João Cotrim Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal, em conversa com GolfTattoo/Portugal Masters
GOLFTATTOO/PORTUGAL MASTERS – O ano 2014 foi de êxito no setor do Turismo em Portugal. O primeiro semestre deste ano confirma o crescimento. Portugal está consolidado como destino turístico ou poderá passar de moda?
JOÃO COTRIM DE FIGUEIREDO – A sua pergunta implica que o fenómeno de crescimento recente no turismo é um fenómeno de moda – e eu discordo. Acho que se conseguiu colocar o destino na cabeça dos turistas, potenciais e reais, como um destino particularmente adequado à motivação de viagem que nesta segunda década do século XXI está a ganhar peso. As pessoas deixaram de ver nas viagens apenas uma forma de quebrar a rotina do seu dia-a-dia, passaram a ter muito mais interesse pela cultura e a realidade dos países que visitam, passaram a valorizar menos a ostentação e a parte material das viagens – e em todos esses domínios Portugal está mais bem posicionado do que outros destinos seus concorrentes. Portanto, eu acho que isto não é uma moda, acho que é uma tendência forte, que veio para ficar.
E sim, respondendo directamente à pergunta, acho que temos condições para continuar este ciclo de crescimento. Mas como em tudo o que é actividade económica, e se calhar noutras, é fundamental acompanharmos aquilo que vai mudando, Achar que aquilo que fizemos até aqui é suficiente para garantir o crescimento futuro é o primeiro passo para deixarmos de ter esse crescimento futuro.
Portanto, muita atenção às mudanças: da mesma forma que o perfil de viajante se alterou nos últimos 5 ou 10 anos, vai certamente alterar-se nos próximos. Os destinos que mais rapidamente perceberem essa mudança e se adaptarem vão ser os que vão continuar a conquistar quota de mercado. Eu acho que o nosso destino turístico e o nosso sector tem essas características de adaptabilidade rápida, deu provas disso, tem sido um sector extraordinariamente resiliente e eu acho que tem condições para continuar a sê-lo.
Qual é o peso do golfe neste êxito turístico?
A importância do golfe para o sucesso do turismo em Portugal é alta. E não é de agora – foi dos primeiros produtos turísticos estruturados que Portugal teve, com a vantagem de ser muito anti-sazonal e com a característica de ser essencialmente internacional, isto é, o golfe enquanto motivação de turismo interno é ainda pouco expressivo.
Com essas características, o golfe fez de facto uma diferença grande quando foi estruturado, já aqui na década passada. É verdade que foi talvez dos sectores mais afectados pela crise financeira do final da primeira década e, nesse sentido, pode ter perdido alguma importância nos números relativamente a outros produtos turísticos.
Agora, uma coisa é certa: nós não estamos com esta aposta decidida e continuada no golfe apenas pelos números directos que o turismo do golfe gera, mas muito também pelo posicionamento que o golfe permite no contexto do produtos turísticos como um todo. Ou seja, o golfe é uma forma de desfrutar do país que nos parece muito adequada, muito em linha com aquilo que são os valores principais do destino como um todo: um destino aprazível, com pessoas muito acolhedoras, com uma qualidade, enfim, de nível mundial, e no caso do golfe isso é indiscutível. Mas tudo isto num contexto de grande familiaridade, de grande calor humano que os golfistas também apreciam assim como os outros turistas.
Na sede do Turismo de Portugal, em Lisboa / © FILIPE GUERRA
O mercado internacional do golfe em Portugal também está a recuperar?
Em 2014 tivemos uma recuperação, mas sobretudo no mercado internacional. O mercado português de golfe esteve menos dinâmico, o que levou a um crescimento final a nível de voltas de pouco mais de 2,2% ou 2,3%. O primeiro semestre de 2015 já mostra um crescimento grande, quer do lado dos estrangeiros, quer do lado dos nacionais, falamos de um crescimento que pode andar entre os 6% e os 7%. Portanto, muito mais forte que 2014 e muito mais perto do crescimento global do turismo em Portugal.
O golfe pode não ter sido dos principais contribuintes para o crescimento do turismo em Portugal desde 2012, mas acho que em 2015 já se pode dizer que é um contribuinte tão forte como outras actividades. Isso apraz-me muito registar, porque sabemos que para além das receitas directamente geradas pela actividade do golfe há todo um outro conjunto de receitas que são deixadas em Portugal e que são importantíssimas para a nossa balança do turismo.
Tem alguma estimativa do valor dessas receitas? Quanto é que representa?
A estimativa que temos são os números oficiais do CNIG (Conselho Nacional da Indústria do Golfe), que anualmente publica aquilo que estima serem os gastos directos com green fees e despesas directas relacionados com o golfe, e que andam na casa dos 150 milhões de euros. Se a isso juntarmos as estadias e as despesas todas que são efectuadas estamos a falar de um valor que se aproximará muito dos 600 milhões de euros.
Durante a entrevista / © FILIPE GUERRA
Como é que viu o aumento do IVA no golfe, uma actividade exportadora, de 6% para 23%?
É difícil dizer a importância do aumento do IVA nas dificuldades financeiras que a generalidade dos campos ainda passa, porque ocorreu em simultâneo com a redução de estrangeiros e com a dificuldade que houve genericamente na Europa com o número de voltas vendidas. Não foi certamente positivo – e é uma realidade que já tem três anos. Mas o impacto dos aumentos faz-se sentir na altura e depois, a partir daí, a procura e a oferta ajustam-se e geram um novo equilíbrio. Os números de 2015 indicam que conseguimos ser competitivos apesar desse custo fiscal de contexto importante e injusto, porque a actividade do golfe é uma actividade eminentemente turística em Portugal e portanto deve ser encarada como tal e os impostos deveriam ser fixados competitivamente. Apesar disso, os crescimentos em 2015 já são muito animadores e eu acho que não vai ser por causa do IVA à taxa máxima que vamos deixar de continuar a crescer no golfe.
Na promoção de Portugal como destino turístico, o golfe tem algum programa específico ou está inserido num programa de promoção em conjunto com outras modalidades?
Está sobretudo num programa específico, embora tentemos que todas as actividades se ajudem umas às outras, aproveitando sinergias que possam haver nestas promoções. Mas a promoção do golfe está sobretudo à volta de uma programa chamado “Portugal Golf Membership”, que vai no seu terceiro ano. Uma iniciativa conjunta do Turismo de Portugal e do European Tour, que tem merecido muitos elogios por se tratar de algo altamente inovador, transformando, no fundo, um país – todo um destino – num enorme clube de golfe com vantagens claras e atraentes para quem dele faça parte, e que hoje já tem quase 20 mil associados. Essa é, digamos, a pedra de toque, a parte mais visível do nosso programa de apoio ao golfe. Depois, do ponto de vista de eventos, o Portugal Masters que está aí a chegar é o evento mais visível, é a nossa âncora e é também âncora de relação com o European Tour.
O Portugal Masters é o maior evento de golfe que se realiza em Portugal anualmente. Este ano vai ser a nona edição. Qual a importância que tem este torneio para o Turismo de Portugal?
É o evento-âncora e é o pretexto para aprofundarmos a nossa relação com o European Tour e falarmos de Portugal todo o ano. Se fosse só uma questão de estarmos durante a semana de realização do Masters a fazer as nossas acções, teria um interesse menor para todos. Pelo contrário, estamos presentes em vários eventos e torneios do Tour durante o ano – contactando e promovendo Portugal como destino de golfe junto dos golfistas de toda a Europa. É um tipo de relacionamento e de promoção muitíssimos mais directos e muitíssimos mais eficazes do que se nos ficássemos por um mero patrocínio. Estabelecemo-nos à volta do Portugal Masters para fazer a promoção de Portugal como um todo e não só no golfe.
Existe alguma estratégia de comunicação do Portugal Masters nos canais de promoção de Portugal?
Existe, mas, repito, o ponto fundamental do nosso envolvimento no Portugal Masters não é o torneio em si, nem os dias que rodeiam a realização do torneio, mas sim o ano todo e o envolvimento de Portugal com o European Tour, quer a nível da sua organização de cúpula, quer a nível dos torneios que praticamente todas as semanas vão tendo lugar. Portanto, nós promovemos especificamente o Portugal Masters, mas sobretudo aproveitamos a nossa presença no Portugal Masters para promover Portugal durante o ano inteiro.
O Portugal Masters joga-se desde 2007 mas, em contrapartida, o Open de Portugal teve a sua última edição em 2010. Não existem condições para Portugal receber dois torneios do European Tour ou até um do Challenge Tour ou do Ladies European Tour? Uma só prova na alta roda internacional não é pouco para um país como Portugal?
Isso é uma questão que tem de ser posta às autoridades do golfe, tanto nacionais como europeias, porque o nosso papel não é promover o golfe enquanto modalidade desportiva. O nosso papel é promover o golfe enquanto veículo de promoção de Portugal como destino turístico e, nesse sentido, não precisamos de mais do que um torneio. Queremos ter um torneio principal, que nos permita trabalhar de perto com o European Tour e estar presente em vários torneios ao longo da época fora de Portugal. Não é ao Turismo de Portugal que cabe o desenvolvimento do golfe, embora tenhamos muito orgulho e muito prazer em fazer parte desse processo, porque nos interessa também do ponto de vista comunicacional, mas, como lhe digo, um torneio basta para conseguir esse objectivo.
Na entrega de prémios do Portugal Masters 2015, com o presidente da FPG, Manuel Agrellos, à esquerda / © FILIPE GUERRA
Temos tido fields interessantes no Portugal Masters mas não seria de considerar tentar disponibilizar uma verba que permitisse trazer ainda nomes mais sonantes?
Não sei, não nos foi posto nenhum desafio nesse sentido, mas se vier a ser olharemos com atenção, com profissionalismo, dentro desta perspectiva que já mencionei e que repito: o Portugal Masters é para nós uma forma de comunicar Portugal, mais do que promover o golfe. As duas coisas são obviamente complementares, mas distinguem-se na nossa cabeça claramente – e é a relação com o European Tour que mais nos interessa, porque a promoção de Portugal faz-se sobretudo lá fora e não nos eventos aqui em Portugal.
E por uma questão de promoção do país na sua globalidade não seria para o Turismo de Portugal interessante ir alterando o local ou a região de realização do Portugal Masters?
É uma pergunta interessante… Embora o main sponsor seja obviamente uma entidade que tem influência nalgumas decisões, essa é uma decisão que cabe sobretudo às relações entre o European Tour e os campos portugueses que se candidatam à realização do Masters. Portanto, não me queria alongar muito sobre isso. É evidente que ter imagens ou ter impressões de campos distintos ao longo dos anos podia dar a ideia de maior variedade, mas eu acho que sobretudo a integridade desportiva do evento tem que estar assegurada e isso é uma decisão que cabe ao European Tour e não ao Turismo de Portugal.
Como é que é a sua relação com o golfe?
Eu acho que gosto mais do golfe do que o golfe gosta de mim. Comecei a jogar já há vinte e tal anos, tenho tido fases em que consigo ser assíduo – e isso nota-se no desempenho. Mas, por exemplo, nas actuais funções é absolutamente impossível dedicar-me ao golfe como gostaria. A última vez que toquei num taco foi em Setembro do ano passado. No entanto é um desporto que me atrai imenso, quer como praticante, quer como espectador, sendo portanto uma relação de grande proximidade. Mas devo sublinhar que isso é verdade para vários outros desportos ou modalidades, e que não tem influência nas decisões de apoio ou falta de apoio do Turismo de Portugal. O que nos move aqui não são os interesses ou os gostos pessoais do presidente do instituto, são as capacidades, a aptidão comunicacional de cada evento.