momento em que passa a ficar 100 por cento focada no golfe, aí é quando se vê o quão longe uma pessoa vai. Porque é muito difícil tu jogares com a pressão de seres profissional de golfe, de precisares de resultados para viver. 

O Vítor Lopes neste momento não tem essa pressão… 

Neste momento, o Vítor não precisa de resultados para viver. Obviamente, como português e como amante do golfe, faço figas, como se diz, para que ele vá o mais longe possível no European Tour ou no PGA Tour. No entanto, temos vários exemplos de jogadores fantásticos enquanto amadores, mas que passam a profissionais e o jogo piora, não melhora. Passar a profissional e manter o nível é que é para mim a grande questão. Estive agora a ler no vosso site que o Vítor jogou o pro-am do BMW PGA Championship com o Paul McGinley e que este se fartou de o elogiar. É um diamante em bruto mas ainda tem muito para evoluir. Estou curioso. 

Enquanto estiveste nos EUA nasceu uma nova estrela no golfe nacional que foi o Ricardo Melo Gouveia. Como vês a forma como ele fez a transição de amador para profissional de forma tão brilhante? 

Desculpa corrigir-te, mas eu não acho que tenha nascido uma nova estrela, o Ricardo já era uma esperança portuguesa há muito. Teve a sorte, e eu aí eu não digo o azar, de estar na mesmo escalão que o Pedro Figueiredo, o que o deixou ali um bocadinho na sombra dele. Mas a sua garra permitiu-lhe evoluir e quando foi para os Estados Unidos as coisas correram ainda melhor. Depois fez a melhor transição para profissional que já tivemos em Portugal. Foi perfeita. Conseguiu ganhar um torneio do Challenge Tour e continuar a denotar este ano uma consistência notável ao mais alto nível. Desejo-lhe a maior sorte do mundo, acho que merece, é uma pessoa cinco estrelas. 

E em relação ao Pedro, que já é profissional desde o verão de 2013 não e tem tido o mesmo sucesso, embora leve 11 cuts consecutivos feitos no Challenge Tour. 

De facto a transição do Pedro não foi tão bem sucedida como a do Ricardo. Mas acho que o Pedro tem uma vantagem sobre a maioria dos jogadores. Há muitos jogadores a nível mundial com muito talento, não há muito jogadores que tenham a capacidade de sofrer e de acreditar naquilo que os treinadores lhe dizem. O Pedro tem essa vantagem. Obviamente, tem tido alguns altos e baixos, mas já tem dado sinais de que o golfe, o jogo dele, está lá, agora é uma questão de ganhar um pouco mais de consistência. Falamos regularmente e sei que ele tem vindo a falhar no putting, essa tem sido uma das inconsistências dele.  E muitas vezes o putting… Jogar bem e fazer um bom resultado, há muito gente que o faz. O problema é quando as coisas correm menos bem, aqui é importante o resultado não ser péssimo, não condicionar o torneio com uma má volta – e para isso o jogo curto, que era uma das armas do Pedro, ajuda muito. Continuo a acreditar que o Pedro vai ser capaz de chegar ao European Tour e de ter sucesso como profissional de golfe.

Em conversa com GolfTattoo no jardim de casa / © FILIPE GUERRA 

Antes de ires para os EUA no ano passado eras dos principais comentadores de golfe da Sport TV. Vais regressar? 

Não depende só de mim. Já entrei em contacto com a Sport TV, quero obviamente retomar. Acontece que neste momento estou com um desafio profissional fora do golfe, completamente diferente, e numa área que me é menos confortável. Nesta fase inicial tenho de me dedicar a 100 por cento ao meu trabalho. Quando tiver um pouco mais confortável, então aí sim, faço tenções de voltar à Sport TV, porque, como te disse, não quero de maneira nenhuma que o golfe saia da minha vida. 

De director de golfe do Belas Clube de Campo, foste para Nova Iorque, onde trabalhaste num clube de golfe, o Westchester Hills Golf Club, e depois num hotel, o W Hotels Times Square; agora regressas a Portugal para trabalhar na imobiliária Jones Lang LaSalle (JLL). Como é que isso acontece? 

Sem dúvida que são coisas muito diferentes, mas eu acho que o golfe tem a ver com um bocadinho de todas elas. Westchester foi golfe puro e depois veio a parte de hotelaria. Como sabes, em Portugal cerca de 90 por cento das voltas são feitas por estrangeiros e portanto o golfe é turismo. Trabalhar num hotel era uma coisa que fazia sentido, seria sempre uma mais-valia ter sido director de um campo de golfe e desempenhado funções num hotel. Esta minha nova área é muito diferente, claro, mas muitos campos de golfe têm uma vertente muito forte não só de hotelaria como de imobiliária. Foi uma oportunidade que surgiu do nada e eu não quis deixar desperdiçar. A JLL é empresa fantástica, uma multinacional que dá lucro. 

Quais são as tuas funções na empresa? 

A JLL é uma consultora internacional especializada na prestação de serviços de imobiliário a promotores, proprietários, investidores e inquilinos nos sectores de escritórios, retalho e residencial. Eu assumi as funções de consultor no departamento de agência de escritórios, ou seja, comercialização de edifícios e espaços neste segmento de mercado. Se uma empresa, grande ou pequena, quer arrendar um escritório novo, vem falar connosco e nós tratamos de tudo, além de comercializarmos activa e proactivamente todos os edifícios que temos em carteira.  A JLL cobre a maioria do mercado imobiliário, por isso, acho que não estou completamente afastado do golfe, embora neste momento não faça parte dos meus planos voltar ao golfe. Era um desejo já antigo que tinha, o de experimentar qualquer coisa fora do golfe. Eu tinha previsto vir para Portugal no fim de Julho, que é quando a Rita, minha mulher, vem, e isto adiantou a minha vinda três meses. A Rita ainda está em Nova Iorque. 

Que balanço fazes da tua estadia em Nova Iorque?

O balanço foi fantástico, a experiência de viver fora com a nossa mulher é incrível. Em Portugal, temos um núcleo de amigos e de família muito maior. E ali estás mais sozinho, embora tenhamos também um grupo de amigos, muitos deles portugueses. Foi uma experiência muito, muito gira, não só em termos pessoais como também de trabalhares com outras mentalidades. Faz mesmo muito bem. Os americanos têm uma capacidade e algumas qualidade que nós não temos, e nós, portugueses, outras que eles não têm, mas eu acho que temos algumas coisas a aprender com eles. O português diz muito aquela frase: “Vai-se andando…” Nos EUA, não ouves isso, é sempre: “Estou óptimo”.  Mesmo que não se esteja óptimo. Aquilo que eles te querem passar é que está tudo óptimo e é assim que eles se vendem e vendem o que for preciso. Eles têm uma capacidade de desdramatizar, que nós não temos, e isso é uma coisa que eu vou levar para a vida. O ritmo de trabalho é incrível, não há cá uma hora de almoço, Entram cedo e não têm hora de almoço, comem uma salada ou uma sanduíche em frente ao computador. Saem cedo mas foram dez horas de trabalho. 

A entrevista já concluída, Salvador posa uma vez mais para a objectiva / © FILIPE GUERRA

Se calhar não é politicamente correcto isto que eu te vou perguntar, mas este teu novo trabalho não é uma transição para depois voltares ao golfe? 

Acabei que entrar na JLL, estou muito contente de lá estar, pelo que neste momento não me vejo a sair. Mas assim como nunca tinha pensado em mim a trabalhar em imobiliário, pode surgir um projecto de golfe que faça sentido para mim mais tarde. Neste momento isso não me passa pela cabeça, a equipa é fantástica, tive muita sorte. 

E em termos de competição de golfe? Planeias jogar alguns torneios do calendário federativo, além do Campeonato Nacional de Clubes Mid-Amateurs BPI? 

Tenho estado minimamente atento aos resultados que se fazem hoje em dia e só se eu tivesse maluco é que eu poderia pensar em ter hipóteses frente aos amadores de alta competição. Temos jogadores como o Vítor Lopes a fazer 13 abaixo em quatro voltas para só se sagrar vice-campeão nacional absoluto. Para mim fazer abaixo do par já é muito difícil, quanto mais fazer 13 ou 14 abaixo em três ou quatro dias. Neste momento olho para o golfe como uma coisa que eu adoro e que me diverte e não quero que isso deixe de acontecer, não quero voltar olhar para o golfe de uma forma tão séria que me tire prazer de jogar. Espero jogar um ou outro torneio do calendário federativo, gostava muito de jogar o Campeonato Nacional e a Taça da Federação, neste último caso ainda mais porque é match play e posso divertir-me um bocadinho mais, em stroke play não tenho hipóteses. 

Qual é a sensação de estar de volta? 

É muito boa. Nova Iorque tem coisas que Lisboa e Portugal nunca me vão dar. Em Nova Iorque, vais jantar fora a um restaurante bom, a uma segunda-feira, a uma terça-feira ou a uma quarta-feira e não te apercebes que dia da semana é que é, pois está completamente cheio e a energia é a mesma todos os dias. Em Lisboa não sentes isso, vais jantar a um restaurante a uma quarta-feira e as coisas estão mais mortas, é normal, por razões financeiras, obviamente, mas também pelos horários de trabalho de que falámos. Mas Portugal também tem coisas que Nova Iorque nunca me vai dar: por exemplo, no último sábado fui jogar golfe, comecei eram 9h da manhã, acabei à 13h30 e à 15h estava na praia na Costa de Caparica, depois de ter comido um prego na club house. E, claro, o estar perto da família e amigos. 

Uma última pergunta: nos teus tempos nos EUA, o GolfTattoo foi uma boa companhia? 

Sem dúvida, até porque, como sabes, também sou colaborador do vosso site, escrevendo crónicas pontuais. Graças ao GolfTattoo estou a par do golfe nacional, amador e profissional, estou a par do PGA Tour e do European Tour. Como podes reparar, acabámos de ter uma conversa sobre alguns temas do golfe e confesso-te que não fui estudá-los antes de vir para esta entrevista e só os sei porque o GolfTattoo existe.