Já está tudo inventado, agora é uma questão de seguir as regras e de trabalhar
Existem inúmeros temas interessantes, importantes, engraçados, tristes, económicos, contabilísticos, políticos….enfim, inúmeros os temas que se vão debatendo no universo golfístico. Mas sem dúvida que o tema do jogo lento tem captado o interesse, ocupando quase sempre hoje em dia, um ponto da agenda de qualquer conversa sobre golfe.
Torna-se ainda mais interessante quando o tema não é apenas discutido como resultado de um contexto específico ou de algum local onde isso acontece. Hoje em dia este tema é debatido de igual forma em quase todos os países onde o golfe representa uma atividade com peso significativo a vários níveis, mas principalmente em termos desportivos e económicos.
Também se torna estranho quando estamos num período em que as estatísticas vão mostrando anualmente a redução do número de golfistas a nível mundial.
O meu dia a dia envolve muito o assunto golfe e por isso posso testemunhar que relativamente ao tema do jogo lento existe uma tendência para se culpar apenas jogador. Claro que se o golfista não jogar, não haverá jogo lento. Também não haverá jogo rápido. Por isso, em ultima análise e até de uma perspetiva mais militar, quem tem que ser chamado à razão é sempre o responsável. Portanto, o jogador!
No entanto e sem querer desculpar o jogador porque de fato é ele quem define o ritmo de jogo, é importante ter em conta que num passado recente (6 a 8 anos, no máximo) existia um serviço nos campos de golfe que eliminava, ou pelo menos atenuava este drama atual, mas que está tendencialmente a desaparecer.
Este serviço era assegurado por uma equipa que embora desempenhasse funções de manutenção e controlo do campo de golfe, não fazia parte da estrutura de pessoal da manutenção. Esta equipa dependia do diretor de golfe e a quem era atribuídas as funções de Starter, Marshall ou Ranger e gestão do campo de treino. A chamada equipa de campo. Este era o nome pelo qual era conhecida na maioria dos campos de golfe, embora existam outras denominações.
Por uma questão de racionalização e\ou custos e dependendo da ocupação do campo, por vezes um bom funcionário conseguia controlar todas estas tarefas. Certo é que cumprindo a função de Starter nas 2 a 3 primeiras horas do dia e respeitando as indicações do Marshall, era possível chegar aos 240 jogadores por dia, regularmente. Se olharmos de uma perspetiva financeira, chega-se a pagar um dos ordenados desta equipa com o acréscimo do número de saídas que este serviço pode trazer.
Claro que este era o resultado de uma preparação prévia com vista a facilitar e simplificar as “etapas” que um jogador cumpre desde que chega ao parque de estacionamento até dar a primeira pancada. Esta preparação envolvia o conhecimento antecipado da ocupação, como já referi, o nível de jogo, a colocação das marcas no campo, colocação dos tees de saída, marcação de obstáculos no campo, drop zones visíveis, etc. E para os que gostam de aquecer no campo de treino, para além de nunca correrem o risco de faltarem bolas de treino ou cestos, tinham ainda um funcionário com o horário das saídas para que não houvesse atrasos. (o Draw do dia).
Faço um destaque para a atenção que se dava ao nível de jogo. Em todas as reservas, incluindo as dos sócios quando traziam convidados, era obrigatório referir o handicap. Esta indicação, que não era para impedir ninguém de jogar como em muitos campos era anunciado, permitia ter a perceção das alturas em que esta equipa teria que estar mais atenta.
É necessário adicionar agora a forma como se começava a jogar no campo. O número de lições que cada jogador necessita para começar a jogar golfe depende em grande parte do jeito natural que cada um tem, no entanto, com menos de 5 lições ninguém estava autorizado a jogar no campo. Relativamente a este pormenor terei que recuar não 8, mas 12 a 15 anos.
Após estas 5 lições 2 das quais no campo, o professor, profissional de golfe, atribuía o handicap ao seu aluno. Esta rotina originava uma sensação única na primeira vez que se fosse jogar para o campo sem o professor. Esta sensação era acompanhada por um sentimento de respeito pelo campo, que tal com a referida equipa de campo, está a desaparecer.
Os elementos desta equipa, sabendo como desempenhar a sua função e apoiados nas suas decisões pelo seu líder, o diretor de golfe, eram vistos como uma ajuda ao jogador, acrescentando qualidade ao campo de golfe.
Estou certo que existe um número grande de golfistas em Portugal que consideram este serviço importante, mas tenho a mesma certeza que existe também um número significativo de jogadores regulares que nunca viu sequer um Starter!
Não é esta equipa que resolve a questão do jogo lento. Mas o culpado também não é, apenas o jogador. Também não culpo as novas tecnologias que trazem as aplicações para o telemóvel com cálculos de distâncias, resultados on line e um sem numero de estatísticas. Também não considero que sejam as instituições como a Federação ou a PGA Portugal que têm obrigação de resolver este assunto.
É todo um contexto que se alterou e para o qual é necessária uma adaptação. Mas o que eu acho mesmo é que já está tudo inventado sendo necessário agora aplicar a cada caso (campo) a melhor solução, que já existe.
Concluindo, basta apenas saber (tudo) sobre a função que se desempenha e desempenhá-la.
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Director Golftattoo