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Tomás Silva e Tiago Cruz reforçam equipa técnica do Estoril
Tomás Silva, Miguel Nunes Pedro e Tiago Cruz no Clube de Golfe do Estoril © CG ESTORIL

Ex-bicampeões nacionais de profissionais juntam-se ao ‘head pro’ Miguel Nunes Pedro

O Clube de Golfe do Estoril (CGE) é um dos mais antigos do país, fundado em 1929. A sua sede chegou a fundir-se com a da Federação Portuguesa de Golfe (FPG) e é um dos baluartes da tradição da modalidade em Portugal. Contudo, em 2020, em pleno contexto de pandemia da COVID19, decidiu inovar, reformular e reforçar a sua equipa técnica, chamando dois dos melhores jogadores profissionais portugueses da última década, ambos criados no clube. 

Doravante, Tiago Cruz, de 38 anos, e Tomás Silva, de 28, dois ex-bicampeões nacionais de profissionais, irão juntar-se a Miguel Nunes Pedro, de 54 anos, 32 dos quais dedicados ao ensino, tendo sido premiado pela FPG pela sua carreira. 

Vários clubes nacionais têm contado ao longo dos anos com jogadores profissionais nas suas equipas técnicas. 

A própria Federação Portuguesa de Golfe (FPG) ainda tinha, há não muitos anos, como selecionador nacional, Nuno Campino, o campeão nacional de profissionais de 2006. 

O Clube de Golfe de Vilamoura conta nos seus quadros técnicos com Hugo Santos, campeão nacional de profissionais em 2012. 

Vale do Lobo contratou durante antes o 11 vezes campeão nacional António Sobrinho. 

O Club de Golfe de Miramar dispôs recentemente e durante alguns meses, do contributo da dupla campeã nacional de profissionais, Leonor Bessa, e poderíamos dar outros exemplos. 

Contudo, o CGE é, provavelmente, o primeiro clube a apostar em simultâneo e a sério em dois bicampeões nacionais de profissionais, ainda em atividade, como reforço da sua equipa técnica.

“Um miúdo de 15 anos que queira ser profissional onde é que quer aprender a ser jogador? É num clube que tenha a certificação de Nível A da FPG, que analisa todas as infraestruturas à sua disposição, ou onde estão os melhores técnicos?”, pergunta José Sousa e Melo, o atual presidente do CGE e filho de um dos fundadores do clube. 

“Para mim, uma escola de golfe ou uma academia passa, em primeiro lugar, por ter uma boa equipa técnica. Aqui há uns tempos o clube ajudou o Tomás Santos Silva a poder trabalhar com um treinador estrangeiro no Algarve, um treinador que anda aí a treinar uma série de profissionais portugueses. E o que é que esse treinador diz? Que todos têm uma formação de base deficitária”, acrescenta Sousa e Melo, que venceu o Campeonato Nacional Absoluto (para amadores) em nove ocasiões. 

“O CGE já tem há vários anos o Miguel Nunes Pedro, um profissional de ensino à antiga, que aprendeu à sua maneira, por ele próprio e que tem apresentado bons resultados. Mas o Tiago Cruz e o Tomás Silva já têm uma formação completamente diferente enquanto jogadores. Devido à pandemia, estavam um pouco enrascados, porque não havia torneios nos circuitos. Falei com eles, no sentido de virarem-se para o ensino, enquanto o clube ajudá-los-á na sua formação de treinadores”, disse ainda o presidente do CGE.

Tiago Cruz

Tomás Silva, Tiago Cruz e Miguel Nunes Pedro, os membros da equipa técnica do CGE, representaram a seleção nacional de amadores da FPG em competições internacionais. Mas enquanto Nunes Pedro virou-se muito cedo para o ensino, ao ponto de, em 2001, ter sido eleito pela FPG o Treinador do Ano (Troféu Manuel Ricardo Espírito Santo Silva), os outros dois apostaram firmemente numa carreira competitiva. 

Seria exaustivo detalhar os muitos pontos altos dos dois jogadores profissionais, mas Cruz foi campeão nacional em 2014 e 2015 e em 2018 foi 4.º no Open de Portugal at Morgado Golf Resort do Challenge Tour, a segunda divisão europeia. O seu expoente máximo terá sido o 13.º lugar de Portugal na Taça do Mundo de profissionais em 2008, na China, onde atuou ao lado de Ricardo Santos. Tomás Silva foi campeão nacional em 2018 e 2019, e este ano sagrou-se vice-campeão do Ein Bay Open, do Alps Tour Golf, uma das terceiras divisões do golfe profissional europeu. Conta ainda com dois top-15 no Challenge Tour e um top-30 no European Tour. 

“Eles têm uma experiência de jogo muito superior aos profissionais de ensino. A sua noção técnica do jogo em situação de competição é diferente, a gestão do jogo, do campo, as nuances mentais, não têm nada a ver. Eles podem dizer a um jovem jogador como é estar lá dentro”, frisa José Sousa e Melo que não tem qualquer dúvida: “Juntei os três e acho que temos uma equipa técnica imbatível, num clube que tem excelentes condições, pois há um campo de 18 buracos e outro de 9, e também temos um equipamento informático de análise de swing”. 

“Já dei aulas a mais de 15 mil alunos, entre aulas individuais, grupos, empresas, desporto escolar, Special Olympics, no Estádio Nacional, no Lisbon Sports Club e agora no Estoril”, sublinha Miguel Nunes Pedro, o diretor técnico do CGE, que teve a ideia de reforçar a qualidade do ensino do seu clube aos mais de 90 jovens que já frequentam as suas instalações: 

“O objetivo principal é a escola do clube aumentar o número de alunos e, consequentemente, melhorar o nível de jogo dos jogadores e também trazer mais jovens para sócios do clube. Além da escola, daremos aulas para pessoas de todas as idades e níveis de jogo. Desde principiantes a profissionais de jogo, passando por aulas individuais, de grupo, a empresas, clínicas ou até mesmo passar um dia com um profissional qualificado”, especificou Miguel Nunes Pedro, que chegou a comentar torneios do European Tour no canal Eurosport em Portugal. 

Já se percebeu que a falta de trabalho – leia-se, de torneios com prémios monetários – em 2020, devido à pandemia, levou Tomás Silva e Tiago Cruz a procurarem rendimentos alternativos. 

É, no entanto, preciso separar as águas, pois pertencem a gerações diferentes e têm uma experiência distinta no ensino de golfe. Tiago Cruz já iniciou a sua formação teórica e chegou a dar aulas a crianças em período de férias no Centro Nacional de Formação de Golfe da Federação Portuguesa de Golfe no Jamor. Para Tomás Silva será uma estreia. 

“Fiz há muitos anos o Nível I de treinador de golfe. Segundo o Instituto Português do Desporto e Juventude, temos que fazer um número mínimo de formações para mantermos esse Nível. É o que eu tenho feito. É verdade que estive no Jamor com os miúdos. É preciso ter paciência e algum jogo de cintura, mas é muito gratificante ver os jovens com quem trabalhei a jogarem provas e terem pequenas vitórias no seu processo evolutivo”, declarou Tiago Cruz. 

“Não tenho qualquer grau de treinador, mas tenho a intenção de inscrever-me no curso, assim que houver possibilidade”, admitiu Tomás Silva. 

Os dez anos de diferença entre ambos também têm consequências na sua vida privada. Cruz é casado e pai de duas crianças. A crise económica levou-o a pensar mais gravemente numa segunda carreira do que Santos Silva que é ainda solteiro.

Tomás Silva

“Ser treinador de golfe foi sempre uma alternativa. A pandemia obrigou-me a optar por ela mais cedo do que, obviamente, contava. Fiquei muito tempo parado sem competições e sem saber o que iria passar-se. Como fui pai outra vez, no início de outubro, e com poucas competições no horizonte, tive de encontrar uma fonte de rendimento mais estável. Falei com o Diretor do Golf do Estoril, o Eng. Francisco Pinheiro, e ainda com o presidente do CGE, José Sousa e Melo, para poder dar aulas e a resposta foi positiva” explicou Tiago Cruz. 

Quer isto dizer que a PGA de Portugal irá perder dois dos seus jogadores mais proeminentes para passar a contar com dois novos treinadores de luxo? Nada disso. Tal como acontece, por exemplo, com Hugo Santos, iremos continuar a vê-los a competir ao mais alto nível, embora perceba-se que Cruz irá virar-se mais para o circuito nacional, enquanto Santos Silva insiste mais em perseguir os seus sonhos internacionais. 

“Vou tentar conjugar o máximo de torneios possíveis em Portugal e conciliar as duas vertentes, o ensino e o jogo. A jogar torneios do European Tour, do Challenge Tour ou do Pro Golf Tour, entre outros, tem sido muito difícil conciliar as datas dos cursos de treinadores da FPG. Entretanto, já o consegui e estou a fazer o estágio para ficar com o Nivel II de treinador”, asseverou Tiago Cruz. 

“Este papel surgiu a convite do Miguel (Nunes Pedro). Em reunião com os dois membros da equipa técnica, decidimos que eu poderia acrescentar valor a este projeto.  Muito devido a esta nova realidade que vivemos, não estando no principal escalão europeu, torna-se difícil ser jogador de golfe e existe muita incerteza quanto ao calendário do Alps Tour Golf para 2021. Por isso, estou grato ao Miguel e ao Tiago por terem-me convidado e acreditado em mim”, agradeceu Tomás Silva. 

“As minhas funções serão as de ajudar e apoiar a escola do CGE, de estar mais tempo com os jovens jogadores do CGE e passar-lhes as minhas experiências enquanto amador de alta competição, que representou Portugal em diversas competições, e agora enquanto profissional”, acrescentou. 

“O Tomás e o Tiago nasceram no CGE. Têm a sorte de viverem e agora trabalharem numa zona populacional com cinco mil jogadores de golfe. Desde que anunciámos esta nova equipa técnica já começaram a aparecer no clube jogadores que nunca iam lá treinar. Agora, depende deles perceberem que serem treinadores implica uma aprendizagem contínua”, referiu José Sousa e Melo. 

O presidente do CGE faz questão de lembrar que “somos um clube sem campo, com uma boa relação com os senhorios do campo, mas dependo do que eles deixam-me fazer. Agora, isto é a prova de que um clube sem campo pode fazer um bom trabalho na formação de jogadores. Qualquer clube pode, é só querer”.