José Correia faz balanço de meia-década à frente dos destinos da PGA Portugal
Natural e residente em Lagos, no Algarve, José Correia foi um dos melhores amadores na década de 90. Conquistou títulos nacionais em vários escalões, sagrou-se campeão nacional amador absoluto em 1994 e, no mesmo ano, representou Portugal no Campeonato do Mundo, o Troféu Eisenhower, jogado no Le Golf National, em Paris, numa edição em que a equipa dos Estados Unidos, abrilhantada por Tiger Woods, pura e simplesmente arrasou. Passou a profissional pouco depois de ter causado sensação ao fazer o cut no Open da Madeira, numa época em que ainda que ainda era raro ver portugueses na fase final de provas do European Tour. “Andei um ano a treinar para tentar jogar, mas em Portugal não havia competição nem recursos suficientes para tentar os circuitos lá fora, pelo que as coisas foram acontecendo normalmente até desistir da ideia”, recorda. Assumiu a presidência da PGA de Portugal em 2010 e em 2015 foi eleito para um segundo mandato.
Quando assumiu a presidência da PGA de Portugal, em que estado encontrou o organismo?
Em 2010, quando assumimos a direcção, encontrámos um organismo com forte necessidade de reestruturação a nível financeiro e organizativo. Nessa altura o plano de actividades era diminuto e existiam compromissos, especialmente para com a banca, fornecedores e jogadores, que não estavam a ser cumpridos, compromissos esses que ascendiam a perto dos 100 mil euros.
O que o levou a assumir o desafio de presidir a uma nova direcção da PGA Portugal?
Não sou pessoa de deixar as coisas acontecerem, estou em constante procura de novos desafios e senti que poderia ajudar a associação da qual também faço parte. Tenho imenso orgulho no golfe profissional português, sei as dificuldades que existem mas acreditei que os nossos associados mereciam mais. Foi-me dito que a PGA Portugal era um caso perdido, por vezes por parte de pessoas a quem não reconheço qualquer mérito, e foi isso que me levou a assumir a presidência: provar que era possível.
Qual foi o seu plano de ataque nessa altura?
É importante realçar que este caminho não está a ser feito apenas por mim, toda a direcção tem forte input nas decisões que são tomadas, foi isso que fizemos, reunimos a direcção e montámos uma estratégia. Começámos por identificar os credores, passámos às prioridades e fomos ao encontro das pessoas para dizer quem éramos e que estavamos ali para regularizar a situação. Esta postura deu-nos credibilidade e permitiu-nos crescer. Fomos ao encontro de parceiros e patrocinadores que permitiram iniciar uma actividade desportiva regular, atraímos a atenção dos media, demos voz aos associados, enfim, tornámos a PGA de Portugal numa entidade respeitada.
Em jogo com Ricardo Lopes, secretário-geral da PGA Portugal / © FILIPE GUERRA
Entretanto, completou o primeiro mandato e iniciou o segundo em 2015. Que balanço faz destes cinco anos à frente da PGA?
Fazendo uma análise abrangente, temos que dizer que o balanço é muito positivo. Hoje temos um ponto de partida, o processo de reestruturação está quase terminado, aumentámos o número de associados em 35 por cento, criámos mais oportunidades aos nossos jogadores para competirem fora do país, obtivemos vitórias a nível europeu, temos melhores treinadores, enfim, temos contribuído muito para esta modalidade.
Depois do estabelecimento do PGA Portugal Tour, lançou em 2014 o Algarve Pro Golf Tour e com isso trouxe ao país um novo circuito internacional de profissionais. É possível que este último se transforme num “satélite” dos principais tours europeus?
O Algarve Pro Golf Tour é mais um dos projectos em que a PGA de Portugal está envolvida, mais uma vez poucos acreditaram nele, mas eu sim, foi por isso que fomos em frente. Este circuito tem potencial enorme, temos tido a participação de jogadores do Challenge Tour e do European Tour, que aproveitam os nossos torneios para prepararem a época. Um circuito satélite? Já tive algumas conversas nesse sentido, existem requisitos que ainda não cumprimos, mas sim, poderá ser uma realidade dentro de três ou quatro anos.
Com Gary Harris do Jamega Tour, nos Salgados / © FILIPE GUERRA
A PGA Portugal tem atualmente um vasto leque de patrocinadores e parceiros, mas ainda não encontrou um patrocinador para o seu circuito – o PGA Portugal Tour… E em relação ao Algarve Pro Golf Tour, quais são os apoios que têm?
Verdade, ainda não conseguimos encontrar um patrocinador que assuma o naming do circuito, preferimos não desvalorizar este produto que é o PGA Portugal Tour. Quando acontecer, que seja pelo valor que julgamos justo. Relativamente ao Algarve Pro Golf Tour é mais complicado: trata-se de um circuito internacional e torna-se dificil captar patrocinios no exterior. Possivelmente teremos algum apoio do Turismo, estamos a aguardar uma resposta à nossa proposta. Este circuito combate a sazonalidade no Algarve, gera muita receita à região numa época identificada como baixa, somos reconhecidos com uma grande mais-valia para os campos de golfe, hóteis, rent-a-cars, restaurantes, etc. Merecemos apoio.
Que importância é que tem junto da PGA Portugal o facto de haver portugueses na alta-roda, como Ricardo Santos, Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima?
Todos estes jogadores elevam o golfe nacional e, claro, para a PGA de Portugal é um orgulho enorme tê-los como nossos associados. Sempre que lhes é possivel marcam presença nos nossos torneios, dão entrevistas, autógrafos, tiram fotografias… São excelentes embaixadores pela forma como jogam, pela sua simpatia, sentido de colaboração, são um bom exemplo do que é o profissional de golfe em Portugal. Contudo, existem muitos mais que têm colaborado para o crescimento e credibilização da PGA de Portugal. Aproveito para deixar o nosso especial agradecimento a todos eles.
Com Pedro Figueiredo, Ricardo Melo Gouveia, João Carlota e, ao centro, o presidente da Federação Portuguesa de Golfe, Manuel Agrellos / © FILIPE GUERRA
Hugo Santos venceu três das últimas quatro edições do PGA Professional Championship, o principal campeonato da PGA of Europe, organismo do qual a PGA Portugal faz parte…
O Hugo Santos é um jogador reconhecido a nível europeu, faz parte de um leque restrito de jogadores/treinadores com capacidade de vencer por três vezes o PGAs of Europe Championship. Tive o privilégio de estar presente na sua primeira vitória, foi emocionante. Os irmãos Santos já representaram o nosso país na Taça do Mundo e jogaram ao lado dos melhores nesta modalidade, o seu valor é reconhecido por muitos.
Outro jogador em destaque é o bicampeão nacional de profissionais, Tiago Cruz, que tem aproveitado o PGA Portugal Tour e o Algarve Pro Golf Tour para brilhar, com sete vitórias em 2015.
O Tiago teve uma época de 2015 excepcional, está um jogador mais maduro, conhece bem o seu jogo, está bem com a vida, tem uma equipa de trabalho profissional e, claro, tem tido a oportunidade de competir com muita regularidade. Tudo isto permite que a performance desportiva melhore consideravelmente.
De que maneira poderá a PGA Portugal ajudar os amadores na transição para o profissionalismo, além de lhes proporcionar um calendário competitivo?
O projecto Portugal Golf Team prevê exactamente isso, um envolvimento mais directo com os amadores de alta competição, envolvê-los no processo através de participações nos torneios do PGA Portugal Tour mas também com os próprios treinadores. Serão estes amadores que irão integrar o Portugal Team no futuro, os vários elementos que constituem as equipas técnicas têm que interagir e preparar a integração destes atletas numa carreira profissional.
Com a sua mulher, Isabel Dantas / © FILIPE GUERRA
Em termos de formação o que tem sido feito pela PGA de Portugal?
A PGA de Portugal colabora no curso de formação de treinadores em conjunto com a Federação Portuguesa de Golfe, temos um input importante na forma como este curso chega aos futuros treinadores de golfe. Em 2016 iremos dar início a um programa anual de seminários direccionado mais para os treinadores. Este programa proporcionará aos nossos associados o aumento do seu conhecimento no desenvolvimento da sua actividade profissional, “melhores treinadores, melhores jogadores”.
Qual foi o conceito que presidiu à criação dos Pro-Am Series? É uma aposta ganha?
O Circuito Pro-Am Series é composto por 8 torneios em formato Pro-Am (equipas). Foi mais uma forma de aproximar a PGA de Portugal dos praticantes em geral. Sentimos que seria importante dar a oportunidade de jogar ao lado dos melhores durante 18 buracos, conviver com eles, ter a oportunidade de aprenderem com eles. É sempre uma experiencia memorável, é como jogar uma partida de ténis com o João Sousa ou dar uns toques na bola com o Ronaldo, existem poucas modalidades que o permitem fazer, no golfe tem corrido muito bem, temos uma média de 18 equipas por torneio o que é fantástico.
Que novidades nos pode dar em relação ao ano de 2016?
Em 2016 iremos lançar o PGA Fan Card, trata-se de um programa de fidelização que oferecerá beneficios em várias áreas, não será apenas no golfe. Em breve teremos mais novidades. Relativamente ao Campeonato Nacional PGA, não temos ainda a confirmação de onde se jogará, mas acredito que será na zona centro e no mês de Setembro.
Quais são os próximos desafios que a PGA Portugal tem pela frente?
O maior desafio é ter a capacidade constante de criar, não podemos achar que está tudo feito, pelo contrário, fizemos muito pouco. É importante trazer um torneio para Portugal do Challenge Tour, neste momento este é o nosso maior desafio, a FPG e PGA estão a unir esforços nesse sentido, esperamos que seja uma realidade em breve.
O que mudou na sua vida desde que assumiu a presidência da PGA?
Tudo acontece muito mais rápido, encaro a PGA de Portugal como um full-time job. Infelizmente não estou tanto tempo com a família como gostaria, mas também tenho “recebido” bastante, estou bem com a vida e isso é importante para mim, acordar e sentir a mesma vontade e motivação que tinha há cinco anos é especial.
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*Esta entrevista foi originalmente publicada no caderno GOLFE do jornal Público, de dia 30 de Janeiro