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O golfe nos Jogos Olímpicos
Crónica

Vale a pena relembrar a história atribulada que a modalidade teve neste fórum

O golfe será uma das novidades dos Jogos Olímpicos de 2016, no entanto, a inclusão não tem sido isenta de celeuma. Para além dos problemas com as infraestruturas, que depois do que se passou com os estádios da Copa do Mundo mal chegam a ser notícia, estão as questões desportivas. Estas prendem-se com temas como se o formato é o ideal, se deveriam ser amadores a jogar em vez dos habituais profissionais e quais os impactos de um novo torneio na fase quente do calendário profissional. 

Mas antes de discutir os pros e os contras do golfe olímpico vale a pena relembrar a história atribulada que o golfe teve neste fórum. Isto porque 2016 não será a primeira vez que o golfe constará da lista de modalidades Olímpicas. Este marcou presença nos primórdios dos jogos modernos tendo sido incluído nas edições de 1900, em Paris, e 1904, em St. Louis. No entanto, em ambos os casos os organizadores tiveram pouco êxito na divulgação do evento e consequentemente no recrutamento de participantes. 

Naqueles tempos os Jogos não tinham a importância ou o mediatismo dos dias que correm e eram quase um sideshow para atrair pessoas para as Exposições Mundiais que decorriam em simultâneo. Em Paris, por exemplo, os eventos foram espaçados ao longo de 6 meses e o nome dado à competição foi “Championnats Internationaux.” 

Tão poucas inscrições houve que Margaret Abbot e a sua mãe que estavam na Europa, para estudar pintura com o Mestre Edgar Degas, foram recrutadas à última da hora e ficaram respectivamente em primeiro e sétimo lugares. No entanto a confusão era tanta que a primeira mulher americana a receber o ouro olímpico nunca se apercebeu do seu lugar na história. Na verdade o prémio foi uma taça e não uma medalha mas a mística mantém-se. Do lado masculino a competição também não foi intensa e o torneio foi ganho pelo americano Charles Sands, que começara a jogar apenas 5 anos antes. 

Os Jogos de St. Louis também não correram da melhor forma. Inscreveram-se 77 jogadores dos quais 74 americanos e 3 Canadianos. Por outro lado, o evento feminino foi substituído por um de equipas masculinas sendo que apenas se inscreveram locais. Mas apesar de serem favoritos os americanos sucumbiram, em singulares, perante o canadiano George Lyon, que à semelhança de Sands também se havia convertido ao golfe poucos anos antes do feito. Lyon, que fora um grande jogador de críquete, distingiu-se também por se ter dirigido ao pódio a fazer o pino. 

Estava previsto que o golfe estivesse presente nos jogos de 1908, em Londres, mas devido a uma disputa entre o Royal & Ancient Golf Club of St. Andrews (R&A) e o recém-formado Comité Olímpico Britânico os jogadores da casa retiraram as inscrições e esvaziaram o field. O evento foi assim cancelado e os organizadores quiseram oferecer uma medalha simbólica a Lyon, que havia feito a longa viagem desde Toronto, mas este recusou. 

Nos Jogos de 1912, em Estocolmo, o golfe não foi considerado e em 1916 a guerra levou ao seu cancelamento. Em 1920, nos Jogos de Antuérpia, verificou-se nova tentativa frustrada e o golfe foi arredado de vez quando, em 1921, o Comité Olímpico Internacional (COI) acordou regras mais estritas para a inclusão de modalidades. As condições eram, por um lado, que este fosse praticado de forma generalizada em pelo menos 40 países e três continentes, e por outro, que o desporto fosse regido a nível mundial por uma única entidade. Foi este segundo ponto que gerou problemas uma vez que nem o USGA nem o R&A preenchiam o requisito.  

Num texto que aborda a história do golfe olímpico não podemos deixar de referir o Grande Prémio de Golfe das Nações que teve lugar na semana após os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. O torneio foi jogado em quatro voltas de stroke play a pares. De 36 países convidados a participar apenas 6 aceitaram, o que demonstra a sensibilidade política da época. 

A intenção dos organizadores era, à semelhança dos Jogos Olímpicos, demonstrar a superioridade germânica. Tudo parecia correr bem para a máquina de propaganda Nazi uma vez que após as primeiras duas voltas o par alemão liderava por 3 pancadas. Tão confortáveis se sentiram os dirigentes que, reza a historia, Hitler fez-se à estrada de maneira a chegar à vila de Baden-Baden a tempo da entrega de prémios. 

É possível que esta repentina decisão tenha tido algo a ver com as vitórias de Jessie Owens e os seus parceiros de equipa em Berlim. Owens triunfara ao ganhar 4 medalhas de ouro e Hitler, que recusara cumprimentar o vencedor do salto em altura, Cornelius Johnson, havia sido informado pelo COI que teria de cumprimentar todos os atletas ou nenhum. Perante isto o Führer viu-se forçado a estar ausente nas entregas de prémios dos seus Jogos. 

No entanto Hitler acabou por não chegar a Baden-Baden tendo dado meia volta e regressado à capital quando foi informado que os ingleses Tommy Thirsk e Arnold Bentley haviam recuperado a diferença. Com duas extraordinárias voltas finais os ingleses ganharam o troféu que ficou conhecido como a Taça Hitler. Em segundo lugar ficou a equipa francesa e em terceiro, depois de uma última volta complicada, ficaram os alemães. 

E assim chegamos a 2009, ano em que o COI decidiu dar uma nova oportunidade ao golfe olímpico com participações nos Jogos de 2016 e 2020. No seguimento destes dois eventos o COI irá rever o tema e decidir sobre a manutenção, ou não, do golfe como desporto olímpico. 

Mas até lá antevejo muita discussão sobre temas como: o movimento Occupy Golf, que está há dois meses acampado à porta do campo em protesto pela destruição de uma zona protegida. Ou se não faria sentido aplicar um formato de equipas para diferenciar os Jogos Olímpicos de todos os outros torneios da época regular e assim tentar reproduzir um pouco do espírito Ryder Cup. 

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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque

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