Sobre a nova queda no prize-money do torneio e a encruzilhada em que se encontra o European Tour
Em vésperas do início da 13ª edição do Portugal Masters (que de Masters já têm pouco) fomos confrontados com a noticia (pouco divulgada) de que o Prize Money baixou de 2 milhões de euros para um milhão e meio, uma quebra de 25% no maior evento de golfe em Portugal, representado menos pontos para a Race to Dubai (Ordem de Mérito Europeia) e menos pontos para a qualificação da Ryder Cup. Terá sido uma das cativações do Dr. Centeno? Em 2007 quando se realizou a 1.ª edição no Portugal Masters, o prize-money foi de 3 milhões de euros e imagine-se, 13 anos depois, estamos em metade desse valor. Nessa altura, e por isso a designação de Masters, o prize-money era dos mais elevados, com excepção para os majors.
Todos sabemos a importância que o golfe tem para o PIB do turismo, a forma como contribui para a quebra da sazonalidade, sobretudo no Algarve, mais de 400.000 turistas de golfe visitam o nosso país, uma indústria que representa uma receita de cerca de 500 milhões de euros e mais de 20.000 postos de trabalho.
“Agora que entrámos na primeira divisão dos grandes eventos mundiais nunca mais podemos sair de lá”, disse um dia António Mega Ferreira, o pai da Expo 98.
E é esse o caminho que devemos fazer, o marketing é um investimento e não um gasto de tesouraria. A construção das marcas (países também são marcas) requer tempo e consistência na comunicação, investir em marketing é muito importante, sobretudo, porque não estamos sozinhos no mundo, existe concorrência de outros países, de outras modalidades e de grandes eventos mundiais. Aliás não se percebe, a desproporcionalidade entre a “experiência” do GolfSixes em Cascais com um prize money de um milhão de euros, um Open de Portugal (no Challenge Tour) com 200.000€ e o Portugal Masters. A minha filha de 9 anos pergunta se não é melhor fazer o Open de Portugal com €2.700.000.
Também o European Tour, o segundo circuito mundial, se encontra numa encruzilhada difícil, sem conseguir garantir a presença dos melhores no circuito. Com exceçpão dos majors, em que só um se disputa na Europa, não há qualquer garantia de que os artistas (jogadores) estarão presentes neste ou naquele evento. Daí o aumento dos prize moneys das provas da Rolex Series.
À data que escrevi esta crónica, o Portugal Masters tínha apenas garantida a presença, imagine-se, de dois jogadores do Top-50 do mundo, Matt Wallace e Eddie Pepperell. E esta é a questão, essencial: sendo os prize-money baixos, não há garantias de que os jogadores do topo participem, mas o problema não reside só aí. O European Tour não garante, à partida, a presença dos jogadores. O que seria na Formula 1 se o Lewis Hamilton não fosse agora disputar dois ou três Grandes Prémios? Ou ir ver uma grande exposição no Louvre sem Picassos, Van Gogh’s, Monets ou Renoir.
Não precisamos de ter o field que os majors têm, ou até mesmo o BMW Championship (com 23 jogadores do Top-50 mundial) ou o Alfred Dunhill Links Pro-aM (14 jogadores). Agora apenas dois jogadores?
Não basta anunciar que temos 500 horas de transmissão televisiva para todo o mundo, é preciso ter audiências nos mass media, e audiências só se fazem com os melhores atletas. Muitas “experiências” têm sido feitas ao longo destes dois anos pelo European Tour, desde o Golfsixes, o Shot the Clock ou provas de Match Play de 9 buracos mas, quanto mim a solução passa por garantir a presença contratualizada de um lote significativo dos melhores jogadores a jogar no circuito europeu – e assim, talvez essas “experiências “ tenham algum sucesso.
Veja-se o exemplo do Open de França que de país onde se realizou a última Ryder Cup e de prova da Rolex Series em 2018, viu o seu prize-money reduzido para 1,6 milhões de euros.
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*Presidente do Lisbon Sports Club
**Crónica publicada originalmente no suplemento Golfe do jornal Público, de 21 de Outubro