Tantas vezes ouvi opiniões opostas sobre o mesmo circuito, o mesmo buraco, o mesmo green
Aproveito esta altura de férias, onde muitas vezes jogamos campos diferentes, para refletir sobre o que é isso de um campo de golfe ser bom ou mau.
É que ouvi tantas vezes dizer: “granda campo”, “granda buraco”, “green do caneco”. Tantas vezes ouvi opiniões completamente opostas sobre o mesmo buraco, o mesmo campo, o mesmo green, que resolvi aprofundar este tema.
Só para perceberem como este assunto mexe comigo, uns anos valentes depois de ter começado a trabalhar em campos de golfe decidi tirar uma pós-graduação em arquitetura de campos de golfe. O objectivo foi, em grande medida, perceber o que é afinal um bom campo de golfe, um bom buraco, um bom green.
Neste curso, que durou dois anos e onde aprendi as técnicas e as disciplinas necessárias para projetar um campo de golfe (o que não faz de mim um arquiteto) e onde tive a oportunidade de visitar quase todos os campos emblemáticos europeus, confirmei o que já desconfiava: sobre este tema é tudo um pouco relativo.
Um bom buraco não o é para um handicap alto e para um baixo. Só por milagre as opiniões coincidem. Eles veem o mundo de maneira diferente. Um quer ter um bom lie e um bom ângulo para poder atacar a bandeira à segunda pancada o outro eventualmente está preocupado em chegar ao fairway ou em escapar aos bunkers. Como pode ser possível que tenham o mesmo critério?
Há aqui outro dilema, que me foi alertado por um amigo, bom jogador, que joga desde pequeno: se o jogador de handicap baixo joga do tee de trás mas é mais comprido fica com a bola mais ou menos na zona onde o handicap alto põe a bola, a landing area. Porque é que os jogadores de handicap baixo têm segundos shots com o mesmo grau de dificuldade que os de handicap mais alto? Não deviam ter um desafio maior para continuar a testar os skills? Mas deixemos agora isto.
Há outra coisa a baralhar este tema. É que a tendência é para avaliarmos segundo o critério de “como é que o melhor jogador do meu clube, ou mesmo o meu Golf Pro verá este buraco?”. Aí a avaliação não é nossa. É uma imagem do que seria a avaliação do craque.
Arrisco a dizer que um bom buraco obriga-nos a pensar antes de batermos a bola do tee, dá-nos alternativas, ilude-nos em relação às distâncias dos obstáculos ou dos alvos (embora hoje as ferramentas de medição de distância reduzam um pouco esse efeito), premeia uma boa saída, obriga-nos a correr riscos, a fazer pancadas diferentes do normal, dificulta o birdie.
De facto não há aqui nenhum critério muito objectivo.
No fundo é bom ou mau conforme o ar convicto de quem faz esse statement.
E depois há a qualidade de manutenção do campo. Parece que deveria ser menos subjetivo mas vejam: Hoje vou jogar. Durmo bem. Acordo feliz. Corre bem. Bom resultado. GRANDA CAMPO! Doem-me as costas. Não consigo deixar de pensar nisto ou naquilo. A tensão é grande. Péssimo resultado. O campo está uma lástima!
É por essas e por outras que se diz que o golfe é o desporto da Vida. O jogo reflete o que se passa na vida e por sua vez a vida é influenciada pelo que fazemos no campo de golfe. No campo vamos mostrando o que somos sempre que temos que reagir e tomar decisões.
Para reduzir a subjetividade em relação à qualidade de manutenção dos campos de golfe existem já algumas ferramentas. A mais conhecida é o Stimpmeter que é uma régua inventada pelo Mr. Stimpson que mede a velocidade dos greens. Há outras mas são menos conhecidas e muito pouco usadas, infelizmente.
Ando sempre em busca de mais ferramentas destas porque seria interessante deixar de dizer que o campo está bom ou mau para passar a dizer que o campo está 8 em 10 ou 3 em 5. Em que os números resultam de critérios de qualidade específicos e mensuráveis. “O que não se mede não se gere” como disse o Mr. Deming, célebre engenheiro americano.
Não é o que se passa com as estrelas dos hotéis, por exemplo? Claro que há diferenças entre hotéis de 5 estrelas mas ficamos já com uma boa noção do essencial que a infraestrutura tem para oferecer.
Tento dar o meu pequeno contributo para o avanço da nossa indústria do golfe, com gestão baseada em standarts pré-estabelecidos e mensuráveis.
Sugiro então a quem vive de e para o golfe a contribuir, cada um à sua maneira, para que que se torne uma industria madura, adulta e, em última análise, rentável.
Bom Verão. Aproveitem para jogar noutros campos.