Sul-coreana vence no Rio, neo-zelandesa Lydia Ko prata e chinesa Feng bronze
A Ásia-Pacífico dominou completamente o torneio feminino de golfe dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, com a sul-coreana Inbee Park a conquistar este sábado a medalha de ouro, a neo-zelandesa Lydia Ko a ficar com a de prata e a chinesa Shanshan Feng a contentar-se com a de bronze.
Um desfecho perfeitamente compreensível dado o domínio desta região do globo nos circuitos profissionais femininos de golfe, embora a tradição mande que continue a olhar-se para o prestígio do golfe feminino europeu e norte-americano.
Para a Federação Internacional de Golfe (IGF), o regresso da modalidade aos Jogos Olímpicos não poderia ter decorrido melhor, 112 anos depois do último torneio masculino e 116 após o derradeiro feminino.
A lotação de 15 mil bilhetes por dia esgotou nas últimas jornadas, tanto no torneio masculino como no feminino; as seis medalhas foram atribuídas a seis países diferentes (no masculino, tinham sido o britânico Justin Rose com ouro, o sueco Henrik Stenson com prata e o norte-americano Matt Kuchar com prata); e os dois campeões olímpicos já eram estrelas da modalidade quando chegaram ao Rio2016, pois tanto Rose como Park ostentam o estatuto de campeões de majors.
Lydia Ko, Inbee Park e Shanshan Feng © IGF
Ainda por cima, deu-se a incrível coincidência de tanto o britânico como a sul-coreana terem ganho exatamente com o mesmo resultado de 268 pancadas, 16 abaixo do Par do Campo Olímpico de Golfe (par-71), situado na Reserva de Marapendi, na Barra da Tijuca, desenhado pelo norte-americano Gil Hanse e construído pela empresa ProGolf, na qual sobressai o engenheiro português António Carlos Miranda.
Mas se o torneio masculino – que contou com a presença dos portugueses Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima – foi prejudicado antes do seu início, pela falta de comparência dos quatro primeiros do ranking mundial (e outras desistências de vulto), já o feminino foi abrilhantado por 9 das top-10 do Rolex Rankings.
Aliás, a força da lista de inscritas não se ficou por aí, uma vez que havia 10 jogadoras que já venceram majors, incluindo os três disputados este ano: Lydia Ko (ANA Inspiration), Ariya Jutanagarn (Ricoh Women's British Open) e Brooke Henderson (KPMG Women's PGA Championship); e ainda três atletas que já ocuparam a primeira posição do ranking mundial: a atual n.º 1 Lydia Ko (81 semanas no topo), Stacy Lewis (29 semanas) e Inbee Park (229 semanas).
A qualidade do field só valorizou ainda mais o estrondoso triunfo de Inbee Park, que, inspirada no putting, revelou uma enorme consistência de jogo com voltas de 66, 66, 70 e 66, para bater por esmagadoras 5 pancadas Lydia Ko (69+70+65+69), a rival mais jovem, de 19 anos, que lhe “roubou” o n.º 1 mundial há d10 meses.
Inbee Park, de 28 anos, assumiu o comando da prova no final da segunda volta e não mais o largou. Suportou bem a pressão e na última volta arrumou a questão bem cedo com um front nine imaculado, com birdies nos buracos 3, 4, 5 e 8.
Pelo contrário, as restantes medalhas assistiram a uma enorme e entusiasmante luta que entusiasmou o público. Com efeito, Shanshan Feng (70+67+68+69), de 27 anos, quedou-se a apenas 1 pancada da prata e o seu putt no último buraco ficou curto, impedindo-a de aspirar à segunda posição.
E logo atrás, houve um grupo de três jogadoras a terminarem a 1 pancada do bronze: a norte-americana Stacy Lewis (70+63+76+66), a japonesa Harukyo Nomura (69+69+72+65) e outra sul-coreana, Hee Young Yang (73+65+70+67).
No final foi o hino da Coreia do Sul que se ouviu / © IGF
Foi um torneio animado. Desde a primeira pancada da brasileira Miriam Nagl, tudo decorreu a um ritmo alucinante. Ariya Jutanugarn foi a primeira líder aos 18 buracos com 65 pancadas, 6 abaixo do Par, mas foi obrigada a desistir em lágrimas na terceira volta com uma lesão no joelho.
O seu recorde feminino do campo foi logo batido por Stacy Lewis na segunda volta em 63 (-8), igualando o recorde masculino de Marcus Fraser e Matt Kuchar, Lewis que pouco tempo antes se tinha casado e ainda estava praticamente em lua de mel no Rio. Mas mesmo antes do torneio encerrar, houve tempo para um novo recorde do campo, assinado por Maria Verchenova, de 62 (-9).
A russa foi premiada por a IGF não ter seguido o exemplo de outras federações e não ter banido a Rússia dos Jogos Olímpicos. Maria Verchenova é uma das golf babes do circuito profissional, chama tanto a atenção pelo seu visual como pela sua qualidade de jogo e ainda se destacou mais quando efetuou o quinto hole-in-one do torneio olímpico (dois no masculino e três no feminino).
Outra das beldades do golfe feminino, a brasileira Victoria Lovelady, entrou na história do golfe olímpico pela primeira advertência de um árbitro por jogo lento, sofrendo uma penalização de 1 pancada, no buraco 15 da segunda volta.
Lovelady, eleita por uma publicação como uma das nove atletas olímpicas mais sensuais do Brasil, foi uma autêntica relações públicas do torneio feminino antes dele arrancar e chegou, por exemplo, a servir de cicerone ao ator Matthew McConaughey.
A brasileira foi uma das várias atletas olímpicas que passaram nos últimos anos pelo Açores Ladies Open, demonstrando que o promotor António Carmona Santos tinha razão em divulgar o mais importante torneio feminino de golfe português como um trampolim para o Rio2016, sendo o caso mais evidente o da suíça Fabienne In-Albon, campeã na edição de 2013, no Clube de Golfe da Ilha Terceira.
Claro que daqui a uns anos, muitos desses acontecimentos deixarão de ser marcantes. Para a história da modalidade ficarão as três medalhadas, sobretudo a campeã olímpica.
Muito apoio de adeptos sul-coreanos no Rio / © IGF
Olhando para o palmarés de Inbee Park, a medalha de ouro não pode ser considerada uma surpresa. Afinal, era, de longe, a mais galardoada de todas as 60 participantes, com sete majors conquistados, incluindo o Grand Slam de carreira, e ainda recentemente tinha-se tornado na mais jovem de sempre a entrar no Hall of Fame.
Simplesmente, a atual n.º 5 do ranking mundial estava a atravessar o seu pior período dos últimos anos. Desde abril que não completava um torneio e nos quatro últimos que disputou ou desistiu por lesão ou falhou o cut. Chegou a estar parada um mês inteiro. A época começou logo mal com um problema nas costas e mais recentemente foi uma lesão no polegar da mão esquerda a impedi-la de competir.
A sua forma era tão deficiente que provocou alguns protestos no seu país, sofrendo pressões para que desse o lugar a outras jogadoras mais capazes de trazer uma medalha, mas a sul-coreana tem estofo de campeã, estava cheia de fé e provou que estavam errados.
“Lutei contra a minha lesão”, disse, “e estou orgulhosa do que fiz. Hoje havia imensos coreanos a apoiarem-me no campo e quase me senti a jogar em casa. Mas antes desta semana eu estava a despertar enormes atenções. Havia quem estivesse preocupado com a minha situação e quem achasse que eu iria sair-me muito bem. Muitas pessoas diziam que eu deveria dar o lugar a outra e achei isso compreensível. Para mim também foi tudo um pouco confuso e não sabia se seria capaz de exibir-me a um bom nível, porque durante toda a época não joguei bem por causa das lesões. Mas queria mostrar a todos que ainda posso jogar bem, trabalhei muito no duro para esta semana e os resultados apareceram.”
Uma das discussões mais em voga durante os dois torneios olímpicos de golfe foram as (naturais) comparações com os principais eventos do circuito profissional. Para Inbee Park parece não haver dúvidas de que os Jogos Olímpicos são o maior evento desportivo do Mundo. Aliás, ela faltou ao US Open e ao British Open exatamente para dar tempo ao dedo de recuperar e poder jogar no Rio de Janeiro.
“Este é, sem dúvida, um dos momentos mais especiais da minha carreira no golfe e da minha vida em geral. Sinto-me otimamente. Representar o meu país, ganhar o ouro, é tão especial, estou tão feliz. Coloco isto no topo porque é algo que nunca fizera. Já tinha ganho majors, mas nunca uma medalha de ouro. Não mudaria isto por nada. Receber a medalha de ouro no campo foi um momento inesquecível”, comentou na conferência de Imprensa. Ao canal de televisão Golf Channel acrescentou: “Parece-me irreal. Era algo com que sonhava há muito.”
Muitas outras atletas pronunciaram-se sobre o assunto e Shanshan Feng até chamou a atenção para o facto de, em alguns países, ser a única ocasião em que as televisões fizeram transmissões de golfe, mas a frase mais emblemática veio de Stacy Lewis: “Não se pode sequer comparar isto a um major. Nós temos majors e temos torneios do LPGA Tour e nem sequer com a Solheim Cup poderemos comparar. É muito diferente. São os Jogos Olímpicos. Há uma sensação diferente em relação a isto. Seremos para sempre atletas olímpicas e isso é impecável.”