Em Portugal são poucos os que apostam no que os ingleses apelidam de golf trip
Pouco tempo depois da iniciação ao golfe muitos começam a sonhar com o dia em que pisarão os greens mais emblemáticos da modalidade. Quantos não se imaginam a atravessar Swilcan Bridge, em St. Andrews, ou a tentar a sorte no par-3, ilha, do TPC Sawgrass. No entanto, em Portugal, são poucos os golfistas que apostam no que os ingleses apelidam de golf trip. Haverá muitas razões para explicar este fenómeno mas estou seguro que entre as principais está o facto que não temos que fugir ao frio para fazer 18 buracos no inverno e não temos de nos meter num avião para jogar em campos de alto nível. Neste sentido os golfistas portugueses são verdadeiramente abençoados.
Apesar disto, a viagem de golfenão deve ser posta de parte. Trata-se de uma oportunidade para, junto de amigos, estar totalmente integrado numa atividade que todos adoram. A viagem de golfe permite aprofundar amizades e desligar dos stresses da vida quotidiana. Em tempos li que para garantir o verdadeiro descanso é necessário que o cérebro esteja envolvido numa tarefa com uma componente, dita, mecânica. Desta forma, e contrariamente ao que acontece se estivermos simplesmente deitados na praia a apanhar sol, asseguramos que a cabeça se centra na atividade presente e não foge para os problemas do dia-a-dia. Diria mesmo que esta receita se aplica sempre que vamos para o campo, mas se a pusermos em prática durante vários dias seguidos pode ser um autêntico bálsamo.
A verdade é que para além do descanso, da camaradagem e das muitas histórias que uma viagem de golfe assegura há também uma componente mística. Afinal, seguir as pegadas de gigantes do golfe em campos imaculados onde os greens parecem mármore é uma experiência única. Experiência esta que se torna ainda mais especial para os adeptos, e não são poucos, que madrugadas dentro assistiram aos torneios na televisão, que devoraram artigos de golfe online, que aprenderam sobre os diferentes tipos de relva e que jogaram vezes sem conta campos icónicos na PlayStation.
Mas nem tudo é um mar de rosas para o golfista em digressão. Sabemos que muitos dos campos americanos que vemos na TV são privados e praticamente impossíveis de jogar. No entanto, enquanto sonhamos com o Amen Corner de Augusta ou em tentar a sorte em Merion – do local onde Ben Hogan bateu aquele lendário ferro 1 para ganhar o US Open – resta-nos o consolo de saber que no Reino Unido e na Irlanda a maioria dos campos são públicos. De Muirfield a Royal County Down, passando por Gleneagles e Ballybunion, todos estão abertos a não sócios. E o melhor é que ao lado destas Mecas encontramos pérolas que por alguma razão passaram ao lado da história e consequentemente praticam greenfees bem mais acessíveis.
Em jeito de conclusão mas também de aviso aos viajantes menos cuidados deixo uma história que me contou um amigo quando regressou de jogar em Kingsbarnes. É que com velhos greens vêm velhas tradições e muito respeito pelo jogo e pelo campo. Neste sentido é importante ter presente que quando chegamos ao destino ainda temos que jogar um jogo que não raras vezes é cruel.
Estava este meu amigo à espera que chegasse a sua hora de saída quando reparou num turista americano a dirigir-se para o tee. Via-se na cara dele que aquele momento era o culminar de muitos meses de espera e antecipação. Mas ou o nervosismo foi demais ou o nível de jogo não estava suficientemente evoluído. A verdade é que ele decidiu fazer um swing de ensaio no tee box e arrancou um bife de tal ordem que o starter, impávido e sereno, lhe disse alto e em bom som com pesado sotaque escocês: “Thank you for coming, sir. That was your swing for the day…” E lá foi o americano para o bar porque no 19 a coisa corre sempre bem.
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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque