Nem a indústria do golfe se manteve à margem do empresário virado furacão politico
Donald Trump fez fortuna no imobiliário, criou uma marca internacional, tornou-se estrela de reality TV e ao adquirir vários campos de golfe passou a ser incontornável no mundo da bolinha branca. Mas será que esta sua incursão na política não está a afetar os seus negócios e em particular a condicionar os tours de golfe retirando do circuito importantes campos como Turnberry e o Blue Monster.
A candidatura de Trump continua a demonstrar um vigor surpreendente dada a sua inexperiência, as tiradas politicamente incorretas e a ignorância e insensibilidade demonstradas à medida que foi analisando a atualidade. Tudo começou com os comentários sobre imigração ilegal. Em particular houve uma frase que fez eco: “Quando o México envia o seu povo, eles não estão a enviar o seu melhor. […] Eles estão a trazer drogas. Eles estão a trazer crime. Eles são violadores. E alguns, presumo, são boas pessoas.”
Mais recentemente com o agravamento da crise dos refugiados Sírios, Trump optou por um discurso inflamatório defendendo o “fecho total e completo da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos” e avisando os refugiados Sírios de que, caso ele ganhe, serão deportados.
Apesar de liderar nas sondagens para as primárias republicanas a probabilidade de Trump ganhar as presidenciais é baixa. A questão que se coloca é que feridas serão entretanto abertas e quanto tardarão a sarar. Trump desvaloriza o impacto da campanha nos seus negócios mas já sofreu uma série de embates. A questão dos insultos aos mexicanos levou o canal de televisão Univision a cancelar a emissão dos concursos Miss Universo, Miss USA e Miss Teen USA, detidos por Trump. Para além disto, a Univision, em conjunto com a Câmara de Comercio Hispânica, lideram um movimento de boicote a todas as empresas e produtos Trump.
Em Nova Iorque, a cidade de Donald, o presidente da Câmara anunciou uma revisão dos contratos com a organização Trump e os armazéns Macys cancelaram a linha de roupa com o nome do magnata. A NBC também não ficou indiferente e anunciou que Trump não voltará a apresentar o programa, The Apprentice, que o tornou famoso junto do público generalista.
Com o despertar dos comentários anti-islâmicos de Trump vieram outras reações. O grupo Landmark retirou a linha de mobília de Trump das suas lojas no Médio Oriente, em África e no Paquistão e letreiros com o nome do candidato foram temporariamente retirados do Akoya, um empreendimento de golfe em construção no Dubai.
O império Trump revolve à volta do imobiliário e nesse sentido fez uma grande aposta em campos de golfe de topo. Mas nem esta indústria, conservadora por natureza, conseguiu manter-se à margem do furacão politico que é Trump.
Num primeiro momento, quando Trump disse numa entrevista que a indústria do golfe “sabe que eu estou certo” a PGA of America, o LPGA Tour, o PGA Tour e a USGA foram obrigadas a demarcar-se num comunicado sem precedentes que dizia: "Sentimo-nos obrigados a esclarecer que os comentários [de Trump] não refletem os pontos de vista das nossas organizações […] e são inconsistentes com o nosso forte compromisso com um ambiente inclusivo e de boas-vindas no golfe.”
Pouco tempo depois foi cancelado o PGA Grand Slam of Golf, agendado para Outubro deste ano no Trump National Golf Club em Los Angeles. Muito embora a PGA tenha citado outras razões para o cancelamento, este não deixou de ser visto como um significativo distanciamento do candidato presidencial. Entretanto, este mês, a PGA indicou que após a conclusão do, já contratualizado, 2016 WGC-Cadillac Championship no Trump National Doral, irão considerar outros locais para realizar o torneio. Uma vez mais as razões não foram concretizadas mas a decisão não será despiciente uma vez que se trata de romper uma relação iniciada em 2007.
Deste lado do Atlântico as tomadas de posição também não se fizeram esperar, em particular no Reino Unido onde há uma petição pública com mais de 500.000 assinaturas para proibir a entrada do magnata no país. O Trump International Golf Links em Aberdeen estava na calha para receber o Scottish Open e o Trump Turnberry, o icónico British Open. Mas parece que o European Tour e o R&A não vão dar a Trump a oportunidade de entregar o Claret Jug e de cimentar o seu nome na história do jogo. Pelo menos não nos tempos que se avizinham.
Numa indústria que há muito é conotada com elitismo, sexismo e outros “ismos”, a batalha para mudar a opinião pública tem sido longa. A democratização da modalidade é um assumido objetivo da indústria e a abertura de St. Andrews e de Augusta a mulheres virou uma importante página na história da modalidade. Sendo assim, é natural que estes se queiram distanciar das posições de Trump e é provável que o distanciamento continue a causar mossa no seu império e a afastar os tours de importantes campos.
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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque