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As vistas curtas dos Pros em calções
Crónica

A popularização do golfe não deveria ser feita à custa do sacrifício das tradições

O European Tour permite, desde janeiro, que os jogadores vistam calções nas voltas de treino e no Pro-Am. 

As marcas de roupa aplaudem. Abre-se um novo mercado. A curto e médio prazo haverá benefícios e a modalidade transmitirá uma modernidade no ano em que regressa aos Jogos Olímpicos. Mas, e a longo prazo? 

No golfe moderno só uma vez um profissional usou calções. No US Open de 1983, Forrest Fezler, entre o green do 17 e o tee do 18, trocou as calças por uns calções curtíssimos, como se usavam na época. 

Os seus parceiros de formação, Curtis Strange (que viria a vencer o US Open em 1988 e 1989) e Scott Hoch aplaudiram-no mas a USGA (federação norte-americana de golfe) regulamentou logo a proibição de calções, uma norma que já vigorava no PGA Tour. 

A revolução de dress code estreou-se no último Abu Dhabi HSBC Golf Championship, no deserto, e a adesão foi imediata, designadamente de craques como Ernie Els, Darren Clarke, Lee Westwood e Ian Poulter. 

As duas grandes estrelas atuais, o norte-americano Jordan Spieth e o norte-irlandês Rory McIlroy, manifestaram-se favoravelmente.“Gostaria de ver isto também no PGA Tour. O pessoal parece adorar e os que mais têm elogiado a medida têm sido os mais velhos. É uma boa iniciativa”, disse o n.º 1 mundial. 

“É uma boa ideia deixarem-nos usar calções na volta de treino. Irei precisar de mais algumas semanas de sol nas pernas para poder mostrá-las em público, mas todos gostam de calções, sobretudo quando está quente”, corroborou o n.º 3 do ranking. 

O presidente executivo do European Tour, Keith Pelley, acredita que “irá modernizar o jogo. Os calções são a evolução natural e a juventude adere à moda. Iremos ver algumas afirmações de moda e será um bom começo”. 

Admito que seja ‘bota de elástico’ mas não concordo. As imagens que proliferaram de Westwood, Els e Clarke de bermudas fizeram-nos perder a aura e a elegância, e evidenciaram ainda mais os quilinhos extra que ostentam. Não foi positivo para a reputação do golfe. 

Claro que Adam Scott irá sempre parecer um Adónis e o atleticismo imaculado de Tiger Woods não deixa que nada lhe caia mal, mas como irão parecer Miguel Angel Jiménez ou Colin Montgomerie? 

As calças, mesmo as mais espalhafatosas como as de John Daly, são um símbolo de profissionalismo e de rigor. Calções são para os amadores e para os caddies. Num torneio, olha-se para uma formação e vê-se logo quem é o jogador e quem são os outros. 

No Portugal Masters seremos confrontados com a nova vaga, mas não me agrada. A popularização do golfe não deveria ser feita à custa do sacrifício das tradições. Afinal, todos apreciam que o campeão do Masters envergue um Green Jacket, ou seja, um blazer, um casaco e não uma T-shirt

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*Comentador de ténis e golfe no Eurosport

**Esta crónica foi publicada originalmente no Caderno GOLFE do jornal Público de dia 27 de Fevereiro

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