Uma marca como o Open de Portugal não se pode rebaixar a um circuito como o Challenge Tour
O 56º Open de Portugal de Golfe acabou de se realizar, no Algarve, no campo de golfe do Morgado do Reguengo.
Foi a primeira vez em 65 anos que este evento, que sempre foi a prova principal da Federação Portuguesa de Golfe, não foi incluído no circuito principal da PGA European Tour.
Pior do que isso, e surpreendentemente, surge na lista dos torneios do Challenge Tour europeu. É o único Open Nacional europeu a fazer parte desta lista.
O Challenge Tour é um Circuito vocacionado para o lançamento de novos valores ou para manter em atividade profissionais que por qualquer motivo não tem acesso ao Tour principal. Mas não é, de certeza, um circuito próprio para acolher Opens Nacionais.
Estes, se houver vontade e possibilidades financeiras para os realizar, devem integrar o circuito principal da PGA European Tour. Quando não há meios nem habilidade para o conseguir, estes grandes eventos, podem deixar de estar presentes mas não deviam, na minha opinião, baixar de escalão.
Assim, a partir de 2010, o Open de Portugal deixou de se realizar por falta de condições. Faço notar, que durante muitos anos, foi um dos mais prestigiosos do calendário europeu e era interessante saber ao certo o que se entende por falta de condições. As condições são sempre opções tomadas por alguém e era bom que fossem discutidas e decididas por todos os interessados, de preferência os mais competentes na matéria.
Para se entender melhor ao que venho, e para elucidação de alguns possíveis adeptos da modalidade menos informados ou distraídos, julgo que é importante relembrar alguns dados históricos relativos a este evento.
O Open de Portugal foi jogado pela primeira vez em Portugal no campo de Golf do Estoril no ano de 1953. Foi organizado pelo Clube de Golf do Estoril, sendo Presidente o Visconde de Pereira Machado e sob a égide da Federação Portuguesa de Golfe, que tinha como Presidente o Dr. Ricardo Espírito Santo Silva. A partir de aí, a sua organização, manteve-se naquele campo, até 1972.
Em 1973, foi transferido para o Campo de Golfe da Penina, onde era então Presidente e proprietário o Sr. John Stilwell e diretor técnico o famoso profissional inglês Sir Henry Cotton. Coincidiu esse facto com a entrada em atividade da PGA European Tour, à qual o Open de Portugal logo aderiu.
Em 1974 voltou ao Estoril e em 1975 regressou à Penina, onde se disputou talvez o mais dramático Open de Portugal de sempre. O torneio foi organizado pela Federação Portuguesa de Golfe, em plena época revolucionária (PREC). Foi, seguramente, um feito extraordinário. Deveu-se ao muito entusiasmo e dedicação do então Presidente da Federação, o Eng.º Tito Lagos, que tinha a ajudá-lo o Secretário da Federação, Eng.º Eduardo Caupers, e o signatário.
Foram tempos muito difíceis e haveria bastante para contar. A Imprensa Internacional chamou-lhe o “The Impossible Open”. Ironicamente foi ganho por um norte-americano enquanto no exterior do campo alguns manifestantes se insurgiam com bastante ruido, contra a sua realização.
Depois disso jogou-se em 1976, pela primeira vez, na Quinta do Lago, ao tempo intervencionada pelo Estado (os mais novos, se calhar, nem sabem o que quer dizer esse palavrão…). Em 78 e 79 foi novamente para a Penina e a partir de aí começou a girar pelo Algarve, tendo tido uma primeira interrupção (por falta de meios) em 80 e 81.
Em 1984 iniciou-se o primeiro ciclo da fase Quinta do Lago. Foram dois períodos de três anos cada que duraram até 1990, com um intervalo em 1987 no Estoril. Na Quinta do Lago, dirigida pelo empresário André Jordan com a ajuda do signatário, conseguiu-se para o Open de Portugal, por escolha e nomeação da PGA European Tour, para os anos de 1989 e 1990, o título de TPC – Players Championship Tournament. Este era o segundo título mais prestigioso do Circuito Europeu, depois do PGA Championship. Infelizmente e devido à falta de atenção ou ao desconhecimento existente entre nós quanto a pormenores importantes da modalidade, poucos deram por isso e a marca não foi mantida. Resta a consolação de que o mesmo não aconteceu internacionalmente e com isso fomos marcando pontos no sentido da divulgação de Portugal e do Algarve como destino de “Golf”.
De aí em diante, o Open de Portugal, passou a ser promovido pelas organizações João Lagos e depois diretamente pela própria Federação Portuguesa de Golfe (com um pequeno período, em que esteve entregue ás organizações de Severiano Ballesteros). Nessa nova fase girou por todo o país incluindo a visita, pela primeira e única vez, ao Norte do país, no ano de 1991, no campo da Estela, na Póvoa de Varzim. Entretanto, e sempre um pouco aos solavancos, continuou a tentar apresentar internacionalmente Portugal como destino de “Golf” e ao mesmo tempo a promover a modalidade em todo o território Nacional. Andou por vários campos tais como: Tróia, Vila Sol, Penha Longa, Aroeira, Penina, Vilamoura, Quinta do Lago, Vale do Lobo, Oitavos.
Um pouco, inesperadamente, no ano de 2005 e devido às excelentes relações existentes com a PGA European Tour, conseguiu-se trazer para Portugal, e para o Algarve, a 51.ª World Cup, um dos maiores torneios mundiais da modalidade. Era o descendente da famosa Canada Cup. Foi disputada por equipas de dois jogadores de 24 países que se apuraram para a final jogada no novo Campo do Victoria em Vilamoura, que nessa altura tinha também como presidente André Jordan.
O torneio apoiado pelo Turismo de Portugal tinha um prize-money de 4 milhões dólares. Dado o sucesso mediático da iniciativa foi decidido continuar a apostar forte promoção do “Golf” no Algarve. Para esse efeito foi criado um torneio que pretendia ser um dos maiores do Circuito Europeu, também jogado no Vitória, sob o nome de Portugal Masters, com um prize-money semelhante ao da World Cup.
Apesar disso, o Open de Portugal. com um prize-money menor, mas mesmo assim de 1.25 milhões de euros manteve-se em funcionamento até 2010. A sua função era a de continuar a promover o “Golf” português, sobretudo a região da grande Lisboa, no país e no estrangeiro.
Estávamos na época das vacas gordas, tão gordas que até nos candidatámos à organização da Ryder Cup… nem quero pensar…!
Subitamente tudo mudou e, como é habitual, quando há muitas entidades a mexer nas coisas, com poucos meios e a organização não é coesa, as decisões começam a ser desordenadas e sobressaem os erros.
A razão porque escrevo estas linhas é a de que, por mero acaso, estive pessoalmente envolvido, exercendo as mais variadas funções, em muito do que atrás foi dito. O meu objetivo não é procurar culpados, pois se calhar todos temos um pouco de culpas por não termos nunca sido capazes desenvolver um Plano estratégico coerente para o “Golf” português.
Há muitos anos que sugiro, sem sucesso, que se crie um grupo de trabalho composto pelas entidades envolvidas direta e indiretamente nesta atividade para que se desenvolva o tal Plano. É indispensável que as entidades ligadas ao Desporto, ao Turismo e os diversos agentes oficiais e particulares ligados à modalidade se juntem e por uma vez e discutam o problema a fundo. O “Golf” devido à promoção que faz do nosso país e das receitas internacionais que provoca, é suficientemente importante para que os seus agentes e operadores se entendam e não trabalhem cada um para seu lado. Estamos sempre muito felizes ao declarar que somos um dos melhores destinos de “Golf” do Mundo. Pois isso, para ser verdade, tem de ser alimentado com medidas corretas e com políticas viáveis.
Passar de “Open TPC” para “Open Chalenge” com o nome de Portugal pelo meio, não é de certeza uma política correta. Não há dificuldades financeiras que o justifiquem.
Criar um torneio para “arrasar” a Europa, como foi o caso do Masters, ou concorrer à Ryder Cup e depois ir diminuindo ano a ano o nosso comprometimento, não parece avisado nem sadio. Não devíamos “correr a foguetes” quando temos, aparentemente, os cofres cheios; nem passar a coitadinhos quando estamos a tinir.
Senhores responsáveis do Desporto e do Turismo, seus associados e aderentes. Pela minha parte e na qualidade de simples aficionado de muitos anos, sugiro à Federação Portuguesa de Golfe, entidade a quem pertence a marca, que promova os contactos que entender com os seus vários potenciais parceiros e tentem planear um programa a vários anos para o “Golf” Nacional, mas não deixem que apareçam soluções que destroem muitos anos do esforço de tanta gente.
No limite suspenda-se uma prova por algum tempo ou mude-se o nome a outras. O que não pode acontecer é desvalorizar uma marca prestigiosa como a do Open de Portugal que evidentemente não cabe, por excesso, num circuito como o Challenge Tour.