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O golfe como ódio de estimação
Crónica

A aversão ao golfe por parte de Cesar Millan chega a ter graça de tão inusitada

Haverá alguém que não conheça Cesar Millan? Da série “O Encantador de Cães”, que passa (ou passava, já não sei) no canal National Geographic? Nasceu no México e, com 21 anos, atravessou ilegalmente a fronteira dos Estados Unidos. De bolsos vazios em San Diego, Califórnia, empreendeu um trajecto notável até se tornar numa figura pública, tu cá, tu lá com estrelas como o actor Will Smith ou a apresentadora Oprah Winphrey, só para dar dois nomes. O seu dom? Lidar com cães. 

Cesar Millan tem também vários livros publicados. Acabei de ler um deles, “A Paixão de César” (em inglês, “Cesar’s Way”), e, como na série, aprendi mais algumas coisas (sim, porque sou louco por cães), mas surpreendeu-me constatar a aversão do autor pelo golfe – aversão essa que, de tão inusitada, chega a ter graça. 

Escreve Cesar Millan no capítulo 2: “Os animais podem sentir uma energia de caça mesmo antes de avistarem o predador.” E lembra: “Na ausência da projecção de energia confrontacional, diferentes espécies coexistem naturalmente.” E dá um exemplo: os “caros” e “exclusivos” campos de golfe da Florida, do Louisiana ou das Carolinas, com humanos, pássaros, tartarugas e jacarés no mesmo território. 

Atenção que Millan podia ter evitado adjectivar negativamente os campos de golfe, mas não resistiu a dar uma primeira ferroada na modalidade rotulando-os de “caros” e “exclusivos”. Também os há assim, inacessíveis ao comum dos mortais, mas se nos Estados Unidos existem 30 milhões de praticantes de golfe isso acontece também porque o país é dotado de uma excelente rede de campos públicos, alguns com tanta qualidade que chegam a receber majors como o US Open. 

Continua Millan: “Uma coisa é certa – quando a barriga daquela criatura [o jacaré] começa a roncar e a sua energia muda para o modo de caça, o resto dos animais desaparecerá num piscar de olhos. Excepto, talvez, os golfistas. Mas esses são uma das mais estranhas espécies na natureza, e nem a ciência moderna os compreendeu ainda.” Assim, à generalização inicial segue-se uma extrapolação: aos seus olhos, o golfe é um desporto de alienados. 

Mas Cesar não se fica por aqui. No capítulo intitulado “Cães na Zona Vermelha”: “Eu gostava de ver santuários criados para quaisquer cães que não podem ser reabilitados e que não podem estar de forma segura perto de humanos. Nos meus sonhos mais profundos, imagino campos de golfe a serem transformados em santuários de cães, com pessoal profissional e treinado para cuidar deles – e estudá-los.” Daqui ressalta um desígnio: aniquilar o golfe da Terra. 

Vivendo há tanto tempo nos Estados Unidos da América, num país onde os desportos proliferam, e onde tantos deles são mirabolantes, inconcebíveis, inacreditáveis, é no mínimo curioso que Cesar Millan tenha elegido o golfe como o seu “ódio de estimação”. Não consegue passar sem ele.

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Jornalista

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