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Receita para ganhar a Ricardo Santos
Crónica

Como Tiago Cruz se sagrou campeão nacional de profissionais batendo o nº1 português e não só

O golfe é um desporto difícil mentalmente. Quantas vezes não ouvimos já dizer que é qualquer coisa como 80 por cento mental e 20 por cento técnico? E isto porque, embora as partidas de golfe (e falo na alta competição) cheguem a durar quatro horas e meia, só em escassos segundos os jogadores estão realmente em acção, a preparar-se para o shot e a bater. O resto do tempo passam-no a caminhar, embrenhados nos seus pensamentos. Também daí aquela famosa frase, já muito antiga, atribuída ao escritor Mark Twain (mas que na verdade poderá terá tido outro autor): “Golf is good walk spoiled”. A pressão pode ser terrível e derrubar qualquer génio na hora da decisão.

No último Campeonato Nacional PGA, no Onyria Palmares, Tiago Cruz lidou bem com esta questão. No último dia, em plena e emocionante batalha abstraiu-se de tudo para se focar unicamente no seu jogo. Isto é fácil de dizer mas difícil de fazer… A jogar a seu lado estava a grande estrela actual do golfe português, Ricardo Santos, bem como o irmão mais velho deste, Hugo, também um forte competidor. Já para não falar em Ricardo Melo Gouveia, António Sobrinho e Gonçalo Pinto, que integravam o grupo imediamente anterior e tiveram uma palavra a dizer na questão do título.

Tiago Cruz iniciaria a última volta a comandar com a vantagem mínima sobre os irmãos Santos, e não quis saber deles. Quatro horas mais tarde, quando chegou ao 18, teve de perguntar a Ricardo como estavam as coisas em termos de classificação. “Eu não estava a fazer as contas”, contou-me Tiago. “Pensei que estava a perder uma para o Hugo porque ele fez 4 birdies seguidos, no 11, 12, 13 e 14. Aí pensei que ele estava por cima porque eu também fiz duplo no par-3, acho que no 14. Mas depois o Hugo fez duplo no 16 e aí achei que eu tinha algumas hipóteses de recuperar. No 18 é que estive a conversar com Ricardo e soube que estava empatado com o Hugo e a ganhar por uma ao Ricardo.”

O resto é sobejamente conhecido. O 18 do percurso Lagos-Praia do Onyria Palmares é um par-5 a subir. Ricardo meteu a bola no bunker do lado direito do green à segunda pancada e depois meteu directamente dali (a uns 12 metros de distância), à terceira, no buraco, para eagle 3, obrigando Tiago, de seguida, a meter o putt de 7 metros para birdie, se quisesse forçar o play-off. E não falhou, o estorilense. Finalmente, Hugo falhou um putt de menos de dois metros, mas a descer, que lhe teria permitido também a ele entrar no desempate por morte-súbita. Tiago fez 72 pancadas, Ricardo 71 e Hugo 72. Os dois primeiros totalizaram um agregado de 7 abaixo do par-72.

No play-off, sempre no mesmo 18, Tiago e Ricardo empataram com birdies nas duas primeiras passagens por este buraco. Até que na terceira Ricardo foi para o mato à esquerda na saída e teve ‘dropar’ antes de bater o já terceiro shot novamente para as couves, entregando o título ao seu amigo e adversário. Mas até na vitória Tiago Cruz foi humilde e equilibrado, não embandeirando em arco por ter levado a melhor sobre o nº1 português. É sempre bom ganhar ao Ricardo Santos, isso dá confiança, mas também sei que ele está aqui mais descontraído, a ganhar ritmo competitivo para o European Tour, ao mesmo tempo que aproveita para dar alguma visibilidade à PGA Portugal e para confraternizar connosco.”

Boa cabeça, a de Tiago. 

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Jornalista

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