Acredito que Portugal não está de forma alguma subjugado a uma realidade negativa
Suportando em dados da EGA, Portugal terá cerca de 1.120 juniores (8% dos jogadores federados), a Espanha terá cerca de 33.000 juniores (12% dos jogadores registados), a França cerca de 40.000 (10%), Finlândia (11%) de 143.000, a Islândia cerca de 2.400 (15%), a Republica Checa cerca de 6.000 (11%). E não me pronuncio acerca da realidade de Inglaterra, Escócia, Alemanha etc…
A percentagem de juniores em relação ao número de jogadores fica abaixo dos exemplos dados, mas, esse facto, não será surpresa, pois todos reconhecemos que o crescimento e desenvolvimento do golfe júnior nesses países tem tido uma dinâmica que até agora não conseguimos acompanhar.
Possuímos o maior número de horas de sol da Europa, temos equipamentos dos melhores do mundo. Será o número reduzido de jogadores e a pequena dispersão dos equipamentos, um nosso fado? Nunca criaremos condições para alterar essa realidade em termos de jogadores?
Acho que não. Não estamos subjugados a essa realidade.
Como posso dizer isto?
Primeiro, por otimismo, por acreditar nos agentes responsáveis pelo nosso golfe, segundo, pelo trabalho que vem sendo desenvolvido, pela Federação e por clubes.
Ilustrando esta minha última observação, irei debruçar-me sobre a divulgação e promoção do golfe no contexto juvenil, sabendo que muitas das soluções aplicam-se também à captação e formação de jogadores de outras faixas etárias.
Pretendo também apresentar projetos desenvolvidos noutros países que contribuíram para o aumento de jogadores e equipamentos – pois estão os dois bem interligados – como sugestão para o que se pode fazer em Portugal, neste caso a França.
A FPG vem já desenvolvendo atividades de proximidade com o público alvo, população em geral e jovens, no sentido de dar a conhecer o desporto e possibilitar os primeiros contactos.
Dentro desses programas, identifico:
Dentro deste programa temos:
– Drive Challenge, que é um circuito de golfe nacional organizado pela FPG direcionado para os alunos do 3.º e 4.º anos de escolaridade. (drivechallenge);
– Drive Desporto escolar direcionados às escolas de 2.º, 3.º ciclo e secundário;
– Drive prof, programa direcionado à formação continua de professores no desporto escolar.
Estes programas têm conseguido envolver diversos parceiros como clubes, treinadores, associações, Estado, escolas e autarquias, ou seja, a desejada colaboração que já falei.
– Programa Golfe Para Todos “Golf Open Day”. Este programa, entre 2015/2016, realizou 11 eventos, 7 em campos de golfe e 4 em centros comerciais, contou com o apoio voluntário de 80 treinadores de golfe e membros de clubes, e em que cerca de 4.200 pessoas tiveram um primeiro contacto com o golfe, tendo proporcionado acesso a 1400 ofertas de aulas grátis em clubes de golfe. Este é um modelo de divulgação do golfe que, mediante eventos em campos de golfe e outros lugares públicos, promove uma interação muito próxima entre o golfe e seus agentes com as pessoas.
– A parceria no âmbito do projeto da European Golf Association, o GoGolf! Europe (gogolfeurope.eu), financiado pela Comissão Europeia através do programa Erasmus+, que se desenvolve em 5 países com realidades distintas (Portugal, França, Holanda, Estónia e Republica Checa) e que “pretende aumentar a consciencialização e a base de evidência dos benefícios do golfe para a saúde dos cidadãos europeus e aumentar a participação no desporto do golfe ao nível pan-europeu”, estando a testar uma novo modelo de captação de jovens entre os 15 e os 18 anos, sendo que as reações dos jovens ao método de ensino são acompanhadas por uma equipa da Universidade de St. Andrews.
Aspeto muito importante, estas iniciativas têm revelado que o público-alvo gosta do desporto, apesar da ideia de ser elitista e dispendioso.
E, em termos de equipamento, com o que podemos contar?
Em Portugal, existirão cerca de 100 equipamentos de golfe, na sua larguíssima maioria propriedade de empresas privadas.
Muitos das estruturas proprietárias dos equipamentos não sentem, ou não querem ter, vocação para a promoção do golfe juvenil.
Apesar desse facto, programas como o 2020 para os municípios do interior, a maior aproximação entre o golfe de proximidade e os apoios ao turismo, levam-me a crer que também aqui teremos alterações de pressupostos que beneficiarão o desenvolvimento do golfe.
Cabe a todos os envolvidos aproveitar os mesmos, designadamente os clubes desportivos, os quais não se podem alhear do escopo previsto na Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto, Lei nº 5/2007, de 15/01, vd. Artigo 26, nº 1. Conceito de clube que não distingue clubes “com campo” e clubes “sem campo”.
Acredito que se fazendo um trabalho coordenado entre as diversas estruturas, designadamente entre clubes, poderia ser dada já uma rápida resposta às necessidades de desenvolvimento e crescimento do golfe juvenil. Que tem vivido muito de iniciativas autónomas, e com resultados muitos dispersos.
O exposto leva-nos então a outra questão.
A escassa divulgação do desporto e de existência de equipamentos no território nacional, com maior concentração nas zonas litorais, tem impedido que se criem condições de alavancagem nessas áreas.
Julgo assim estarem identificadas duas das vertentes em que se deve trabalhar. A vertente humana, divulgação junto das populações, e a vertente de equipamentos desportivos, com mais equipamentos e comum maior equilíbrio geográfico. Poderia, e deveria falar da formação dos vários agentes, treinadores, dirigentes, árbitros, certificação ou qualificação das escolas/academias, movimento associativo, mas ficará para uma outra altura.
Precisamos então de tornar o desporto do golfe mais disseminado, seja em termos populacionais, seja em termos geográficos.
Para uma abordagem ao nível da disseminação de equipamentos, proponho uma análise ao programa de desenvolvido pela Federação Francesa de Golfe (FFG).
A FFG, em 13 anos, conseguiu aumentar em 150.000 o seu número de membros, atingindo em 2015 os 408.000 membros, e 2.000.000 (dois milhões) de praticantes regulares.
O número de equipamentos de golfe aumentou, entre 1985 e 1995, em 285, passando de 177 equipamentos para 562.
Em 2015 o número de equipamentos de golfe em França era de 715, existindo: 569 campos de golfe, considerando um campo de golfe de 18 buracos com uma área aproximada de 60ha, e 6000 metros de comprimento; de 9 buracos com 16ha e 2350 metros de comprimento; 52 equipamento de prática; 21 de golfe P&P, com uma área de 9 ha e 1090 metros de comprimento; e 64 campos de golfe compactos, equipamento de maior proximidade com as áreas urbanas com 12 ha e 1250 metros de comprimento. Todos os espaços contemplando área de treino, cobrindo praticamente toda a área de França.
Este esforço de engenharia foi determinante para o exponencial aumento de desportistas, como podemos ver pelo seguinte quadro:
Da mesma forma existem motores de pesquisas onde os interessados poderão pesquisar o equipamento por si procurado, em francegolf.fr/guide-des-golfs
Percebe-se porque a França irá receber a Ryder Cup de 2018, no Centro Nacional de Golfe, da FFG.
Em Portugal, podemos ver uma consequência bastante positiva resultante deste tipo de equipamento, o Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor, explorado pela FPG, localizado dentro da área metropolitana de Lisboa, e que tem tido uma forte adesão, quer em número de jovens, quer na captação de jogadores de outras idades.
Com a realização e desenvolvimento de programas de trabalho direto com o público alvo, com a construção do Jamor, a FPG vem já contribuindo para uma nova ideia do desenvolvimento do golfe nacional, como é de sua atribuição.
O desenvolvimento de uma estratégia como esta terá outros benefícios, como a colaboração com autarquias locais e associações locais, contribuindo bastante para a divulgação do golfe em todo o território e para o aumento de jogadores juvenis e adultos.
No entanto, como podemos verificar pelos exemplos referidos, para se conseguir um aumento de jogadores de golfe consentâneo com as nossas condições naturais e com os desejos da atual direção da FPG, tem de ser desenvolvido um desejoso plano de:
– Conjugação de esforços e estreita colaboração entre quem se interessa pelo deporto, designadamente entre os clubes;
– Aproveitamento dos equipamentos já existentes e a construção de novos equipamentos por todo o território.
Temos ideias, temos programas em desenvolvimento, temos acesso a apoios, temos agentes com formação.
Temos de reforçar um desejo comum de desenvolvimento do desporto e fazer que este fique de uma vez por toda a fazer parte integrante da juventude.
Essa voz comum será decisiva para o futuro.
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*Advogado e golfista. Criou no Facebook o grupo "Golfe Juvenil"