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Os campos de golfe face a períodos de seca longos
Crónica

Quanto mais bem preparado e apoiado estiver o gestor de rega, melhor consegue reagir

Acabámos de passar um verão e um outono muito secos. No Inverno também pouco choveu. Quando não chove durante muito tempo fica-se sem saber como reagir. É neste contexto, de seca prolongada, que me é dirigido o convite para escrever esta coluna.

(Curioso que entretanto tem chovido copiosamente em todo o país. Passámos, em poucos dias, da seca para chuva a mais)

Em períodos muito secos acontecem três situações distintas: a água disponível é menor, a necessidade de água é maior e a qualidade da água tende a piorar.

O desafio é gerir estas dificuldades todas ao mesmo tempo.

As medidas preventivas mais eficazes são:

  • A escolha adequada de relvas dos campos de golfe deve ser feita na fase de design e planeamento do campo, quando se fazem os estudos sobre o clima da região e a quantidade e qualidade de água disponível. Há relvas que precisam de metade da água de outras, embora não aguentam temperaturas muito baixas.
  • Ainda na fase de projecto há que ter redobrado cuidado no design do sistema de rega, que deve garantir uma cobertura adequada para garantir uma boa eficiência.
  • Os solos onde a relva é instalada devem ser criteriosamente seleccionados de forma a minimizar perdas de água por lixiviação. 

Mas mais importante que as medidas preventivas, que só têm cabimento antes do campo de golfe ser construído, é percebermos o que os gestores da rega dos campos de golfe podem fazer quando não chove: 

  • Regas menos frequentes e mais intensas. Com esta medida, não só se reduz um pouco a quantidade de água total debitada mas sobretudo lavam-se os sais do solo e se combate a deterioração da qualidade da água referida acima. Esta medida é benéfica também para um bom enraizamento do relvado. Quando as raízes do relvado forem pouco profundas, não se deve adoptar esta medida.
  • Abandonar áreas regadas é talvez a decisão mais dramática. Às vezes não há volta a dar. Se queremos reduzir drasticamente a quantidade de água de rega podemos tomar a decisão de ir desligando a rega pela seguinte ordem: roughs, fairways, tees. Só quando a fonte já secou é que se deixa de regar os greens.
  • Há relvas que aguentam longos períodos sem água. Para se defenderem hibernam. Mais tarde recuperam, quando já tiver passado o período seco e voltar a haver água para regar.
  • Molhantes são produtos que retêm grandes quantidades de água no solo. Esta vai sendo libertada à medida que as plantas precisam, ao criarem uma força de atracão superior à de retenção do molhante. Ajudam mas não são solução para períodos de seca prolongados. Para além disso custam dinheiro. São usados principalmente nos greens.
  • Em períodos de stress hídrico evitam-se outros “stresses”. Não se fazem escarificações nem aplicações de areia nestas alturas, sob risco de o somatório do stress ser maior do que a relva pode aguentar.
  • Rega à mão. Esta medida parece pouco sensata, sobretudo quando o campo de golfe tem disponível um sofisticado sistema de rega por aspersão. No entanto, cada zona distinta do campo é diferente. Como tal tem diferentes necessidades de água. Os sistemas de rega, por mais eficientes que sejam, nunca chegam à eficiência total. Por isso, manchas secas de dimensões reduzidas, devem preferencialmente ser regadas localizadamente, à mão, para que se evite estar a pôr água onde não é preciso.

Há outras medidas que os campos de golfe adoptam, mas penso que ficam as mais importantes. 

Tal como em qualquer outra actividade, quanto mais bem preparado e apoiado estiver o gestor de rega, melhor consegue reagir a períodos de seca prolongados e agonizantes, como os que hoje em dia acontecem com cada vez maior frequência.

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Agrónomo, director da Native Golf Services

 

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