AcyMailing Module

Posts
> Home / Posts
Campo de golfe. Paraíso ou inferno?
Crónica

Superficialmente, tudo é bom, limpo; aprofundando, descobrimos os podres

Não me lembro exatamente quando foi o meu primeiro contacto com o golfe. Provavelmente na televisão. Passei por alguns campos ao longo da vida.  Via o golfe como um jogo chato, para velhos, jogado num paraíso. Verde, limpo, com água e árvores. 

Enquanto tirei o curso não perdi muito tempo a pensar no que queria fazer “quando fosse grande”. Fui vivendo, divertindo-me, jogando outros desportos muito diferentes do golfe.

No fim do curso quis passar a ser útil para a sociedade. Pensei que gostava de trabalhar no paraíso. Quem não gostava? Lembrei-me dos campos de golfe.

20 anos depois, entro num campo e que vejo eu? divots, poa, pitch-marks, áreas mal drenadas, zonas secas, infestantes, a processionária dos pinheiros, as toupeiras, os rodados das máquinas e dos buggies, lagos com algas, lixo do dia anterior, fungos nos greens, relva fraca e sem cor, manchas sem relva, pouca definição dos limites das áreas de jogo, tees convexos, sinalética em mau estado, mato por limpar.

Espreitando debaixo do tapete vejo mais algumas coisas: thatch exagerado, black-Layer, solos saturados ou hidrofóbicos, raízes pouco profundas, lagartas, roturas na rega, drenagens entupidas. 

Que é feito do paraíso? 

Sabem a sensação de quando compramos uma coisa nova, um carro ou algo assim, ou melhor ainda, quando conhecemos alguém de novo. Se não passarmos de um conhecimento superficial então tudo é encanto. É uma pessoa encantadora, inteligente, bem com a vida. O carro novo é bonito, cheira bem, gasta pouco, sem barulhos nem nódoas nos bancos.

Aprofundamos e começamos a ver que a inteligência do nosso novo amigo é seletiva e que afinal também tem mau feitio. O carro afinal não gasta assim tão pouco, o banco podia ser mais confortável e não tem cruise-control.

Passamos a estar focados nos problemas. Eles avolumam-se. Continuamos a gostar, claro, mas se nos derem algum por ele podem levá-lo. Falo agora só no carro como é óbvio! 

Com o campo de golfe não é diferente. Se virmos superficialmente tudo é bom, limpo, paraíso. Vamos aprofundando, descobrindo os podres, apanhando desilusões e dores de cabeça. 

Então qual é a verdade? Paraíso ou um inferno? Paraíso nuns dias e não tão perfeito noutros. 

Em relação ao jogo passa-se o mesmo. Perfeito nos dias em que entra o draw, não se falha um putt, o swing sai fácil e a bola vai batida. Inferno quando todos os birdies se transformam em bogeys, para não sermos mais pessimista.

Experimentem um dia, quando chegarem ao campo de manhã cedo, antes de todos, pouca luz, sem barulho, com um dia de golfe pela frente. Franzam os olhos e sintam o campo, assim visto do Clube-House. Paraíso.

Tee do 1. Green. Saída do 2... Ainda estão no céu? 

Para mim a coisa mudou. Já não é um paraíso. Na maioria dos dias até é o oposto. Mas ainda não descobri nada melhor. Já fiz, e ainda faço, muito trabalho em outros cenários mas pelo campo de golfe não troco nenhum se querem saber.  

Quanto ao carro, quem dá mais?

_________________________________________________

*Agrónomo; Director da NATIVE Golf Services

 

  • Comentários