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O vício da perfeição
Crónica

Se há coisas que o golfe me ensinou, e a muita gente, foi a nunca desistir

Uma vez li um livro chamado “O golfe não é um jogo para perfeccionistas”, e é bem verdade. Todos os golfistas sabem que tão depressa estão no céu como no instante imediatamente a seguir descem ao inferno. 

Por isso recordo com um sorriso aqueles momentos de iniciação ao golfe. Ansiava pela chegada do fim-de-semana para aquela verdadeira “aventura” dos sábados de manhã. Tinha para aí 18 anos, aquela idade em que não sabemos bem o que queremos, mas, por vezes contrariado comigo mesmo, abdicava de uma noite de copos com os amigos para me “apresentar ao serviço” com cerca de outros 20 jovens. 

E depois, já frustrado por não ter saído e por me ter levantado cedo, finalmente conseguia, à tentativa número 200, bater uma bola no ‘sweet spot’. Aí, tudo tinha valido a pena. Só nós (golfistas) sabemos o prazer que isso dá. Parece que não há esforço nenhum…. Aquelas bolhas nas mãos em ferida valiam o esforço. E no dia seguinte, às 9h, lá estava eu para mais uma “batalha” igual, à procura daquela sensação única. Um verdadeiro masoquismo. 

Mas apesar daqueles tempos difíceis, uma coisa que o golfe me ensinou, e penso que a muita gente, foi nunca desistir. Talvez também fosse por uma questão de orgulho. Não iria ser uma pequena bola branca a deixar a minha autoestima em baixo… E o que dizer daqueles treinos à chuva? Maluquinhos… Depois começam a chegar os resultados e a busca pela perfeição, que nunca chega, torna-se cada vez mais viciante. 

Durante esse “tortuoso” caminho, lembro-me de um torneio ‘stableford’ em que a quatro buracos do fim já tinha 39 pontos – estava com handicap 17 e se terminasse com quatro pares seria um verdadeiro ‘pistoleiro’. Estava confiante, apesar, claro, de toda aquela adrenalina envolvente. Mas sentia-me a jogar bem e no controlo de todas as emoções. Tinha a certeza que a vitória já não me escapava. Os meus parceiros de jogo, bem mais experientes que eu, só me repetiam incessantemente para ter calma porque o triunfo estava nas minhas mãos. Eu tinha perfeita noção disso e até parecia que eles estavam mais nervosos do que eu. 

Dei por mim a disfarçar uma respiração ofegante. Só queria que me deixassem em paz para terminar o meu trabalho. Em termos psicológicos estava a ser o meu auge. Inconscientemente, não me preocupei com a técnica e apenas desfrutei aquele momento glorioso – não interessa nada a ninguém, mas ganhei com 48 pontos…

Aquelas horas passadas no ‘driving range’ davam os seus frutos, mas depois de vencer o desafio passa a ser outro: bater em ‘draw, em ‘fade’, jogar em ‘topspin’, conseguir fazer ‘backspin’… Enfim, dominar a bola em qualquer situação. 

Ou seja, vamos lá recomeçar isto de novo. Nunca mais acaba. Isto é o golfe!

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