José Paulo Pina Manso e Dirk Howen sempre me inspiraram profissionalmente e na vida
Aproveito esta oportunidade para vos dar a conhecer duas pessoas muito marcantes na indústria do golfe em Portugal.
É sempre um risco porque fica sempre muito por dizer. Mas mais vale dizer pouco do que não dizer nada. Por isso arrisco.
Saber a história deles é bom. Ajuda-nos nas nossas lutas do trabalho e da vida.
Como sempre estiveram nos bastidores nunca foram mediáticos, mas é escondidos que estão os tesouros mais valiosos.
São ambos Greenkeepers de alma e coração e ambos travam uma luta feroz contra o cancro.
Têm tido grandes sucessos nesta batalha e lutam pela cura, se é que alguém alguma vez pode dizer que está curado seja do que for.
O José Paulo Pina Manso foi o meu primeiro “professor” nestas andanças da manutenção de campos de golfe. Na altura em que o conheci era o head greenkeeper da Penha Longa, onde eu fiz um estágio. Foi o meu primeiro contacto com o golfe. Ainda não tinha acabado o meu curso de agronomia mas quis passar a ser útil e foi por aqui que comecei. Não podia ter sido melhor.
Na altura ele fazia a manutenção dos 18 buracos e estava a construir mais nove. Aprendi muito. Senti que havia abertura total. Nada escondido, que eu não pudesse saber.
Depois da Penha Longa, que se seguiu à sua primeira experiência profissional no Parque da Floresta, passou pela Quinta do Lago. Fundou a empresa, de que é o responsável, de construção e manutenção de campos de golfe, a Areagolfe. Já neste contexto fez várias construções onde se destaca o Palmares e o Vidago. Leva a manutenção de campos como o Jamor, Montebelo e Amarante.
Foi muito influente no golfe português. Muitos dos greenkeepers portugueses passaram-lhe pelas mãos. Arriscou. Fez coisas diferentes. Colheu frutos. Não diz mal de ninguém. Nunca ouvi dizer menos que muito bem dele. Um líder fabuloso, sem medo de mandar, sempre com base no seu rigoroso conhecimento técnico.
A forma como tem reagido à doença é comovente. Não se entregou. Estudou tudo o que havia para estudar sobre aquele tipo de cancro. Aceitou os tratamentos com humildade. Vence o “bicho” pelo positivismo. Ficou mais espiritual, se é que posso fazer esta inconfidência. Pelas conversas que tenho tido com ele percebo que passou a dar mais importância ao que realmente importa.
Hoje o Zé Paulo é um homem que perdeu quase metade dos quilos que tinha mas não perdeu, muito pelo contrário, o sorriso e a esperança.
O Dirk Howen veio da Holanda mas é português. Sempre pareceu muito mais novo. Tem quase dois metros de altura. Também ele combate a luta contra o cancro.
Já o venceu uma vez. Parece que agora o venceu uma segunda vez com doses cavalares de quimio e transplante de medula. Ficou-me gravada a imagem, de quando o fui ver a seguir a essas torturas, em que ele fez um gesto e um sorriso como quem ganhou um major e me disse, “já me safei de mais uma”.
É o eterno greenkeeper do Peru. Tem desde há uns tempos responsabilidades muito acrescidas porque ficou responsável pela manutenção de todos os campos da Orizonte. Andámos juntos na gestão da Associação Portuguesa de Greenkeepers.
Quem trabalha ou trabalhou com o Dirk não quer outra coisa. Não tem nem um laivo da frieza dos países do norte da Europa. É mais humano e compreensivo que qualquer greenkeeper português (posso dizer isto porque conheço todos). É nórdico na disciplina, na organização e no rigor.
Veio para Portugal para a Golf-Obra. Neste contexto foi o responsável pelo viveiro da Comporta e esteve envolvido em várias construções de campos de golfe tais como o Palheiro, na Madeira, Academia de Golfe de Vilamoura e o Peru, onde acabou por se estabelecer.
Quando fizemos o viveiro de Bermuda no Algarve a experiência do Dirk foi fundamental. Deu-nos uma ajuda preciosa porque já tinha passado por tudo.
Tecnicamente é muito sólido. Gosta de experimentar soluções. Baseia o seu conhecimento nessas experiências e não no que lhe dizem. Nunca desistiu da luta contra a poa nos greens. Teimosia nórdica?
Gosta de ajudar, tem espírito de missão. É um óptimo líder, não dos que divide para reinar mas dos que dá responsabilidade e confiança.
Não vos quero massacrar nem entrar em grandes inconfidências sobre estes meus dois mestres e amigos. Deixo aqui uma muito pequena homenagem a dois homens que sempre me inspiraram profissionalmente, mas que sobretudo, nesta fase me inspiram pela maneira como encaram a vida e os problemas que tantas vezes parecem insolúveis mas que afinal...
Um grande abraço e Obrigado aos dois.
____________________________________
*Agrónomo; Director da NATIVE Golf Services