Diz quem é do contra que a modalidade não passa de um tranquilo passeio
Quantos golfistas terão discutido com amigos provocadores se o golfe é ou não um desporto. Diz quem é do contra que este não requer qualidades atléticas porque se trata de um tranquilo passeio entre paisagens verdejantes. Mas eu não estou tão certo.
Comecemos por analisar a definição da ambígua palavra “desporto” no dicionário da Porto Editora: “Exercício físico praticado de forma metódica, individualmente ou em grupo, e com diversos objetivos (competição, recreação, terapia, etc.)”. Se ficássemos por aqui diria que o golfe cumpre com os requisitos. Mas aprofundemos o que queremos dizer quando usamos a palavra e resumamos os argumentos mais empregues por ambos os lados.
Os proponentes dizem que o golfe requer esforço físico, coordenação e é reconhecido como tal por empresas como a Nike. A inclusão do golfe nos Jogos Olímpicos de 2016 vem reforçar este argumento que na essência se baseia numa perceção genérica por parte da sociedade. Já os detratores dizem que se pode jogar golfe com reduzida atividade física e apontam o dedo a jogadores profissionais anafados.
Na minha opinião, para uma atividade ser considerada um desporto tem que ter cumulativamente três componentes: competição, exercício físico e destreza técnica. Não tendo as três será um jogo ou uma atividade. A título de exemplo diria que o ballet ou o ioga requerem destreza e força mas não contemplam competição pelo que serão atividades. O xadrez, por outro lado, tem competição mas não requer exercício físico ou destreza técnica pelo que será um jogo. Temos ainda exemplos como dardos que requerem destreza e envolvem competição mas não deixam de ser jogos por faltar a componente de exercício físico.
Sendo assim, a essência da discussão prende-se com a pergunta: a partir de quanta atividade é que consideramos que se está a fazer exercício? Aqui aproveito para indicar que, para mim, usar buggie refuta a essência do golfe. E as regras sustentam este entendimento – que o diga Edoardo Molinari após a desqualificação no Shenzhen International por não ter contado a penalidade de duas pancadas incorrida quando o caddie apanhou boleia entre o buraco 9 e o 10.
Tentemos então desmistificar o argumento de que o golfe não requer exercício físico. Segundo a calculadora de calorias do site ProHealth, quatro horas de golfe (volta típica) queima 1268 calorias. Por comparação, uma hora de ténis ou de futebol (jogo típico) queima cerca de 560 calorias. Se tivermos em conta que o típico torneio de golfe profissional são quatro voltas podemos deduzir que os jogadores têm que estar em boa forma para chegarem frescos ao green do buraco 72.
A verdade é que o golfe não mata mas mói. Um indício deste ponto é o facto de que a nova geração tem estado a seguir a tendência do fitness lançada por Gary Player e mediatizada por Tiger Woods. Neste sentido, julgo que na nova geração a exceção será o Marshmallow Man, Patrick Reed, e não o He-Man, Rory McIlroy (capa da revista Men’s Health em Abril).
Ultrapassada a questão do exercício físico é de salientar a importância da fortaleza psicológica. Que o diga, Rob O’Neil, o SEAL que, segundo consta, matou Osama bin Laden. Em entrevista ao New York Post, O’Neil disse que “o golfe é mais stressante que combate.” Foi sem dúvida uma brincadeira mas onde há fumo há fogo e a verdade é que o golfe é um dos mais intensos desportos a nível mental.
A destreza é também uma das principais atrações da modalidade. Não será mera coincidência que reis das respetivas modalidades como Michael Jordan, Michael Phelps, Pete Sampras, Kelly Slater ou Luís Figo escolhem o golfe como hobby. A verdade é que mesmo para um dotado atleta é desafiante caminhar 10 kms por montes e vales, a carregar um saco de 10 kgs e com ritmo suave e pausado repetir um movimento milimétrico cerca de 100 vezes.
Embora o golfe não requeira tanta força quanto outras modalidades requer coordenação, concentração contínua, endurance e a capacidade de lidar sozinho com níveis de pressão altíssimos. Neil Wolkodoff, director do Colorado Center for Health & Sport Science, concorda ao sublinhar “que o swing de golfe usa quase todos os grupos musculares do corpo […] e uma quantidade significativa de energia.”
Em jeito de conclusão diria que o golfe é, de facto, um desporto mas não é certamente o único que deve praticar se pretende ficar “em forma.” Aliás, quem joga deve complementar o driving range com o ginásio para evitar lesões e porque sem preparação física está implicitamente a limitar a própria evolução.
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*Gestor e sócio fundador do clube de golfe Tigres do Bosque