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O português por detrás do Bonallack Trophy
Crónica

Manuel Agrellos foi um dos fundadores do match bienal Europa vs. Ásia-Pacífico

Quatro anos depois do Monte Rei Golf & Country Club, no Sotavento Algarvio, mesmo na fronteira com Espanha, o Troféu Bonallack está de volta a Portugal, desta vez acompanhado do estreante Troféu Patsy Hankins, a versão feminina do match que, de dois em dois anos, põe frente a frente as selecções amadoras da Europa e Ásia-Pacífico, ora cá, ora lá. 

Em 2014 foi lá, em Bangolore, Índia, em 2016 era para ser na Turquia, mas mudou à última hora, novamente para Portugal, para o campo transmontano do Vidago Palace Hotel, perto de Chaves, de 16 a 18 de Março. Ao que consta, os responsáveis da Asia-Pacific Golf Confederation não terão visto com bons olhos a realização dos encontros num país que tem sofrido ataques terroristas. A sua homóloga EGA (Associação Europeia de Golfe) lançou mãos de uma solução alternativa. 

Na edição de 2012 em Monte Rei, foi pena que nem Pedro Figueiredo nem Ricardo Melo Gouveia tenham podido participar, em representação da Europa, no Troféu Sir Michael Bonallack. Pela posição que ocupavam no ranking mundial – eram o 7º e o 11º melhores a nível europeu – seriam elegíveis. Impediu-os o facto de as universidades que representavam nos Estados Unidos não terem visto com bons olhos a ausência deles numa fase da época crucialmente competitiva na primeira divisão universitária norte-americana. 

Com eles, o evento teria tido muito mais mediatismo a nível interno. Mas teria sido também uma bonita e simbólica maneira de assinalar a realização da competição em Portugal, país de onde é natural um dos seus principais fundadores, Manuel Agrellos, presidente da Federação Portuguesa de Golfe. 

Manuel Agrellos sempre foi apologista do alargamento da selecção da Grã-Bretanha-Irlanda ao resto da Europa Continental na Walker Cup, o encontro bienal frente aos EUA em amadores. Se a Ryder Cup mudou a sua tradição quando o golfe no continente se começou a desenvolver (o que deu muito jeito para equilibrar o match e torná-lo universal e hipermediático), então por que não seguir o mesmo caminho na sua versão amadora? 

Em 1996, quando arbitrava o Masters de Augusta National, e na condição de presidente do Comité de Campeonatos da EGA (Associação Europeia de Golfe), Manuel Agrellos sugeriu ao seu homólogo da USGA, Buzz Taylor, um match à parte entre as selecções europeia e norte-americana. Taylor recusou dizendo que de forma nenhuma o país dele iria criar uma terceira selecção amadora, para além da da Walker Cup e da do Troféu Eisenhower (Campeonato do Mundo). 

Mais tarde, Manuel Agrellos, em conversa com o seu homólogo da Confederação de Golfe da Ásia-Pacífico, Colin Philips, constatou que este também tentara sensibilizar Taylor para um match com os EUA, tendo recebido semelhante nega. Daí surgiu a ideia de um duelo Europa vs. Ásia-Pacífico. E como o português, na altura, era igualmente membro do Comité Executivo do Royal & Ancient Golf Club of St. Andrews, não tardou que recebesse também o apoio deste organismo regulamentador. 

A primeira edição do Bonallack Trophy foi em 1998, em Perth, na Austrália, com Manuel Agrellos a entrar para a história do golfe europeu como o capitão de uma selecção que pela primeira vez pôs amadores continentais e britânicos a jogar na mesma equipa, eles que costumam estar em lados opostos de barricadas no que diz respeito a competição colectivas: no St. Andrews Trophy (para homens), no Jacques Léglise Trophy (boys) e no Vagliano Trophy (para senhoras). 

Desde então, a competição viu passar alguns dos melhores do mundo, como Rory McIlroy Justin Rose, Peter Hanson, Adam Scott, Aaron Badelley, Geoff Ogilvy… 

Em 2012, em Monte Rei, estiveram, só para citar os mais sonantes, três top-10’s do ranking mundial amador: Daan Huizing, Jack Higginbottom e o bicampeão asiático Hideki Matsuyama, que é o actual n.º 12 no ranking mundial de profissionais. 

E não deixou de haver um toque português na selecção europeia: a David Moura, Treinador Nacional Adjunto, foi pedido que desse a sua opinião à selecção da Europa sobre a melhor forma de jogar o campo. Durante o estudo prévio do campo, teve a colaboração de Gonçalo Pinto, que aceitou estar com ele a dar algumas tacadas, pouco antes de se sagrar bicampeão nacional amador. 

A Europa acabaria mesmo por vencer – e logo pela maior vantagem de sempre, no cômputo das 32 partidas realizadas: 21,5-10,5. Foi o terceiro triunfo consecutivo por parte do europeus e, na globalidade, o quinto em sete edições, mas importa referir que já se deviam ter realizado oito encontros; sucedeu que a prova foi cancelada em 2010, devido às complicações no tráfego aéreo provocada pela erupção do vulcão de nome impossível (o Eyjafjallajökull) na Islândia. 

Foi o resultado mais desnivelado no historial, mas algo enganador quanto à réplica oferecida pelos derrotados. Depois dos 20 encontros de pares (10 em fourball e 10 foursomes), o conjunto da Ásia-Pacífico iniciou os 12 encontros de singulares a perder por 13,5-6,5, mas a dada altura do dia estava em vantagem em 10 partidas. Os europeus reagiram e conseguiram dar a volta impondo-se por 8-4. O galês Rhys Enoch foi o jogador do torneio, vencendo os cinco matches que disputou. 

Sir Michael Bonallack, um dos melhores amadores que o golfe já viu passar, com cinco vitórias no British Amateur, além de renomado dirigente do golfe, hoje com 81 anos, abrilhantou esta edição com a sua presença ao longo de toda a semana, e não teve dúvidas de que valeu a pena: “O golfe que vimos foi inacreditável. Profissionais não conseguiriam jogar melhor do que estes amadores. E depois têm óptimos swings, muito melhores do que tínhamos nos meus dias. Aliás, eles são muitos melhores amadores do que nós éramos.” 

Agora, há novo encontro marcado em Março no championship course do Vidago Palace Hotel.

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