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Estava dada…
Crónica

Sobre um caso que gerou burburinho nas redes sociais e por arrasto nas publicações online de golfe

A final do US Girls Junior Championship gerou todo um burburinho nas redes sociais e por arrasto nas publicações online de golfe. Tudo por causa de um putt que não teve tempo de ser concedido. 

O caso é simples e visto a frio não levanta qualquer questão do ponto de vista das regras. As jogadoras Moon e Shepherd estavam em play-off depois de empatarem a volta. Ambas colocaram a terceira pancada no green – Shepherd ficou com um putt longo para birdie e Moon a uma distância muito acessível. Como era previsível Shepherd falhou e acabou por fazer par deixando a porta aberta a Moon. Mas a pressão era muita e a jovem falhou, deixando a bola à beira do buraco. 

O problema surge quando Moon imediatamente puxa a bola para traz para repetir o putt. É um ato instintivo que acontece muito em jogos entre amigos.  No entanto em torneio (match play) as regras são claras: a bola tem que entrar no buraco ou ser concedida. Não tendo ocorrido nenhum dos dois, os árbitros tiveram razão em atribuir o buraco e a vitória a Shepherd. Note-se que esta ainda tentou conceder o buraco, mas a árbitra foi peremptória ao dizer que não é permitido fazê-lo depois do facto. 

Nenhuma das jovens merecia este desfecho. Mas sendo a regra clara, a única coisa que dali deveria ter saído era a lição de que no golfe não há lugar para expressões do género “estava dada.” Ou está ou não está - o pretérito imperfeito não se aplica.  

Mas os cibernautas não resistiram a tanto drama e as redes explodiram. Foi impressionante a quantidade de ataques dirigidos a uma jovem de 15 anos. A tese mais badalada foi que Shepherd demonstrou falta de desportivismo. No entanto o argumento não colhe porque pressupõe que se pode quebrar as regras quando é simpático fazê-lo. Recorrendo a outro desporto para exemplificar: desportivismo não é dizer que a bola do adversário está dentro quando estava fora; desportismo é emprestar-lhe uma raquete sobressalente quando ele parte as cordas. 

Como era de esperar, o tema ressuscitou a celeuma da Solheim Cup de 2015 quanto Suzane Pettersen disse que não tinha concedido um putt às americanas. Mas há diferenças importantes entre os casos. Nesse, Alison Lee afirmou que pensava que o putt havia sido concedido e Charley Hull contribuiu para o desentendimento quando virou costas antes de Lee ‘puttar’. 

O golfe tem regras arcaicas, difíceis de descortinar e em certos casos contra-intuitivas, mas esta não é uma delas. Poderemos até discutir se em match play também deve ser obrigatório acabar sempre o buraco. No entanto o que se passou foi uma algazarra sobre o que poderia ter sido e isso já são divagações que não têm lugar em competição.

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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque

** Esta crónica foi originalmente publicada no suplemento de golfe do Público de Setembro

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