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Tomás Silva vai tentar carreira profissional de competição
01/08/2014 17:28 Rodrigo Cordoeiro
Tomás Silva na sala de troféus do Clube de Golfe do Estoril / © FILIPE GUERRA

Campeão nacional, 21 anos, +1,8 de handicap, quer tornar-se profissional em 2015

É a grande questão que se coloca: vais ou não tornar-te profissional de golfe de competição, depois de já somares quatro majors nacionais (dois Campeonatos Nacionais e duas Taças da Federação)?

Está nos meus horizontes. Primeiro, quero acabar o meu curso [Economia, no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), agora com um nome mais pomposo: Lisbon School of Economics & Management]. Quando isso acontecer, pensarei em tornar-me profissional. Tenho mais este ano de 2014-2015 para estudar. Não sei se passarei a profissional imediatamente após o curso ou se tentarei jogar mais um ano como amador na alta competição, dedicando-me a 100 por cento ao golfe, para depois ver se tenho realmente nível para chegar ao Challenge Tour ou ao European Tour.

Vais conseguir conciliar os estudos com o golfe neste teu último ano lectivo?

Aquilo que eu quero fazer é trabalhar ao máximo no golfe. Este último já trabalhei a fundo, tanto ao nível técnico como físico, quero tentar fazer o mesmo em 2014-2015. Ainda estou à espera para saber o meu horário na faculdade, mas em princípio vai ser mais ou menos igual ao ano passado: manhã livres, tarde passadas na faculdade a estudar e a ter aulas. Em princípio vou ter as manhãs livres para o golfe.

Tens facilidades por parte da faculdade para poderes jogar golfe?

Nada. Houve uma vez em que tentei falar com um professor, porque tinha um torneio da PGA Portugal na altura no Montado, que coincidia com um teste. Fui falar com o professor, disse-lhe que tinha um torneio, que fora convocado pela selecção, e pedi-lhe para fazer o teste na segunda-feira e não na sexta-feira, como estava agendado. Ele respondeu que não, que não havia hipóteses, e que se eu faltasse ao teste não faria a cadeira. A partir daí meti o golfe um bocadinho de parte e tentei conciliar ao máximo abdicando de alguns torneios para estudar. Mas também já abdiquei dos estudos para jogar golfe.

Em acção no Liberty PGA Open, em Junho, no percurso Ocêanico O'Connor / © FILIPE GUERRA

Tens fortes hipóteses de ser um dos três jogadores que vão representar a selecção de Portugal no Campeonato do Mundo por Equipas, vulgo Troféu Eisenhower. Alguma vez abdicarias deste torneio por causa da faculdade?

Não. Mas acho que essa questão nem se coloca, porque este ano, como é na primeira quinzena de Setembro, não calha na altura das aulas.  Se tivesse de abdicar das aulas, abdicava, paciência. É o Campeonato do  Mundo e eu quero estar presente.

Tens falado com o Gonçalo Pinto ou com o Ricardo Melo Gouveia  sobre a recente passagem deles a profissionais?

Tive agora oportunidade de falar com o Gonçalo Pinto, nos Açores, durante o Open da Terceira. Dividimos o quarto e jogámos juntos nos últimos dois dias, troquei algumas ideias com ele sobre como é que é a vida no Challenge Tour, as dificuldades, o que podia melhorar… Ele deu-me as suas ideias, disse-me o que pensava. Não se pode ter medo de dar as pancadas, é escolher o shot e dar o shot, não pensar em mais nada, nos erros que podemos fazer.

Agora que falaste no Open Ilha Terceira, aproveito para te perguntar sobre o teu desempenho lá. No momento em que temos esta conversa, passaram apenas três dias desde que ficaste em segundo, a uma pancada do Tiago Cruz, que foi o vencedor. Tiveste perto de vencer uma prova de profissionais, sancionada pela PGA Portugal…

Foram três dias muito difíceis, apanhámos muita chuva, muito vento. No último dia inclusivamente levámos seis horas para jogar 18 buracos. O Gonçalo Pinto por acaso teve de existir para apanhar um avião para o Azerbeijão. Na minha opinião – e não só minha – houve alguns erros da Comissão Técnica, mas pronto, foi uma semana difícil. Eu estava sólido, tenho treinado, acho que o meu resultado demonstra isso mesmo. Já tinha ficado duas ou três vezes em segundo em provas da PGA, esta foi mais uma.

Que erros da Comissão Técnica?

De todos os sócios do Clube de Golfe da Ilha Terceira, só tenho bem a dizer, muito amáveis, receberam-nos de braços abertos, muito simpáticos. Agora da Comissão Técnica… No último dia estava a chover torrencialmente, os greens completamente encharcados, empapados. Eu, o Tiago e o Gonçalo estávamos com os ancinhos a tentar tirar o excedente de água e 10 segundos depois a água voltava a aparecer. Na minha opinião – e na opinião de alguns jogadores – a prova deveria ter sido interrompida. O campo não nos permitia jogar, porque os greens estavam completamente alagados. O que aconteceu foi que a comissão técnica decidiu deixar-nos no campo, demorámos entre uma hora e uma hora e meia a jogar os buracos 10 e o 11, porque os senhores da comissão não quiseram interromper a prova, e acho que isso influenciou não só o meu resultado, como o resultado dos outros jogadores.

Fizeste voltas de 74-73-70, 1 acima do par-72, para ficar a um shot do play-off com Tiago Cruz. Como foi o desenlace final?

O Tiago ganhou com um birdie no último. Vínhamos empatados, fizemos os dois uns grandes primeiros 9 buracos, os dois em 4 abaixo. Nos segundos 9 buracos aí começou a chover, e a fazer mais vento, e os buracos são também um bocadinho mais difíceis do que os primeiros 9. O Tiago fez uns bogeys, eu fiz um duplo bogey. Íamos empatados com 1 abaixo para o dia, para o 17, fizemos os dois birdie no 17 e ficámos os dois 2 abaixo. Depois, no 18, um par-3 ligeiramente a subir e com vento contra, a bandeira não estava fácil, estava no patamar de cima, e como os greens na Terceira são muitos moles, tem de ser o shot certo, um shot baixinho, controlado. E o Tiago conseguiu fazer isso, meteu a bola a 3, 4 metros e meteu o putt. Eu meti a bola no patamar de baixo e fiz 2 putts, fiz par.

Pões a hipótese de passar a profissional para o ensino?

Não, não penso nisso. O objectivo é ser profissional de jogo mesmo. Estar no circuito europeu e não no ensino. Acho que não tenho vocação para ensinar.

Estás a trabalhar nalguma área específica na parte técnica?

Agora estou a dedicar mais tempo ao putting. Tenho sentido que nos últimos anos de alta competição o que me tem faltado é o putting, porque a percentagem de fairways acertados, a percentagem de greens acertados está lá, inclusivamente estão acima das percentagens dos greens e fairways acertados em média no Tour.

Na consagração no Campeonato Nacional 2014, Quinta do Peru / © PEDRO SÁ DA BANDEIRA

Vais jogar o Campeonato Nacional PGA?

Não, porque dia 3 ou 4 de Agosto vou para a Escócia com o João Carlota jogar o Campeonato da Europa Individual. E penso que as datas coincidem.

É o teu primeiro Campeonato da Europa Individual?

Sim.

Como é que nunca jogaste o Europeu Individual? E, já agora, como é que nunca tinhas jogado o Europeu por Equipas na selecção de homens, antes da última e recente edição, em Julho, na Finlândia?

Quando eu pude jogar o Campeonato da Europa de Equipas de Homens, em 2010, que foi quando fui campeão nacional absoluto pela primeira vez, nós na altura tínhamos uma equipa razoável para jogar o Europeu de sub-18, e optaram por me levar ao Europeu de Boys. E até agora não tinha feito bons resultados, tinha deixado o golfe um bocadinho de parte e é natural que não tenha sido convocado, e que estas tenham sido as primeiras vezes. Agora para o Campeonato da Europa Individual, segundo sei, entrei por convite, porque por handicap e por ranking mundial era muito difícil. O meu handicap [+1,8] não dava entrada directa nem o ranking mundial, que é muito alto. Estou obviamente feliz.

A prova da selecção portuguesa no último Europeu por Equipas foi decepcionante: último lugar na fase de stroke play e 15º lugar final entre 16 países.

Foi muito decepcionante. No primeiro dia tivemos uma conversa com o seleccionador, penso que acusámos todos um bocadinho a pressão de estar a representar Portugal no Campeonato da Europa. E o resultado mostrou isso mesmo. No segundo dia joguei praticamente igual ao que tinha jogado no primeiro dia mas os putts entraram e consegui fazer um bom resultado. No match play, venci as minhas duas últimas partidas. Mas o resultado da equipa foi decepcionante, agora temos de ir ao qualifying para voltarmos a estar presentes no Europeu. Vamos tentar.

Estás a trabalhar com o [profissional] Miguel Nunes Pedro desde que ele foi para o Estoril?

Sim, o Miguel tem-me ajudado bastante a nível de jogo curto desde que veio para cá. Eu inclusivamente não conseguia ‘chipar’, tinha bloqueios mentais. Desde que o Miguel veio para cá conseguiu-me dar mais confiança, dizer que não é um shot assim tão complicado, é só meter na cabeça que é aquilo que eu quero, definir o shot e dar o shot. Obviamente, há coisas técnicas que também foram corrigidas, mas sim, a nível de chipping tenho trabalho com o Miguel. Depois a nível de jogo comprido e de putting tenho o David Llewellyn, que é também o treinador do Pedro Figueiredo e do Ricardo Melo Gouveia.

Com que frequência é que o vês?

Estive agora ano e meio sem estar com ele, porque não fazia sentido estar a gastar dinheiro para depois não treinar. Mas decidi agora voltar a estar novamente com ele, estive com ele há um mês e de dois em dois meses encontramo-nos. E sempre que tiver alguma questão, alguma dúvida sobre o meu jogo ou swing envio-lhe um mail, ele dá-me a sua opinião. Quando ele vem a Portugal, tem um horário das 8h até ao final do dia, e normalmente combinamos uma ou duas horas, dependendo daquilo que ele quer trabalhar connosco. O João Magalhães também está com ele.

Antes do Miguel Nunes Pedro com quem é que trabalhavas aqui no Estoril?

Com ninguém. Era um auto-didacta. Trabalhava com o David Llewellyn ou então também recebia algumas dicas do Nuno Campino. O Nuno Campino pôs aos dispôr a academia do Jamor, para irmos lá sempre que quiséssemos, mas aqui no Estoril não havia ninguém.

O que acha do Miguel Nunes Pedro como treinador?

Acho que é bom, é um treinador da velha guarda, mas eu acho que o trabalho que ele faz não é tanto a nível técnico, mas é mais a nível mental. É mais incutir nos jogadores que nós conseguimos fazer. Obviamente que há sempre pormenores técnicos que têm de ser corrigidos, mas são pequenas coisas, e o que ele está a tentar transmitir aos jogadores, não só a mim, mas aos jogadores aqui do clube é que ele conseguem fazer melhor, é só acreditar.

No passado domingo houve aqui no Estoril, onde nos encontramos a fazer esta entrevista, a vitória de um jogador da casa, o José Maria Caeiro, no 4º Torneio do Circuito Liberty, da Federação. Conheces bem?

Claro que sim, inclusivamente nas últimas duas edições do Inter-Clubes fiz parceria com ele em foursomes. Costumo treinar com ele aqui no Estoril de vez em quando. Fiquei muito feliz por ele ter vencido, estava no aeroporto, recebi uma chamada a dizer que ele tinha metido um putt no 18 para birdie e para ganhar o torneio, Fiquei muito feliz.

Não digam a ninguém do CG Estoril que ele se estendeu neste sofá / © FILIPE GUERRA

O José Maria Caeiro, que tem apenas 15 anos, deve ter dado um grande salto para vencer uma prova deste calibre diante dos favoritos e dos internacionais da selecção nacional…

Tive oportunidade de falar com ele ao longo do ano. Os resultados dele não estavam a ser os melhores, e inclusivamente ele disse-me que estava a ficar um bocado desanimado com o golfe. Mas há duas semanas atrás houve uma prova aqui no Estoril e ele conseguiu fazer um bom resultado e ganhou o torneio. Tem sido também importante o trabalho que o Miguel [Nunes Pedro] tem feito com ele a nível mental, acho que tem sido fundamental, e esta vitória mostra isso mesmo: um handicap 5 ou 6 perante um field com alguns dos melhores amadores nacionais… Foi fantástico. Mesmo jogando em casa, fazer 3 abaixo é sempre fantástico.

Tens algum jogador na alta-roda internacional que seja uma referência para ti?

Tenho sempre o Tiger, é sempre aquele exemplo que nós queremos seguir. Agora nestes novos tempos, não podia deixar de ser o Rory McIlroy, por todo o trabalho, pela sua evolução desde que mudou para a Nike. Às pessoas que o criticaram dizendo que ele nunca mais ia conseguir, ele tem provado que estavam erradas. Os tacos obviamente ajudam e influenciam as tacadas, mas todo o trabalho que ele tem vindo a fazer fisicamente mostra toda a sua evolução. É uma referência.

Se pudesse voltar atrás farias alguma coisa diferente?

No primeiro ano da faculdade, em vez de tentar fazer todas as cadeiras, teria definido fazer apenas 5 ou 6, mas dedicando-me ao máximo a todas. Assim, perdi-me na faculdade, perdi-me no golfe, e talvez fizesse isso diferente. Nunca tive apoio no alto rendimento, tentei, fiz o requerimento para ser atleta de alta competição, mas foi-me negado.