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Os campos de golfe de amanhã
Crónica

O mundo muda e uma velocidade estonteante mas o nosso golfe teima em não mudar

Depois de muitas leituras, congressos, artigos e de longas conversas sobre que volta é que o golfe tem que dar arrisco partilhar as seguintes ideias: 

1. Os novos campos de golfe vão ter 12 buracos. 

Talvez a visão mais polémica mas a que mais problemas resolve.

Reduz o montante do investimento.

Reduz o tempo por volta de quatro a cinco horas para duas e meia a 3 horas.

Reduz a área relvada. Reduz os custos de manutenção.

Porquê 12?

Porque se jogam num tempo razoável, muito parecido com aquilo que um desportista demora a jogar um jogo de outra modalidade qualquer.

Porque começa a ser possível ver um jogo inteiro na televisão.

Porque são duas voltas de seis. Mais uma e temos o “velho” Championship Golf Course, para quem pode e quer investir e para quem gosta de antiguidades.

Alguém tem coragem e dar o primeiro passo?

Dizia-me um dia o mestre e amigo Fernando Nunes Pedro que quem descobrisse a cura para o jogo lento ficaria rico e conhecido para sempre no mundo do golfe. Não descobri para o jogo lento. Não consegui ainda imaginar nada para parar com os seis swings de ensaio que normalmente antecedem mais um chunk. Mas acabámos de descobrir uma cura para o tempo que leva um jogo. 

2. Os Greens vão ter áreas generosas 

Parece contraditório porque greens maiores implicam investimentos e custos maiores.

Com os greens não se brinca.  “Greens bons - Campo bom”.

Greens pequenos são muito difíceis de manter por causa dos cortes em voltas apertadas, a concentração do pisoteio, o número reduzido de posições de bandeira. Para além disso greens generosos permitem mudar a estratégia do campo. Devo ter hipótese de “esconder” ou mostrar mais as bandeiras ou de dar mais ou menos green para parar a bola. Easy par tough birdie. Quem joga para a bandeira deve saber que riscos está a correr.

Greens pequenos não ajudam em nada. 

3.  Bunkers só mesmo os necessários 

Acabar de vez com os signature bunkers. Só custam dinheiro e servem para alimentar o ego do arquitecto.

Os bunkers servem para a estratégia de jogo, estética, comunicar com o jogador coisas tais como “por aqui não” ou “saiam do green por aqui”. Servem ainda para enquadrar os buracos ou para resolver algum problema de diferença de níveis ou de drenagem.

Os bunkers, quando bem construídos, são uma fatia muito grande no investimento de um campo de golfe. Os custos de manter os bunkers com bom aspecto, bem drenados, com a areia limpa, sem infestantes, com os lips aparados, bem definidos... são exorbitantes. O nosso campo deve ter no máximo um bunker por buraco. 

4. Não vão ter lagos 

Os riscos, custos e potenciais problemas que os lagos acarretam são muito grandes. O armazenamento de água de rega não deve ser em lagos dentro do campo de golfe porque o nível de água vai oscilar o que não é bom para a estética nem para manter o lago limpo.

Acabemos então, na medida do possível, com os lagos. Armazenemos água num depósito, charca coberta de preferência, fora do alcance visual dos jogadores.

Acaba-se de vez com a eutrofização (poluição dos lagos) que leva a tantos problemas e custos  para o campo de golfe.

5. Tees baixos 

Durante muito tempo elevaram-se os tees de forma a dar visibilidade do buraco. Perdeu-se, em muitos casos, a noção, porque em certos campos parecem chaminés.

Mais custos de construção, manutenção muito mais difícil, relva nas encostas em mau estado, degraus, subidas incómodas para os jogadores.

O tee deve estar tão alto quanto necessário para dar alguma visibilidade do buraco e para se defender das águas das vizinhanças. Quem disse que o buraco deve ser todo visto do tee?

Uma ideia em relação aos tees dos campos que já existem é baixá-los de forma a ser possível serem reorientados e aumentarem a área plana.

6. Roughs sem relva 

Por que é que os roughs têm de ter relva toda à mesma altura, aparada, limpa, e uniforme? A palavra rough quer dizer exatamente o contrário. Não defendo que sejam áreas abandonadas até porque a maior parte de nós joga mais no rough do que noutra área qualquer. Mas simplifique-se. Use-se vegetação rasteira, sem muitos cortes. Não há nada mais difícil que jogar de relva alta. E as bolas que se perdem? 

Vamos com certeza ver algumas destas coisas acontecerem nos campos de golfe de amanhã. 

Não sei se já repararam que o mundo muda e uma velocidade estonteante mas o nosso golfe teima em não mudar. Sobretudo porque as razões de muitas das coisas intocáveis no golfe, ortodoxias como diz um amigo meu guru da inovação, são histórias muito mal contadas. Ou vamos ficar apegados à lenda dos dezoito shots de whisky como razão para manter tudo como está?

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Agrónomo, Director da NATIVE Golf Services

 

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