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Um herói português entre 350 participantes
13/12/2016 12:27 HUGO RIBEIRO/GOLFTATTOO
Ricardo Pereira na entrega de prémios, ladeado pelo novo presidente da FPG, Miguel Franco de Sousa (à direita) e por Dinis Pires, director do Hilton Vilamoura / © OCEÂNICO GOLF

Ricardo Pereira foi o vencedor gross do XXIX Grande Troféu de Vilamoura

Não é todos os dias que um presidente-executivo dos campos de Vilamoura pede para entregar um prémio na sempre ruidosa e animada cerimónia do Grande Troféu de Vilamoura. 

Mais especial é ainda quando esse presidente-executivo faz questão de substituir a emblemática mestra-de-cerimónias, Alice Carlota, e de ser ele a dirigir-se ao microfone para anunciar o nome do premiado em formato bilingue, em português e inglês. 

O caso é ainda mais raro por o referido presidente-executivo ser Luís Correia da Silva, o secretário de Estado do XV Governo Constitucional, liderado por Durão Barroso. 

Convenhamos, porém, que o alvo de tamanha honraria é merecedor da mesma. Afinal, tal como foi pomposa mas devidamente apresentado, trata-se de um “herói nacional”. 

Falamos de Ricardo Pereira, o famoso guarda-redes da seleção nacional de futebol, Sporting Clube de Portugal, Boavista FC, Betis e Leicester, desde há alguns anos mais “virado” para o golfe. 

Já lá vão os tempos em que os amigos gozavam e lhe diziam para tirar as luvas porque iria jogar melhor golfe, numa óbvia alusão ao momento mais transcendental da sua carreira, quando se despiu das luvas para defender um penalti nos quartos de final do Euro2004 frente à Inglaterra, marcando ele próprio uma das grandes penalidades que apuraram Portugal para as meias-finais. 

Luís Correia da Silva recordou esse episódio digno de um filme de Hollywood e logo houve na sala do Hotel Hilton, repleta de centenas de golfistas, um rufar, não de tambores, mas de aplausos da maioria, mesclados com alguns apupos brincalhões de britânicos que não esqueceram a humilhação futebolística. 

Ricardo, no palco, sorria e brandia a taça de campeão da classificação gross do Grande Troféu de Vilamoura, provavelmente o mais importante título da sua carreira… golfística. 

É certo que tem muitas outras vitórias de taco na mão, mas a classificação gross do Grande Troféu de Vilamoura foi encabeçada ao longo dos anos por alguns dos maiores nomes da história do golfe nacional, agora profissionais de renome internacional. No ano passado, por exemplo, o gross geral foi ganho por Vítor Lopes, que terminou a época de 2015 como o n.º 1 nacional amador! 

Por outro lado, não podemos esquecer que este torneio chegou a contar para o Ranking Nacional BPI da Federação Portuguesa de Golfe. Tem um prestígio e uma categoria superior aos outros eventos “sociais” em que o ex-futebolista costuma participar. 

Este ano, Ricardo Pereira era o melhor jogador em campo, dos cerca de 350 participantes, esgotando a lotação da prova, ao ponto de dois meses antes do seu arranque já não ser possível inscrever ninguém. 

Com um handicap de 1,6 EGA, surgia como o grande favorito, mas nem por isso teve uma vida fácil. Aos 18 buracos estava empatado com Robert Barry, agora com hcp de 3 mas que em tempos chegou a ser ainda melhor. Ambos tinham jogado o Old Course em 75 pancadas, 2 acima do Par. 

No final da segunda volta, Robert Barry isolou-se na frente com 76 (+4) ao Pinhal, enquanto o português só logrou um cartão de 77 (+5). 

Tudo decidiu-se no Victoria Golfe Clube, o palco do sumptuoso Portugal Masters, e aí Ricardo Pereira puxou dos galões com uma volta de 75 (+3), enquanto Robert Barry enterrou-se com 82 (+10). 

O triunfo acabou por parecer confortável, com 227 (+10), menos 6 do que o seu rival, mas ele bem sabe que no campo houve “guerra” até ao fim. 

Note-se que o 3.º lugar gross foi para Lucas Lopes Azinheiro (79+77+78), a apenas 1 pancada de Robert Barry. Trata-se de uma das jovens promessas das escolas do Clube de Golfe de Vilamoura e recebeu como prémio de consolação o 1.º lugar gross nas 1.ª Categorias. 

Golftattoo conversou com Ricardo Pereira sobre a sua vitória, a sua carreira golfística, a sua vida profissional pós-futebol e, simpático como sempre, a tudo respondeu de sorriso na cara.

Ricardo Pereira ao centro © OCEÂNICO GOLF 

GOLFTATTOO – Eras o favorito mas não foi nada fácil, foi preciso lutar até ao fim. 

RICARDO PEREIRA  – Foi uma vitória suada, sofrida, passei três dias muito bons, com bons parceiros. O meu jogo não esteve mau, mas o meu putting é que sofreu muito, sem confiança. Acima de tudo, aproveitei os shots de aproximação às bandeiras para meter a bola o mais perto possível. Por isso é que a vitória também tem um sabor diferente. 

Mas costumas sentir esse problema? Já te vi em alguns torneios da PGA de Portugal e até te safas bem. 

Eu sei “patar” e acho que até o faço mais ou menos, o handicap assim o obriga. Mas desde o primeiro dia que não funcionou. Tentei tudo, desde agarrar-me à técnica, a aconselhar-me com o profissional José Dias, para dar-me uma luz sobre o que deve fazer-se quando não se sente confiança…  isso ajudou-me, porque fazer os resultados que fiz, sem estar a “patar” bem, com muitos greens a 3 putts, não é fácil. Daí a vitória ser mais saborosa. E, atenção, que o mal não esteve nos greens, porque os três campos estavam fantásticos, maravilhosos. Há muito tempo que não via o Old Course com greens tão bons… se calhar foi por isso que fiz tantas vezes 3-putts porque apetecia estar ali a “patar” mais tempo [gargalhada]. 

Está visto que foi preciso agarrares-te mesmo ao jogo para superares o do Barry. 

Foi aquela pressão que às vezes faz parte da vida e do desporto, aquela adrenalina final de que eu gosto. Se calhar, ser competitivo também ajudou a acreditar que era possível e consegui ir melhorando o meu jogo de dia para dia. Não posso deixar de dar uma palavra ao Robert Barry que foi um adversário, um colega, um parceiro, muito bom jogador de golfe, ele também merecia este prémio. 

O Robert Barry é um turista que veio cá par ao torneio ou ele já conhecia bem os campos? 

RP – É um “habitué”, conhece bem os campos do Algarve, joga cá várias vezes, já foi jogador de handicapplus’, vê-se que é jogador. Tive a sorte de ele ter cometido hoje [no último dia] alguns erros nos primeiros nove buracos e eu fui capaz de aproveitar, para fazer um bom jogo da minha parte. 

Ele sabe da tua carreira futebolística? Não ficou aborrecido por ser britânico? 

Ele adora (risos) porque é irlandês! Estivemos três dias a jogar juntos, foi uma companhia fantástica e é um senhor. 

Neste torneio partiste das amarelas mas já te vi jogar das brancas no circuito profissional português e não te saíste nada mal. Nunca pensaste que poderias fazer boa figura no circuito da FPG (Circuito Allianz)? 

Adorava ter tempo para jogar o circuito da FPG. É uma aprendizagem. Não tenho o nível de jogo dos miúdos que são amadores de competição. Eu sou amador na minha competição, pelo lado competitivo que tenho cá dentro e iria certamente aprender e melhorar o meu jogo, mas cada torneio implica deslocações de alguns dias e não é fácil conjugar isso com a minha vida atual. 

Para quem não saiba o que andas a fazer desde que deixaste o futebol, conta-nos o que é a tua vida profissional neste momento. Sei que jogas muito golfe… 

Infelizmente, cada vez tenho menos tempo para jogar golfe. Tenho uma nova atividade profissional, um escritório de imobiliária no Algarve, embora trabalhe em todo o país em parcerias com pessoas que vou conhecendo e com amigos. Está a dar-me um gozo enorme, tal como o meu programa semanal na SportTV. Estamos a ter uma audiência fantástica, há recetividade do público, dizem-nos na rua e nas redes sociais que era importante ter um programa assim, com pessoas do futebol para o futebol, onde se discuta futebol e não outras coisas que não interessam nada a quem goste mesmo de futebol. Daí o meu handicap estar espremido, porque não tenho tempo para treinar. Vai ser muito difícil e brevemente irei, se calhar, começar a subir de handicap.    

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RODRIGO PEREIRA VENCEDOR NET, CAMPEÃO DA PROVA

Ricardo Pereira ganhou a classificação gross geral mas, como se sabe, no Grande Troféu de Vilamoura, dá-se mais destaque à classificação net e é o primeiro dessa lista que é entronizado campeão da prova. Nesse sentido, é importante sublinhar que o vencedor da 29ª edição foi Rodrigo Pereira, que bateu Walter McDonagh no play-off, depois de terem empatado com 217 pancadas medal net.

Rodrigo Pereira, vencedor net, com o troféu / © OCEÂNICO GOLF  

A extensa lista de vencedores é a seguinte: 

Rodrigo Pereira (net geral)

Ricardo Pereira (gross geral)

Liesbeth Groneweg (1.ª categoria gross senhoras)

Monica Suenner (2.ª cat. gross senhoras)

Elvira Galinhanes (3.ª cat. gross senhoras)

Yolanda de Montes (4.ª cat. gross senhoras)

Lucas Azinheiro (1.ª cat. gross homens)

Alejandro Rodriguez (2.ª cat. gross homens)

Adam Harley (3.ª cat. gross homens)

José Miguel Campos (4.ª cat. homens)

Silke Hagen (1.ª cat. net senhoras)

Milagros de la Fuente (2.ª cat. net senhoras)

Tricia Wiley (3.ª cat. net senhoras)

Juana Maria Rodiles (4.ª cat. net senhoras)

Robert Barry (1.ª cat. net homens)

Jean-Philippe Garciau (2.ª cat. net homens)

Patrick Kelly (3ª cat. net homens)

Anthony Lawless (4ª cat. net homens)

Eustaquio Andres (hole-in-one no buraco 15 do Old Course).