Federação prepara "enorme" aumento das quotas anuais dos clubes de golfe
Para quem ainda não sabe, a direção da Federação Portuguesa de Golfe (FPG) está a preparar um aumento das quotas anuais dos clubes de golfe que se pode classificar de pornográfico.
Dos poucos mais de 100 euros que se pagam hoje, os clubes passarão a ter de desembolsar quase €1100. O argumentário apresentado passa pelo aumento de serviços prestados, pelo preço justo destes e pela necessidade de ordenar a proliferação de pequenos clubes.
De facto tem-se assistido à criação desenfreada de clubes de golfe, fruto da política praticada pela própria FPG nos últimos anos e da legislação em vigor. Sempre foi argumentado, e bem, de que a democratização do acesso ao golfe potenciaria o aparecimento de mais jogadores. Só que as facilidades criadas fizeram com que qualquer pequeno grupo de pessoas pudesse criar um clube e assim ter autoridade para gerir handicaps. Aliás, a FPG não pode sequer deixar de aceitar a constituição de um clube desde que cumpra os requisitos legais.
Só que aumentar desta forma os preços não é a solução. Pelo contrário, vai é criar mais problemas do que resolver o que está mal. E vai fazer com que desapareçam dezenas de clubes. E muitos jogadores vão dizer, já chega!
Primeiro, é preciso dizer que esta medida vai permitir um encaixe financeiro considerável à FPG. Mesmo que desapareçam, por exemplo, 50 clubes o aumento de receita será considerável. Se a federação está com dificuldades financeiras pode começar por arrumar a casa e cortar em despesas acessórias, em vez de mandar a conta para os clubes e jogadores. Sim, porque a FPG também quer aumentar a quota dos jogadores de €50 para €60. Mais 20% sem nada que o justifique. O mais certo é estarmos todos a pagar a incompetência da direção da FPG de conseguir aumentar o número de jogadores e controlar as suas contas.
E a solução encontrada pode criar mais problemas do que resolver a trapalhada criada no passado. A saber:
– É uma medida punitiva. Já passou o tempo em que multar era a única maneira de conseguir mudar comportamentos. A via monetária é sempre a mais fácil e normalmente está ligada a uma falta de capacidade de encontrar soluções inteligentes.
– Há clubes que vão desaparecer porque não vão conseguir pagar os €1100. E com eles podem desaparecer jogadores. Se há menos opções na escolha de um clube para se filiarem então está ser criada mais uma barreira à entrada de jogadores.
– Dar mais poder aos maiores clubes. Quem está habituado a ser sócio dos chamados ‘clubes sem campo’, dificilmente vai deixar estes para ingressar num clube tradicional. Isto porque procuram uma maior diversidade na escolha de campos para jogarem e não querem compromissos. E claro, querem jogar com os seus companheiros de golfe. Por isso a medida vai é beneficiar os ‘clubes sem campo’ de maior dimensão que tendem a receber os jogadores que virem os seus clubes morrer.
– Os campos também vão pagar a fatura. Com clubes cada vez maiores aumenta também a sua capacidade de negociação junto dos campos, deixando potencialmente estes ainda em pior situação financeira. Os clubes pequenos sempre vão fazendo torneios (a preços superiores) ajudando a encher campos. Menos clubes, menos torneios, menos pessoas a jogar, menos receita.
Para não me acusarem de só criticar aqui fica uma solução para estancar o caudal de criação de clubes — que muitos não passam de grupos de amigos que se querem juntar para jogar golfe, as ditas ‘golf societies’ — e que pode ainda ajudar a fomentar mais a modalidade, em vez de a ajudar a destruir.
Basta obrigar todos os clubes, que queiram ter autoridade de handicap, a entregar junto da FPG um plano plurianual de formação. Um compromisso de que, como clube, vão ajudar a fomentar a prática do golfe através de diferentes ações. Este plano tinha de ser assinado e acompanhado por um profissional de ensino de golfe. E no final do período do mesmo tinha de ser apresentado um relatório de atividades. Um instrumento que obrigaria os clubes a investir no golfe e na atração de novos jogadores.
Permitia assim separar o trigo do joio sem por em causa o desenvolvimento da modalidade. Tem é um enorme senão em relação ao plano da FPG… não traz receitas.
Talvez esteja errado. Talvez o objetivo da direção da FPG não seja o de salvar o seu orçamento com esta medida. Talvez esteja apenas preocupada em atingir os 50 mil jogadores de golfe como prometeu e tenha descoberto uma fórmula mágica que passa por sacar mais dinheiro aos clubes e aos jogadores.
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Sócio do Clube de Golfe de Belas e do Clube de Golfe dos Jornalistas