Posso chegar a um ponto em que já não é a ansiedade que mais condiciona o meu jogo
Cruzei-me com este texto:
"Os nossos dragões são os nossos medos: os nossos perseguidores diurnos, os nossos suores noturnos. Medo de falhar. Medo de começar um projeto novo e não conseguir terminar. Outra vez. Ou o medo real, o que provoca calafrios espinha acima: o medo de ser bem sucedido e de enfrentar as mudanças que isso acarreta. Podemos não estar felizes com a forma como estamos a viver agora, mas pelo menos é seguramente familiar." -- Sarah Ban Breathnach
Gostei especialmente porque fala de um dos grandes obstáculos da nossa vida.
O medo é o maior obstáculo do jogador de golfe. O medo de falhar condiciona a escolha do alvo, a descontração e fluidez do swing, a sua amplitude, a zona da bola onde se bate, o divot que se tira, o ferro que se escolhe. Dá cabo dos putts, atira a bola para os lagos, deixa as mão trémulas, encolhe o peito. Põe as árvores à frente e os arbustos em jogo. Embrulha a bola na areia do bunker. Humilha. Incapacita. Lembra os maus shots. Faz o jogador dizer disparates, talvez para mostrar que não o tem.
É tantas vezes o medo que nos gere. Medo de ser diferente, de ir contra a maioria. De ir contra a corrente. De chamar os bois pelos nomes. Das repercussões de não ir na onda. Medo de falhar e de ser bem sucedido. Medo de ir sozinho, à frente. Medo de arriscar, tomar decisões, dizer a verdade, provocar alguém com ela. Medo de se tornar um incomodo, de ser dispensado, de ir contra a corrente. De mudar. Não será por isso que o golfe é quase igual ao que era há quinhentos anos?
Fui ver se já alguém se lembrou de o medir. Encontrei várias quantificações de diferentes medos: da morte e do dentista por exemplo. Fui ainda ver o que se escreveu sobre o medo no jogo de golfe. Fala-se muito na ansiedade provocada pelo pavor de falhar. Na força do grip. Na falta de fluidez do swing.
Mas encontrei uma ideia extraordinária. É que o medo/ansiedade é o grande obstáculo do jogador mas é ao mesmo tempo o que leva a voltar. A gestão da ansiedade é possível. É possível ter grandes vitórias neste capítulo. Há treino específico para a controlar. Quanto mais rotineiro torno o swing e toda a sua preparação melhor a controlo. Posso chegar a um ponto em que já não é a ansiedade quem mais condiciona o meu jogo.
Conheci outro dia com um guru americano do ensino de golfe. A especialidade dele não é a mecânica do swing. Nem percebe grande coisa disso. A sua ideia fundamental é a de desfocar da mecânica e pôr a atenção no feeling e no alvo. De uma forma simplista, o que ele ensina é a gerir a ansiedade ao desviar a atenção do jogador para factores exteriores a si próprio.
Aquilo que sempre ouvi, de que no campo não posso estar preocupado com o swing, faz agora muito mais sentido.
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*Agrónomo; director da Native Golf Services
**Esta crónica foi publicada originalmente no Caderno GOLFE do jornal Público de dia 27 de Fevereiro