Se a modalidade continuar a ser olhada como atividade de lazer cara, não existirá atração pela sua prática
Sendo um facto que a renovação etária no golfe não tem acontecido de forma a substituir de forma lógica a atual geração de jogadores, o que se pode prever para os próximos 10 anos será um decréscimo do número de praticantes. Seja pelo desaparecimento natural das faixas etárias mais elevadas, seja pela contração de recursos individuais disponíveis.
Vão continuar a jogar golfe aqueles que continuem a possuir capacidade de mobilidade automóvel ou os poucos que residam em casas próximas ou dentro de campos de golfe.
Daí que os dois fatores mais importantes para a continuidade da prática do golfe vão ser a disponibilidade financeira e o tempo necessário para jogar.
Sendo também um facto que a maior parte dos campos se situam fora dos perímetros urbanos só é possível atrair mais jogadores se este facto for alterado. Uma vez que não se podem mudar os campos de lugar, há que promover a criação de campos curtos (de 6 e de 9 buracos) dentro dos perímetros urbanos.
Os campos de golfe devem estar acessíveis aos jovens de forma idêntica tal como estão acessíveis os pavilhões desportivos.
A não existência destes campos impede a formação de novos jogadores e condena a prazo a existência de uma boa parte dos campos comerciais que, até aqui, esperavam pela vinda de turistas.
A nova reorganização mundial pós-pandemia não vai ter as mesmas características que possuía até 2019. As viagens vão ser mais ponderadas, seja pela disponibilidade financeira dos mercados emissores, seja porque o custo das tarifas aéreas irá crescer.
Temos assim uma situação em que o mercado externo irá certamente diminuir e um mercado interno insuficiente para alimentar a maior parte dos campos existentes.
Que fazer?
Os campos de associados podem reinventar-se reaproveitando o uso das suas instalações. Perante a realidade do teletrabalho, que irá permanecer, uma zona das clubhouses poderá ser dedicada a este tipo de reorganização do trabalho. Uma parte dos que hoje estão em casa a teletrabalhar poderão fazê-lo num futuro próximo nas instalações dos clubes, cativados tanto pela vantagem de estarem num ambiente agradável, como pela vantagem do parqueamento gratuito e restauração a preços módicos. E ainda poderão disfrutar de um jogo de final de dia de trabalho.
Os campos comerciais terão de rever a sua fórmula de rentabilidade. A recuperação, que vai existir, não se vai aproximar dos números a que estavam habituados. Os campos comerciais, cuja concentração está no Algarve estarão dependentes de um fator que, nestes dias, assustou muitos dos expatriados residentes no sul do país: a falta de camas hospitalares. Sem uma rede de cuidados de saúde fiável não existirá atratividade (seja pelo golfe seja pelo resto). Aqui os grupos hoteleiros consolidados já deveriam ter dado esse passo em vez de terem pensado apenas em aumentar o número de camas para dormir. Criar clínicas vocacionadas para os residentes de língua estrangeira faz parte da consolidação do Algarve como destino de vida.
Uma solução plausível no Algarve para continuar a atrair o mercado externo é a criação de packs de golfe multicampos, ou seja, colaboração mais apertada entre campos próximos de forma a consolidar de forma inovadora uma região onde o golfe pode continuar a ser uma forma de vida.
Logicamente que terá de existir um organismo de coordenação que convença poderes públicos a investir nos campos de golfe curtos. O Algarve precisa de dois ou três campos deste tipo. Almada ou Seixal poderiam acolher um campo de seis buracos. Loures, Amadora e até Lisboa possuem área disponível municipal para este tipo de estruturas. Em Peniche deveria também ser criado um campo curto, ou quiçá, adaptar um links quase não utilizado. Na região de Coimbra poder-se-ia tirar partido dos planos recentes [1] (entretantos abandonados) em criar um campo de golfe municipal. Como também em Aveiro, cidade com uma universidade dinâmica e uma população jovem. É neste tipo de campos que é possível levar as crianças para que respirem golfe desde pequeninos. É aí que se criam jogadores, é aí que se criam futuros empregados para esta indústria, desde rececionistas a treinadores.
E há que mostrar o golfe cada vez mais como modalidade desportiva. Há que haver notícias diárias nos jornais desportivos. Se continuar a ser olhado apenas com a (falsa) imagem de uma atividade de lazer cara aí não existirá atração nenhuma pela sua prática. Mesmo que se apregoem os benefícios da atividade ao ar livre.
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*Presidente do Jamor Clube de Golfe
[1] Não refiro nenhuma situação no restante litoral Norte do País, uma vez que aí têm aparecido campos de golfe curtos e irá aparecer mais um em breve. Todos eles tendo a vertente de ensino jovem como uma das principais valências