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“Ryder Cup em Portugal faz todo o sentido”
24/11/2014 13:13 Rodrigo Cordoeiro
A ser entrevistado por GOLFTATTOO no seu escritório em Lisboa / © FILIPE GUERRA

E Quinta do Lago tem de ser tida em conta numa candidatura nacional, diz André Jordan

Conhecido como o “pai” do turismo português, o empresário André Jordan foi uma vez mais distinguido em Novembro, por ocasião do World Travel Market, o maior e mais participado evento da indústria do turismo. O prémio World Travel Leaders Award 2014 reconhece o seu contributo para o desenvolvimento do Turismo no Algarve. Fundador da Quinta do Lago e do Belas Clube de Campo e renovador de Vilamoura, André Jordan, 81 anos, fala nesta entrevista sobre os prémios atribuídos a Portugal como destino de golfe, do estado actual do golfe nacional, da Ryder Cup, do Portugal Masters e dos projectos para o Belas Clube de Campo.

GOLFTATTOO – Portugal continua a acumular prémios como destino de golfe. Este ano já tinha sido distinguido pela IAGTO (International Association of Golf Tour Operators) como  o melhor destino de golfe da Europa, quando no presente mês de Novembro foi eleito o melhor destino do mundo nos World Golf Awards… 

ANDRÉ JORDAN – Nós fomos os primeiros a fazer esse trabalho de, digamos, lóbi junto das entidades competentes, quando o António Henriques da Silva era presidente da Algarve Golfe. É um grande orgulho para nós e uma grande satisfação ter feito essa contribuição. Portugal tem uma qualidade média de campos muito boa, mas a qualidade é um dos factores, não é o único, e nós temos de fazer muito mais marketing e muito mais promoção, no sentido de encontrar uma maneira efectiva de garantir a fidelização para que o golfe se consolide em Portugal. Há um investimento muito grande que é feito e é grave que o deixemos deteriorar. Actualmente o golfe é mais importante para o turismo do que jamais foi. 

Na sua opinião, o golfe em Portugal, em termos gerais, está a reagir bem à crise económica e financeira? 

Eu tenho tido algum conflito de opinião com as autoridades do Turismo, porque, infelizmente, a recuperação que se sente em termos de ocupação, seja hoteleira ou seja golfística, está ligada com os preços muito baixos. Não houve nenhuma acção nem nenhuma promoção que justificasse uma recuperação. Essa recuperação, infelizmente, não é na rentabilidade, é na receita. Aliás, há um fenómeno ligeiramente perverso: é que quanto maior a ocupação, menor a rentabilidade. É muito importante que se faça uma acção promocional, uma  acção de marketing, bem feita e bem analisada, com eventos – é muito importante a organização de eventos, em todas as zonas, não só no Algarve, também em Lisboa e Porto, que atraia o interesse de um mercado com maior capacidade e maior sofisticação. Ainda na edição deste mês da revista Condé Nast Traveler há uma reportagem muito bonita e simpática sobre o Porto mas em que a jornalista insiste em constantemente referir os preços baixos. 

Como é que vê o facto de o crescimento da atividade económica ligada ao golfe estar a registar valores anémicos, numa tendência que teve início ainda antes da crise desencadeada pelo subprime? 

Eu penso que há factores culturais que precisavam de ser analisados. Uma partida de golfe leva cerca de 3, 4 horas, mas com amadores pode levar até 5 a 6 horas. É muito tempo por dia. Nos Estados Unidos já estão a desenvolver campos de três percursos de 6 buracos. Há uma coisa curiosa: a competição de 9 buracos nunca pegou. Agora, essa ideia dos 6, 12 ou 18 é muito interessante. E também ajudaria muito ao mercado de golfe feminino. Acho que esta questão de adaptar o golfe ao tempo disponível é um dos desafios que se apresentam ao jogo do golfe a nível de amadores. 

E aqui em Portugal, porque acha que não passamos do mesmo número de praticantes? 

Não se mobilizou um esforço colectivo, para trabalhar com as escolas, com as universidades, como acontece nos Estados Unidos. Tínhamos de o ter feito há muito tempo em Portugal, em conjunto com a Federação Portuguesa de Golfe (FPG), porque uma empresa sozinha não tem condições de ir para as universidades, para os colégios… Se for um trabalho em conjunto, isso pode ser feito. E houve, no fundo, uma coisa absurda, que foi a Federação ter construído um campo [o do Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor, em Oeiras] para competir com outros campos. Já houve 3 ou 4 escolas de golfe que fecharam, porque não conseguem competir com os preços da FPG. O campo do Jamor, em vez de aumentar o número de golfistas, vai diminuir ainda mais, tenho a certeza. Nós, em Belas, no nosso clube, fazemos como já tínhamos feito em Vilamoura, com os resultados que se conhecem, um grande esforço e temos aumentado o número de praticantes. Não se justificava à FPG fazer um campo quando podiam usar os nossos campos de borla ou pagando uma verba nominal, que certamente seria menor do que a exigida pela manutenção do Jamor. 

Nas últimas eleições da FPF, apoiou a lista liderada por Alexandre Quintas e Sousa, que acabaria por perder por curta margem para a de Manuel Agrellos, actual presidente da FPG. Na sua opinião, é preciso uma mudança no golfe nacional? 

Eu penso que sim. Eu tenho apreço pela dedicação do Manuel Agrellos e da sua equipa, e amizade pessoal por ele, mas penso que a política que tem sido seguida, no que diz respeito ao desenvolvimento do golfe nacional, tem estado errada já há muitos anos. Não só não aumentou como tem diminuído o número real de jogadores nacionais. E isso tem sido pelo facto de a FPG, basicamente, alienar as empresas proprietárias dos campos do processo de condução e decisão da Federação, assumindo-se esta como uma espécie de plataforma que fala artificialmente no golfe comercial e no golfe desportivo. O golfe desportivo não existe, no sentido em que só há três campos que são propriedade dos sócios, que são o Oporto, o Lisbon e o Estela, sendo que o Lisbon e o Estela estão em muito má situação financeira e o Oporto existe graças aos subsídios do Manuel Violas, seu presidente, e que pessoalmente apoia o campo. Esse não envolvimento das empresas, que, infelizmente, apesar de serem comerciais, não são lucrativas, fez com que, à falta de envolvimento da FPG com esse sector, o processo de formação e recrutamento de jogadores não tenha tido uma política uniforme e prospectiva junto das universidades, junto das escolas, junto dos municípios, que é uma coisa que só a FPG pode coordenar. O CNIG (Conselho Nacional da Indústria do Golfe), em cuja criação participei, nunca foi um lóbi, sempre foi um organismo técnico. Não há ninguém que coordene uma estratégia de desenvolvimento coordenada e uniforme para os clubes e a sua relação com a comunidade. Por outro lado, o que é uma coisa realmente única no mundo, os clubes sem campo, que são entidades cuja identidade jurídica é muito ténue, os clubes sem campo, dizia, têm mais votos na FPG do que as empresas que investiram e que formam jogadores e que promovem o golfe. É uma coisa absolutamente esdrúxula. 

André Jordan mostra-se crítico em relação à Federação Portuguesa de Golfe / © FILIPE GUERRA

Em 2022, a Ryder Cup vai realizar-se na Europa Continental e a FPG está a desenvolver esforços para ter o apoio do Governo e eventualmente de uma entidade privada para se candidatar novamente à Ryder Cup, tal como havia feito para a Ryder Cup de 2018, cuja organização foi atribuída à França. Concorda com esta iniciativa? 

Bom, eu espero que a Federação conduza esse processo com mais transparência do que conduziu o primeiro. Como sabe, foi uma coisa temerária, de costas voltadas para o sector. Nunca ninguém do nosso sector foi consultado nem convidado a fazer propostas, nada. Aquilo foi imposto e, diante do que veio a acontecer recentemente, ainda bem que não vingou. 

Faz sentido haver uma Ryder Cup em Portugal? 

Absolutamente. Havendo os meios e havendo os apoios, com certeza que sim. Aliás, a Ryder Cup tem muito mais valor nos pequenos países do que nos grandes. Você vê que a Irlanda a fez, Gales também. Tiveram ambos muito benefício com a Ryder Cup. 

E a Ryder Cup em Portugal, na sua opinião, deve realizar-se no Algarve? 

Absolutamente. Veja o seguinte: o Algarve tem os campos e tem uma população estrangeira residente. Os eventos de golfe não atraem o turismo, o que atrai o turismo é as pessoas assistirem na televisão nos seus países. Ninguém vem aqui para ver o torneio. Virão alguns para ver a Ryder Cup, com certeza, mas não serão tantos como isso. Quando fui à Ryder Cup em Espanha, em 1997, em Valderrama, havia muitos poucos europeus não espanhóis a assistir. Vieram principalmente os golfistas espanhóis. Os campeonatos de golfe não são uma fonte de turistas mas são uma fonte de promoção do turismo. Qual é o outro desporto em que você tem a noção do que é um território, como o golfe? Um campo de futebol é um campo de futebol, igual em toda a parte, um campo de ténis é um campo de ténis, igual em toda a parte, mas o golfe não, o golfe mostra paisagem, mostra clima e dura muitas horas. Ao pensarmos em concorrer, devemos levar em consideração a Quinta do Lago, não só pela qualidade dos campos e das infra-estruturas turísticas, mas também pelo facto de o seu proprietário ser o bilionário Denis O’Brien, que tem os meios e os contactos para uma campanha bem sucedida.

O empresário veria com bons olhos uma Ryder Cup na Quinta do Lago / © FILIPE GUERRA 

Em relação ao Portugal Masters, da última vez que falámos, disse que o seu prize-money não devia ser tão baixo, que devia voltar ao original, que eram os €3 milhões de euros e não os €2 milhões actuais. Mas, mesmo assim, 3 milhões de euros não é pouco para atrair os melhores do mundo? 

É possível que seja. O que é interessante é que há uma boa vontade dos jogadores em relação ao Victoria [palco do Portugal Masters, em Vilamoura]. Até o catering do Bernardo Sousa Coutinho é apontado pelos jogadores como o melhor do circuito europeu, o que é qualquer coisa de notável. De modo que, essa preferência pelo campo, pelo local, pelo ambiente, compensa um pouco alguma desfasagem do prize-money. Não grandemente, mas compensa. Agora, se precisamos de ser realista em relação aos números, também precisamos de ser realista para perceber que não podemos concorrer com uma BMW ou com esses campeonatos que têm 6, 7 milhões de prize-money. Também era preciso que houvesse um esforço maior, talvez promovido pelo Turismo de Portugal, no sentido de angariar patrocínios. Acho que se tem pensado sempre no big sponsor, no title sponsor, mas talvez devêssemos pensar numa fórmula mais partilhada de patrocínios entre diversos promotores e produtos. Coisas a ver com Portugal que viessem suplementar esses €3 milhões para €4 milhões, por exemplo. Que entrasse o azeite, os vinhos, os azulejos, as loiças, enfim, estou a falar assim aleatoriamente. Talvez se fôssemos mais criativos… Aí também a FPG sempre deixou muito a desejar em termos de mobilizar apoios. 

Costuma seguir os desempenhos dos jogadores profissionais português nos principais circuitos europeus? 

Sim, e acho que esta geração do Ricardo Melo Gouveia e do Pedro Figueiredo é a mais promissora. E isto porquê? Porque, no passado, mesmo na altura dos irmãos Santos, a competição de golfe a que eles tinham acesso era muito limitada, eles não foram formados a ferro e fogo como são nos grandes mercados ou no circuito universitário americano. Então acho que esta geração que estudou nos Estados Unidos e tem uma mentalidade competitiva diferente, mais agressiva e mais ambiciosa, será possivelmente uma geração mais bem sucedida do que a actual. 

Aos 81 anos, continua a dar o seu contributo para a actividade do dia-a-dia do Grupo André Jordan? 

A minha função é estratégica, no sentido de discutir e analisar, juntamente com os executivos, as diferentes estratégias e os meios de implementá-las, também eventualmente nos contactos, nas negociações, etc. Mas isto apenas numa posição de apoio. E também tenho muitas actividades, digamos, extra-curriculares, nas áreas públicas. As pessoas partem do princípio que a experiência pode transmitir alguma coisa aos jovens e eu acho que não é bem verdade, porque a pessoa tem de experimentar por si própria, mas sempre é interessante transmitir alguma coisa da nossa trajectória, do que aprendemos. Também, neste momento, sou testemunha da imensa mudança que o mundo sofreu entre a minha infância e juventude e os dias presentes, pois acho que talvez não tenha havido na história do mundo umas transformações tão profundas, em todas as áreas, na área tecnológica, na área médica, na área política, na área da saúde, na área do entretenimento. 

Em que ponto está o desenvolvimento da segunda fase do Belas Clube de Campo? 

Está em ponto de arranque. O plano de urbanização da zona foi aprovado, estamos agora a negociar o seu financiamento. Já temos a infra-estrutura, numa primeira etapa da nova fase, para 200 habitações, num total de 1500, e estamos agora a negociar e a organizar o seu lançamento. Em Portugal e no estrangeiro. Há-de ser o maior projecto residencial e de lazer numa área metropolitana em qualquer capital europeia. São 500 hectares, tem um parque florestal municipal que nós vamos ceder à câmara, de 125 hectares, é um parque muito substancial. 

E está previsto um hotel, também? 

Sim. Estamos neste momento em negociações avançadas com um grupo de investidores, que traz uma grande marca americana para Belas. Temos tido azar com o hotel: inicialmente era para ser o grupo Saviotti, que comprou o terreno e depois desistiu. Veio a Fadesa, que era a maior empresa imobiliária espanhola e que faliu. Mas julgo que à terceira será de vez. Ainda não posso dizer qual a marca, como sabe, estas negociações são sempre sujeitas a contratos de confidencialidade. 

O Grupo Jordan está envolvido em alguns outros projectos que ainda não estejam lançados? 

Estamos a analisar algumas coisas. Eu penso que Portugal está no limiar, também, de uma transformação no sentido da sua incorporação no mercado global habitacional e de lazer, ou seja, eu penso que vai ser absolutamente natural que muito mais gente venha viver para Portugal. É um processo que já está em curso, apoiado em algumas vantagens fiscais que em boa hora o Governo português implementou e que eu espero que não seja atacado porque é uma coisa que realmente abre um caminho. É um processo que já está em curso. 

Quais são as suas actividades preferidas nos seus momentos de lazer. Nomeadamente nas viagens, onde é que gosta de ir, onde é que gosta de estar? 

Olhe, eu tenho que confessar que não sou turista. Gosto de lugares onde conheça pessoas, onde tenha contacto, alguma vivência local. A vida tem-me levado muito mais pelo meu trabalho ou por amizade a certos lugares do que propriamente para ver coisas. Para ver coisas vejo no canal Discovery, não preciso de ir lá ver. Conheço parte dos Estados Unidos, alguma coisa do Brasil e da América do Sul e bastante da Europa. Mas nunca estive na Ásia, aliás, estive em Hong-Kong, Macau e Tóquio e nunca estive em África, nem nesses lugares exóticos de praias românticas, nem nada disso. Viajo sempre mais ou menos pelo mesmo circuito que é Londres, onde continuamos a ter muitas relações de negócios. Quando posso, vou a Paris e vou a Madrid que são duas cidades de enorme encanto para mim. Vou ao Rio onde tenho um apartamento da família e vou aos Estados Unidos, a Nova Iorque, a Washington, onde a minha mulher tem a sua família. É mais ou menos isso e já é muito para a minha idade e para a disponibilidade de tempo que eu tenho.