Susana Mendes Ribeiro revela que vai jogar Ladies European Tour Access Series em 2015
Nesta entrevista a GOLFTATTO, dada antes da partida para o Mundial desta semana, Susana Mendes Ribeiro, do Club de Golf de Miramar, 24 anos, desvenda os seus planos para 2015, que passam por assumir o profissionalismo e jogar provas do Ladies European Tour Acess Series, o circuito satélite do Ladies European Tour. A bicampeão nacional amadora fala ainda do Mundial que começa quarta-feira no Japão, neste capítulo saindo em defesa de Rita Félix, que foi preterida na selecção em favor de Inês Barbosa. E faz um balanço da sua época até ao momento.
GOLFTATTOO – Como é que estás a encarar a tua participação, a partir de quinta-feira, no World Team Amateur Championship no Japão?
SUSANA MENDES RIBEIRO – É um torneio de muita responsabilidade, para quem vai representar a selecção. Espero dar o meu melhor. Estou confiante, neste momento estou a jogar bem. Tanto eu como a Leonor [Bessa] viemos agora de uma vitória no Campeonato Nacional de Clubes, o que também nos dá alguma confiança. Acho que vou fazer uma boa prova.
O teu desempenho no último Campeonato da Europa Individual, na Estónia, não foi famoso… Falhaste o cut por 8 pancadas, após três voltas de 79-77-75, para um total de 15 acima do par-72. O que é que correu mal?
É assim: eu, no primeiro dia, falando por mim, ‘patei’ muito mal. Só no primeiro dia fiz 41 putts, fiz mais pancadas no green do que fora dele. E estava a bater bem, estava a ‘chipar’ bem, estava bem nos drives,mas o putting não estava lá. Os greens não eram complicados. Foi uma questão técnica, só. Os greens eram grandes mas os putts que eu falhava eram mais os putts. Daí o resultado no primeiro dia ter sido mau. No segundo dia já me correu um bocadinho melhor e no terceiro também, mas não chegou. Àquele nível, não chegou.
Vai ser a tua segunda participação seguida no Campeonato do Mundo. Que memórias guardas da edição de 2012, em Antalya, Turquia?
Há dois anos, a nível de resultados, não correu nada bem. Joguei muito mal e não dei grande contributo à equipa. Mas é uma grande responsabilidade e é um ambiente completamente diferente doutro torneio qualquer, até de um Campeonato da Europa. Nós chegamos lá e sabemos que estamos a jogar entre as melhores do mundo dos diferentes países.
Sentiste alguma pressão há dois anos?
Houve, claro. Chegar lá ao tee do 1 e ter a noção de que se está a jogar o Campeonato do Mundo é uma pressão diferente de qualquer torneio internacional ou Europeu individual. Nunca joguei um Europeu de equipas, mas é certamente diferente.
Susana é de longe a melhor golfista amadora portuguesa da actualidade / © FILIPE GUERRA
Ficaste surpreendida com a convocatória da Inês Barbosa, de 15 anos, para o Mundial?
Fiquei. Fiquei surpreendida. Todos nós sabemos e ela própria sabe que os seus objectivos são outros. São diferentes dos meus, são diferentes dos da Inês. Tanto a Inês como a Leonor são muito novas e podem querer seguir uma carreira no golfe, mas também podem não querer daqui a uns anos, podem interessar-se por uma outra área qualquer e desistirem da carreira no golfe. Eu própria, quando entrei para a faculdade, se me dissessem ‘Olha, daqui a três anos vais querer ser jogadora de golfe” eu responderia que ‘Nunca na vida’. E hoje em dia quero. Por isso, acho que o facto de elas quererem ser profissionais ou não, acho que não tem muito a ver. Agora a Rita, quer seguir medicina mas penso que… Eu fiquei surpreendida porque ela venceu duas provas este ano, está em segundo no Ranking Nacional BPI, está em primeiro no Ranking do Circuito Liberty, e a Rita é sempre uma jogadora que faz a diferença, nos torneios nacionais está sempre lá, em primeiro, segundo ou terceiro lugares. O jogo dela nunca descamba muito. E também é uma jogadora que tem muita garra e penso que ela lutou por isso, lutou por estar na primeira fila do Campeonato do Mundo e surpreendeu-me a escolha da Inês, não tanto pelos resultados da Inês, mas pelas classificações que a Rita obteve e pelas classificações que ela tem no ranking. Aí surpreendeu-me, mas são opções. Ela própria também ficou surpreendida, é evidente. Eu fui com ela ao Campeonato da Europa Individual e ela própria na altura já pensava que podia não ir, mas ficou surpreendida também quando lhe disseram. E realmente nisso ela tem razão: as convocatórias não devem ser feitas tendo em conta os objectivos golfísticos de cada pessoa e sim com os resultados que tem obtido. Mas é a minha opinião.
Achas que a equipa sai enfraquecida?
Não, acho que não. Acho que a Inês tem muito potencial e joga bem. Falta-lhe um pouco de experiência, é normal, ela também é muito nova ainda, mas bate muito bem na bola e é capaz de conseguir fazer um bom resultado. Mas, lá está, em relação à Rita, tem menos experiência. A Rita pode bater pior ou pode fazer um resultado pior mas agarra-se muito ao jogo. Mas é uma decisão muito difícil. Eu se estivesse no lugar do Nuno Campino [Seleccionador Nacional] também não sei o que escolheria. Dependendo dos critérios deles, eles lá escolhem. Mas acho que não saímos enfraquecidas, acho que temos uma boa equipa.
Sabemos que tens em mente tornares-te profissional de golfe mais cedo ou mais tarde. É para quando?
Ainda não decidi bem quando é que vou passar a profissional. Em princípio este ano não vai haver Escola de Qualificação, o acesso ao Ladies European Tour (LET) deve passar a fazer-se através do LET Access Series [circuito satélite], que só começa em Março. Independentemente de passar ou não a profissional, quero ver se para o ano que vem começo a jogar mesmo o LET Access Series. Por isso não devo passar a profissional antes de 2015. Mas antes vou jogar uma prova do LET Access Series, o Azores Ladies Open, em Outubro.
Mas isso é uma novidade. É sempre bom saber que vamos ter uma portuguesa a competir num circuito profissional europeu.
Sim, eu para o ano queria jogar as provas do LET Access Series. Independentemente de passar ou não a profissional. Quero ver se começo a jogar mesmo o circuito, porque no ano passado, quando joguei o Azores Ladies Open pela primeira vez, estivemos a falar com a directora do circuito e ela disse-me que, se eu quisesse ir jogar qualquer torneio, bastava enviar-lhe um e-mail e ela dava-me um convite para ir jogar. Por isso, quero ver se aproveito e para o ano me dedico mais a essas provas.
Isso implica patrocínios, já tens alguns em vista?
Para já não. Também ainda não procurei muito. Como sou amadora é complicado, por causa do estatuto e tudo. Eu tinha planeado passar a profissional depois da Escola de Qualificação. Se a Escola corresse bem, passava. Mas sendo assim, não havendo mais Escola, acho que não se justifica. Para já não se justifica, por isso posso jogar um ou dois torneios, ver como é que corre e logo decido.
A jogadora reconhece grande evolução em relação a 2013 / © FILIPE GUERRA
Que balanço fazes da época que estás a ter?
Acho que tem sido uma época de altos e baixos. Quando comecei o ano, apesar de ter ganho a primeira prova [1º Torneio Liberty Seguros], não estava a jogar muito bem. O Internacional de Portugal foi um desastre, também os putts correram mal aí, mas foi um torneio em que eu aprendi muito, porque foi um torneio em que a minha atitude foi má e eu deixei que os putts me estragassem o resto do jogo, chateei-me. Foi um torneio que consegui analisar juntamente com o psicólogo com quem tenho trabalhado, o Gonçalo Castanho. Fizemos a análise e o que realmente falhou foi essencialmente a atitude, a atitude e o jogo curto. O jogo curto, trabalhei-o até ao Campeonato Nacional Absoluto e a atitude também. Foi isso que fez a diferença, depois, no Campeonato Nacional Absoluto. Desde então tivemos uma grande paragem…. Já estou mais confiante, sinto que o meu jogo está a voltar ao que era no Campeonato Nacional, sinto que estou em boa forma para o Campeonato do Mundo.
Em relação à prova que fizeste no Campeonato Nacional Absoluto, notou-se uma grande diferença em relação à tua vitória em 2013, que foi muito mais sofrida e com resultados francamente piores. Sentes que evoluíste muito?
No que evoluí mais foi na minha atitude. O ano passado entrei já meio morta, porque a primeira volta foi um desastre. Este ano entrei mais confiante e o facto de fazer um erro num buraco não me deitou abaixo, a minha atitude foi sempre boa durante o torneio todo. Fui sempre muito calma, pois apesar de os resultados terem sido muito semelhantes, os dias foram muito diferentes. Por exemplo, no terceiro dia, que foi o dia em que ganhei mais vantagem, estava muito mau tempo e eu comecei logo muito mal, com 2 duplos. Só dava roscas, e o facto de não me ter chateado – as minhas companheiras também começaram mal – deu-me a possibilidade de conseguir pensar naquilo que eu estava a fazer e, a partir do buraco 3, comecei a jogar direito, a fazer o jogo que tinha estado a fazer nos outros dois dias, e ainda consegui acabar 3 acima. Por isso, acho que a principal diferença foi a minha atitude em campo. Não é por estar a bater mais comprido. Eu o ano passado estava a jogar muito bem antes do Campeonato Nacional Absoluto, até no dia anterior, na volta de treino, tinha feito 1 abaixo. Depois, quando cheguei ao primeiro dia, comecei a chatear-me, as coisas começaram a correr mal e foi por ali fora... Acabei o primeiro dia chateada, fui para o segundo dia chateada…. Só no último dia, como já não tinha nada a perder, como já pensava que não era possível, é que joguei para me divertir e para tentar fazer um bom resultado e não sair de lá tão chateada e mais satisfeita. Então consegui fazer o par do campo e ainda consegui ser campeã nacional.
Estás a trabalhar com o psicólogo Gonçalo Castanho?
Sim, já estou a trabalhar com ele há um ano.
Por que é que decidiste recorrer a um psicólogo?
Eu já andava a pensar nisso há algum tempo. Só que, primeiro, achava que um psicólogo qualquer, que não percebesse nada de golfe, não fazia sentido. Porque nesse caso acho que ia precisar de passar as primeiras dez sessões a explicar o que era o golfe. E é muito difícil quem não percebe nada de golfe conseguir ajudar um jogador de golfe. O ano passado fui para o Europeu Individual com boas intenções, queria mesmo passar o cut. Mas houve ali um buraco que me correu mal e eu parece que desliguei o botão para o cérebro e acabou. A partir dali comecei a jogar mal, mal, mal. E o David Moura, como faz parte da equipa técnica, e nos acompanhou no Europeu, aconselhou-me a falar com o Gonçalo [Castanho] e deu-me o contacto dele. Temos trabalhado principalmente a minha atitude e a minha postura em campo, a maneira como encaro cada torneio, basicamente é isso. Porque eu costumava ir muito nervosa para os torneios, e os nervos é bom até certo ponto, quando é em excesso, já afecta muito o jogo.
Com que regularidade é que estás em contacto com ele? É algo de periódico ou só quando calha?
É mais quando eu preciso. E nisso o Gonçalo é uma pessoa fantástica, porque sempre que eu preciso de falar com ele, falo. Ligo-lhe, falo com ele, ou falamos por Skype, ou às vezes vou ao Algarve. Quando vou lá, costumo sempre ir falar com ele. Também é importante falarmos cara a cara e não ser sempre por telefone ou por Skype ou isso. Mas basicamente sempre que eu preciso, telefono-lhe ou mando-lhe uma mensagem e falamos e ele ajuda-me no que eu preciso. Tanto questões de golfe, como questões pessoais, que também é importante, porque também são questões que afectam o golfe. A disponibilidade dele é total.
Susana joga esta semana o seu segundo Mundial por Equipas / © FILIPE GUERRA
E em termos de preparação física, preocupas-te com isso?
Preocupo-me. E é uma das minhas maiores falhas, neste momento, é uma coisa que eu tenho de trabalhar, que tenho estado a trabalhar com o Zé Pedro Almeida, que também trabalha com as selecções da Federação. Agora neste momento tenho andado um pouco afastada dessa parte, até porque tenho tido muitos torneios e tive algumas lesões, nos joelhos, no pulso, que me impediram de trabalhar mais a sério.
Que lesões foram essas e como afectaram o teu jogo?
Andei com um problema no pulso quase 6 meses, não sabia o que é que tinha, até que fui a um fisioterapeuta diferente, no Porto. Tem a ver com o facto de eu ter muita mobilidade no pulso e pouca massa muscular para o proteger. Essa lesão, de certa forma, condicionou-me, mas eu também tenho um defeito: é que mesmo estando lesionada vou jogar e vou fazer as coisas, vou para o ginásio e forço um bocado mais as coisas. Mas neste caso o que o fisioterapeuta disse é que até foi bom eu não ter parado, porque quanto mais eu parasse, menos o músculo trabalharia e pior seria quando voltasse a jogar. Por isso, nunca deixei de jogar por causa disso. Nem por causa de lesão nenhuma. A não ser aquela do joelho, em que não conseguia dobrar a perna. Mas foi só uma semana até ficar bem.
O ano passado até jogaste o Campeonato Nacional de Clubes com o dedo mindinho do pé partido…
Sim, fui para esse campeonato um bocado em esforço. O Miguel Cabral, que além de árbitro de golfe era médico, viu-me o pé e disse-me que eu não devia ter sequer jogado. Joguei na volta de stroke play, mas já não consegui jogar nas meias-finais do match play, de tarde. Mal conseguia poisar o pé no chão. Mas ainda joguei no encontro para atribuição do terceiro e quarto lugares. Pelo facto de andar ali a forçar fiquei com uma tendinite no pé.
Mas este ano o teu clube, Miramar, conseguiu finalmente vencer a Taça Nini Guedes Queiroz, para o clube campeão na prova feminina do Campeonato Nacional de Clubes Solverde…
Era um sonho que eu tinha desde pequenina, desde que ia com os meus pais aos torneios, ao Inter-Clubes. Já tinha vencido três vezes pela Estela Golf Club, mas é completamente diferente ganhar pelo clube do nosso coração, por aquele clube com que sempre sonhámos vencer.
Infelizmente, só havia quatro equipas em competição…
Acho que é uma pena. Eu ainda me lembro de jogar um Campeonato Nacional em que houve uma equipa que teve de ficar de fora porque não havia lugar para tantas. E acho que isso é bom sinal. Agora o que eu não acho bom sinal é ter só quatro equipas. Mas eu lembro-me que as equipas começaram a deixar de vir a partir do momento em que passou a haver 2 flights de 4 equipas cada. A partir daí, começaram a desmotivar, porque uma equipa ficar no segundo flight não é tão motivante. Dantes havia 8 equipas e a fase de stroke play ainda colocava todas as equipas em jogo para os outros dias. A equipa que ficava em oitavo, ainda podia ganhar. Mas também acho que a data em que foi feito este ano, em Agosto, também não foi muito boa para os clubes, mas percebo que tenha sido marcada por causa do Campeonato do Mundo. Enfim, é pena. Em vez de termos cada vez mais senhoras a jogar, temos cada vez menos, e os clubes, penso, também não apostam muito nas equipas de senhoras para ir jogar. Dantes, o Santo da Serra, Vilamoura ou Estoril faziam-se representar e bem. Talvez seja uma questão de geração.
Fala-nos do teu trabalho. Trabalhas na Decathlon…
Sim, eu trabalho secção de ténis e golfe na Decathlon da Amadora, em part-time. Acaba por dar-me tempo para treinar, para ir ao ginásio, para fazer tudo na mesma, e eles também são muito flexíveis porque deixam-me ir jogar torneios fora, dão-me folgas ou dias de férias para ir jogar torneios. Até agora não tive nenhum problema com isso, por isso é óptimo. É óptimo porque ganho algum dinheiro extra.