Entrevista com o novo campeão nacional de profissionais no dia em que completa 24 anos
Depois de ter vencido em meados de Julho o Solverde Campeonato Nacional PGA no campo do Vidago Palace Hotel, naquele que foi o seu primeiro torneio depois de paragem de vários meses pela pandemia, Tomás Bessa, natural de Paredes, Porto, mas a residir no Algarve, prepara-se agora para o recomeço do Alps Tour, a 13 de Agosto, na Áustria. Tem os olhos postos num top-3 final na respectiva ordem de mérito, que lhe daria acesso directo ao Challenge Tour, a segunda divisão única. Mas talvez isto nem seja o mais importante: em Setembro jogam-se o Portugal Masters em Vilamoura e o Open de Portugal em Royal Óbidos, ambos do European Tour. Um bom desempenho em qualquer um deles pode catapultar o seu talento para mais altas esferas. Nesta entrevista, publicada no dia em que faz 24 anos, confia que a sua carreira está num bom caminho.
GOLFTATTOO – Que sensações tiveste quando te sagraste campeão nacional de profissionais? Imagino que tenha sido ainda mais especial pela vitória da tua irmã Leonor na prova feminina. Imagino também que tenha havido grande emoção da parte dos teus pais, que representaram sempre um grande apoio para ambos.
TOMÁS BESSA – Foi um misto de boas sensações. Alegria, realização e orgulho. Fiquei também duplamente contente pela minha irmã e tenho a certeza que ela por mim. Os nossos pais ficaram radiantes, acompanharam-nos o torneio todo e abraçá-los no green do 18 foi fantástico.
E em Paredes como se viveu esta dobradinha dos manos Bessa?
Fomos recebidos com muito carinho no Paredes Golfe Clube pelos nossos amigos conterrâneos. Fomos também parabenizados pela Câmara de Paredes e alguns jornais locais enfatizaram o nosso feito.
Tirando o Pedro Figueiredo e o Ricardo Melo Gouveia, o Solverde Campeonato Nacional PGA contou com os melhores profissionais portugueses e também amadores. Antes da última volta, como lidaste com o facto de ires jogar a última volta com Ricardo Santos, um dos nossos melhores golfistas de sempre?
Claro que senti alguma pressão por estar a jogar com o Ricardo Santos. Ele foi para mim e continua a ser um ídolo e uma referência. Não foi a primeira nem a segunda vez que joguei com ele, mas em circunstâncias de discutir o título de campeão nacional foi uma estreia para mim, que acabou por correr bem.
Sentiste que estavas perante o momento mais importante da tua carreira?
Não gosto de pôr as coisas nesses termos, pois tento sempre dar o meu máximo em qualquer competição. Senti que era uma boa oportunidade para provar a mim mesmo que realmente tenho vindo a evoluir e que estou a trabalhar num bom sentido.
Começaste bem a última volta – isso retirou alguma pressão dos teus ombros? Contribuiu para que te libertasses?
Comecei bem e ganhei logo uma pequena vantagem, é verdade. Foquei-me sempre em fazer o meu jogo e o melhor possível, pelo menos até entrar nos últimos 9 buracos. A partir daí confesso que obviamente geri o meu jogo consoante os resultados do Ricardo uma vez que era com ele que iria disputar o título diretamente.
Foi notável o não teres perdido qualquer pancada para o Par nos 54 buracos de competição. Sendo tu um dos jogadores que bate mais longe a bola – ou mesmo o que bate mais longe –, sentes que conseguiste ter no teu jogo um equilíbrio entre distância e precisão?
Acho que pensei numa boa estratégia, usando a minha distância de forma inteligente para me defender em buracos mais estreitos e mais estratégicos, mas também não tive receio de tirar vantagem naqueles que realmente entendi oportunos para tal.
Antes do Solverde Campeonato Nacional PGA, tornaste-te um dos ilustres golfistas patrocinados pela Zurich – no caso a Zurich Portugal –, juntando-te a grandes estrelas da modalidade como Justin Rose, Colin Morikawa, Billy Horschell. Isso de certa forma representou um incentivo adicional?
Para mim é uma honra estar associado a uma marca como a Zurich. Realmente, olhando para esse leque de nomes, enche-me de orgulho e de motivação para alcançar o que esses grandes jogaram já alcançaram.
Fala-nos dos teus outros patrocinadores.
Tenho de começar pela Cigala Benefit pois são os meus parceiros mais antigos. A Cigala Benefit, representada na pessoa do meu amigo João Potier, é um projeto que visa apoiar atletas de modalidades individuais como é o caso do golfe. Associado aos atletas e a uma alimentação saudável estão os seus snacks pré-cozinhados, deliciosos e de rápida preparação. Por outro lado, a Transduo é uma empresa ligada à logística de transportes tanto a nível nacional como internacional, representada pelo meu amigo José Bastos. E, por fim, mas não menos importante, a Ping no que toca ao equipamento.
Tens acompanhado o fenómeno Bryson DeChambeau, que regressou da paragem pela pandemia com mais 20 kg de massa muscular e potência impressionante, tornando-se no novo fenómeno do golfe mundial?
Como não acompanhar?! Admiro muito alguém que queira ser diferente e provar cientificamente que existem maneiras diferentes de jogar este jogo ao mais alto nível. Não só está muito mais comprido do que qualquer jogador, mas também está no top dos melhores no putting, e é também dos melhores em proximidade ao buraco no shot ao green. Acho que não estamos perante um “brutamontes”, mas sim um entusiasta pela evolução tanto a nível físico como a nível científico. Desejo-lhe muito sucesso.
Sentes que o teu swing e o teu jogo se enquadram neste padrão? Como os classificarias? Enfim, não há ninguém que fique indiferente quando te vê jogar pela primeira vez…
Não me considero tão outlier em termos técnicos nem em termos metódicos como por exemplo o Bryson. Acho que tenho boas bases no swing que me permitem dar bons shots. Tenho ainda muito trabalho pela frente, mas sinto que estou no bom caminho.
Em relação à driving distance, qual é tua média?
A distância de carry (distância de voo pelo ar) dos meus drives ronda, em média, os 280 metros. Em campos com fairways mais secos chego consistentemente aos 300m.
Sentes mesmo que há uma diferença na tua distância em relação aos restantes jogadores portugueses?
Relativamente à maioria dos jogadores profissionais portugueses sou bastante mais comprido, mas tanto o Vitor Lopes como o Alexandre Abreu batem a mesma distância que eu ou até mais nos ferros – e não ficam a mais de 10 metros nos drives.
Não há dúvidas de que és um verdadeiro atleta. Que espaço ocupa a preparação física no teu treino?
Dedico-me bastante à parte física, pois sinto-me realmente bem, física e psicologicamente, quanto faço essa preparação oito horas por semana, em termos médios.
Chegaste a tirar o curso de Educação Física na Faculdade do Porto?
Infelizmente não. Tenho três cadeiras teóricas e uma teórico-prática para acabar.
E em termos mentais também te sentes naturalmente mais forte. Também tens trabalhado a componente psicológica?
Não tenho trabalhado especificamente a parte psicológica. Para mim a experiência de jogo que tenho vindo a acumular ao longo destes anos e a melhoria da qualidade do meu treino têm contribuído para uma melhor performance psicológica em campo.
Fala-nos da equipa que está em teu redor e da importância que tiveram nesta consagração?
A minha equipa é composta pela Greatgolf, representada pelo Pedro Lima Pinto, e pelo meu treinador, Steve Bainbridge, com o qual, infelizmente, devido a esta situação pandémica, já não estou pessoalmente há três meses, mas temos trabalhado por videochamada. O Pedro e ele são peças indispensáveis para a minha evolução e foram determinantes na conquista deste título.
Há quanto tempo estás com o Steve Bainbridge e como tem sido trabalhar com ele?
Trabalho com ele há dois anos e meio. Acho que temos desenvolvido um trabalho com muito empenho de ambas as partes. Fizemos e continuamos a fazer mudanças técnicas, à procura de mais consistência e melhores shots.
O Solverde Campeonato Nacional PGA foi o primeiro torneio que jogaste após a paragem pela pandemia?
Foi.
Conta-nos como foram estes meses sem competir, desde que tudo parou em março?
A partir do momento em que permitiram o acesso de atletas profissionais aos campos de golfe foram meses bastante produtivos em termos técnicos. Investi muito na minha preparação física, pois durante a época competitiva a tendência é que haja retrocessos.
Como têm sido os teus dias nestas três semanas que passaram após o título conquistado no Vidago Palace?
Foram passados a treinar. Adoro o que faço e sei que tenho bastantes pontos ainda a melhorar. Claro que também tenho tirado algum tempo para ir à praia e para espairecer.
E como vai ser o resto da época competitiva para ti, quais são os planos?
Vou recomeçar os torneios do Alps Tour a 13 de Agosto na Áustria. Este ano vou competir no Alps Tour e tenho como objetivo o top 3 do ranking. Eventualmente jogar também o Portugal Masters e o Open de Portugal em Setembro.
A FPG acaba de alargar o Campeonato Nacional Absoluto aos profissionais, havendo agora um prémio inédito de Campeão Nacional Absoluto, entre amadores e profissionais, que vão também discutir um prize-money de €20.000. O que te parece esta novidade?
É sempre bom ter torneios com prize-money elevado como este torneio que a FPG anunciou. Eu venci o campeonato nacional de Profissionais e gostava muito de também vencer este Campeonato Absoluto.