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Turismo de Golfe - Que Futuro
Crónica
09/09/2019 15:48 Mário Azevedo Ferreira

Mais do que a promoção ou o IVA do Golfe, o que verdadeiramente me preocupa é a escassez de água

Que o Golfe enquanto produto turístico tem uma importância crucial para o nosso País, parece não deixar dúvidas a ninguém. Senão, vejamos: 

  • Representa mais de 500 milhões de euros de receitas diretas; seriam muitas as atividades empresariais que sofreriam indiretamente com uma eventual redução deste segmento de negócio.
  • Mais de 1,3 milhões de voltas de golfe vendidas anualmente, maioritariamente a estrangeiros. É um serviço de exportação de alto valor acrescentado e indutor de receitas em múltiplos setores – hotelaria, transporte aéreo e terrestre, restauração, animação, seguros, vestuário, equipamento desportivo, entre outros.
  • Contribui de forma decisiva para a diminuição da sazonalidade, permitindo manter atividades e postos de trabalho em funcionamento no Inverno.
  • Tem um impacto muito significativo na economia do Algarve, na Grande Lisboa e no Oeste.

Deve assim ser uma atividade acompanhada e acarinhada por qualquer Governo, nas suas múltiplas vertentes, e particularmente no que concerne à fiscalidade, promoção internacional e questões operacionais.

É uma reivindicação unânime que a taxa de IVA deveria descer, dando assim aos operadores portugueses condições de concorrência mais próximas das de outros destinos. A prática do Golfe deveria ser considerada, fiscalmente, não como um produto de luxo taxado à taxa máxima de Iva, mas como um negócio estratégico para o País, e de capital importância para algumas regiões.

Uma redução do IVA permitiria concorrer em igualdade de circunstâncias com Espanha, Turquia e outros, tornar os operadores mais sólidos financeiramente e mais capazes de enfrentar os investimentos que serão necessários no futuro

A promoção internacional específica do golfe tem perdido intensidade nos últimos anos. Parece passar a ideia que Portugal, e o Algarve em particular, é um destino consolidado de Golfe, e que não carece de investimento significativo; e é neste contexto que os apoios a eventos internacionais têm vindo a diminuir, e não se conhece uma estratégia de comunicação específica para o produto.

Mas são aspetos operacionais que me preocupam face ao futuro; e em particular, a questão da água.

Todo o País enfrenta períodos prolongados de seca severa, e o Algarve sofre neste momento um desses períodos, que dura há já pelo menos 4 anos.

E se é certo que não é fácil contrariar a natureza, há um conjunto de medidas que poderiam mitigar a falta de água que, segundo todos os especialistas, tenderá a agravar-se nos próximos anos. Concretamente:

  • A criação de uma rede de transvases de água, que permitisse transportar água de onde ela existe em mais abundância – e que se “perde”, evaporando ou desaguando no mar -, para onde faz mais falta. Espanha possui uma rede deste tipo, que permite transportar água do Douro, Tejo e Ebro até á Estremadura e Andaluzia.
  • Aumentar o número de reservas de água, funcionando em rede em terras altas, conduzindo-a até mais a Sul, onde é escassa.
  • Transformar um vasto conjunto de ETAR’s de geração anterior, em unidades de produção de água com tratamento terciário, para utilização agrícola e de rega de golfe, sem custos para os utilizadores. As que existem no Algarve não estão ao serviço dos campos – agrícolas e de golfe -, com a honrosa exceção da ETAR de Vale de Parra, que permite ao nosso campo dos Salgados de ser integralmente regado com água tratada proveniente de uma ETAR.
  • Planear a criação, quando necessário no futuro, de uma rede de fábricas de dessalinização; a tecnologia hoje disponível é extremamente eficiente e relativamente barata, é profusamente utilizada em Israel e em Espanha com sucesso, assim como na nossa Ilha de Porto Santo.

Não tenhamos dúvidas, a questão não é se iremos enfrentar escassez severa de água que poderá por em risco campos agrícolas e de Golfe; a questão é, quando.

Não vejo autoridades centrais, regionais e locais a planear e menos ainda a investir em meios de enfrentar este problema; e isso, mais do que a promoção ou o IVA do Golfe, é o que verdadeiramente me preocupa

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*CEO - NAU Hotels & Resorts

** Crónica publicada originalmente no suplemento "Golfe" do jornal Público de 9 de Setembro

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