Um campo de custos reduzidos sensibiliza o futuro praticante, prepara-o e incentiva-o
O golfe em Portugal não vai evoluir nunca, enquanto persistir o poderoso lobbie dos “velhos” e feudais proprietários e Senhores do golfe, que ainda mandam e terão fortes influências e que ‘travam’ qualquer evolução.
Portugal foi o terceiro país da Europa Continental a ter golfe. Mas é hoje o país da Europa mais atrasado e mais retrógrado na evolução da modalidade. Mesmo os pequenos países saídos do antigo bloco Soviético já nos ultrapassaram, em larga escala.
Em toda a Europa a evolução no golfe surgiu com os campos low cost. Pequenos campos (9 ou 18 buracos, driving ranges) de construção barata e na maioria apoiados pela União Europeia, permitindo a toda a gente iniciar-se na prática e depois jogar regularmente, sempre a custos reduzidos.
Em Portugal este sistema de campos low cost foi vetados pelos Senhores do Golfe, proprietários de campos, pensando que o aparecimento de infra-estruturas mais baratas lhes iria “roubar” o negócio e os associados. É exactamente o inverso.
Um campo de custos reduzidos, público na maioria dos casos, sensibiliza o futuro praticante, prepara-o e incentiva-o numa prática cada vez mais evoluída. Quando o praticante está mais do que apto, a sua ambição aumenta e quer aderir a um clube com maiores potencialidades, escolhendo então o clube que financeiramente lhe interessa mais.
Mas ao inverso, em Portugal o lobbie muito forte tem evitado o aparecimento de campos de baixo custo e de mais fácil acesso à população para se iniciar no golfe. E como esse lobbie tem influência no poder político, “trava” qualquer pedido que surja para apoio, construção ou aprovação desses projectos mais baratos. É a ditadura do golfe.
Os exemplos deste “entrave” são muitos. Há largos anos o então presidente da Câmara de Loulé (o concelho que mais campos de golfe tem em Portugal) anunciou em conferência de Imprensa na Quinta do Lago a cedência de um terreno para construir um campo de golfe municipal de 9 buracos, que seria o primeiro de Portugal. Não passou daí, agora o espaço é cimento. Foi depois um grupo a anunciar ter terreno e já tudo preparado para um campo municipal em Faro, que seria o primeiro de Portugal. Não passou da intenção.
Na região Norte do País têm sigo muitas as intenções. Algumas com protocolos assinados com a FPG para o efeito, como o caso da Barragem do Azibo, Macedo de Cavaleiros. Morre tudo pelo caminho…
E o mais grave de tudo isto é que a União Europeia apoiava com fundos especiais a construção de campos de golfe de características públicas. Mas Portugal beneficiou desse sistema única e exclusivamente para campos que são hoje privados. Ou seja, há campos de golfe privados construídos em Portugal que tiveram ajuda comunitária, mas os campos públicos/municipais ou com outra designação foram sempre vetados internamente…
É por isso que Portugal não evolui no golfe, ao contrário do resto da Europa.
Portugal tem actualmente 87 campos de golfe e (oficialmente) 14.198 jogadores. Não tem qualquer campo público ou municipal e os únicos de custos reduzidos estão em Lisboa.
A vizinha Espanha tem 313.787 praticantes de golfe e 345 campos. Tem 85 campos de 9 buracos, 19 ‘par 3’, 29 Pitch&Putt e 19 rústicos. Conta com cerca de três dezenas de campos públicos em todo o país e 35 driving ranges espalhados por várias zonas.
Por cá, em Portugal, há dois ou três driving ranges, privados, por iniciativa de ‘carolas’ do golfe, como em Beja por iniciativa do Vale de Choupos Golfe ou em Abrantes, propriedade de um praticante.
Um dos exemplos de maior evolução do golfe na Europa pertence à República Checa. Em 2000 tinha 19 campos de golfe e cerca de sete mil praticantes. Hoje conta com 96 campos de golfe e mais de 56 mil praticantes.
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Jornalista